Economia criativa blindou setor cultural de crises, diz Sérgio Sá
Para o ministro, Poder Público, iniciativa privada e sociedade deveriam observar a cultura como um ativo econômico
Agência Brasil
Publicado em 10 de maio de 2018 às 10h53.
Última atualização em 10 de maio de 2018 às 11h01.
Em reuniões políticas em Lisboa, o ministro da Cultura , Sérgio Sá Leitão, concedeu entrevista exclusiva à Agência Brasil. Para Sérgio Sá, a chamada "economia criativa" blindou a cultura dos impactos das últimas crises econômicas vividas no Brasil e também dos reflexos do que ocorre no exterior. "A economia criativa, esse campo que é formado pelas atividades culturais e criativas, cresceu a uma taxa quase chinesa nos últimos 5 anos."
Sérgio Sá afirmou que o crescimento médio do setor cultural entre 2012 e 2016 foi de 9,1%. Segundo ele, há um potencial de, nos próximos 5 anos, crescer a uma taxa média anual de 4,6%, bastante superior à estimativa para a média do conjunto da economia brasileira. A projeção para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) é de 2,7% para este ano, segundo o Boletim Focus do Banco Central.
Ativo potencial
Para Sérgio Sá, Poder Público, iniciativa privada e sociedade deveriam observar a cultura como um ativo econômico. "É um setor que hoje responde por 2,64% da economia brasileira, gera mais de um milhão de empregos diretos, mais de R$ 10,5 bilhões em impostos só em nível federal, [abarca] mais de 200 mil empresas e instituições", defendeu.
Como exemplo, o ministro cita o carnaval do Rio de Janeiro. "O Poder Público investiu cerca de R$ 25 milhões. Só de arrecadação de impostos foram R$ 179 milhões. É um bom negócio para o Estado, porque o que ele investe retorna multiplicado na forma de arrecadação de impostos por meio da mobilização de toda uma cadeia de valor".
Manual
Em março, o Ministério da Cultura lançou o Manual de Exportação de Bens e Serviços Culturais do Brasil para estimular empreendedores a expandir seus negócios para o mercado global. De acordo com Sérgio Sá, a iniciativa rende resultados.
"Identificamos que há um potencial de exportação não aproveitado em vários segmentos e uma das razões é que as empresas, sobretudo as pequenas e médias, não têm ideia de como fazer. Então, fizemos um passo a passo das etapas a serem vencidas: os obstáculos, as burocracias, como mandar dinheiro para fora, como receber, como operar a legislação tributária que a gente tem - e que às vezes é um impeditivo para o desenvolvimento das atividades econômicas no nosso país", disse.
Para o ministro, os brasileiros tradicionalmente têm se voltado para o mercado interno. "Temos participado pouco da arena global. Esse manual é para o empreendedor cultural que queira se internacionalizar", afirmou.
Direitos Autorais
Sérgio Sá ressaltou a importância de estabelecer uma secretaria dentro do Ministério da Cultura destinada exclusivamente aos direitos autorais. "O direito autoral, apenas na música no Brasil, movimenta cerca de R$ 1,2 bilhão. É um volume muito grande", disse. "Temos cerca de 260 mil pessoas que são remuneradas pela arrecadação de direitos autorais. E só temos isso consolidado no caso da música, precisamos ter no audiovisual e em outras áreas."
Em 2013, o Congresso Nacional fez modificações na legislação que rege os direitos autorais concedendo ao Ministério da Cultura um papel regulatório. "Papel esse que o ministério, na minha visão, não exerce adequadamente justamente pela ausência de um locus institucional à altura". De acordo com Sérgio Sá, a criação de uma secretaria específica não implicará na abertura de novos cargos, mas dará agilidade ao setor.
"O próximo passo, eu diria, é buscar um acordo em relação ao direito autoral nos serviços digitais, como Youtube, Facebook, Itunes Store, plataformas de vídeo on demand", disse o ministro.
Lei Rouanet
Ao analisar a Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet, o ministro afirmou que o governo conseguiu desburocratizá-la. "A gente procurou tornar o funcionamento da lei mais eficiente, reduzimos a burocracia, ampliamos o acesso, tiramos uma série de barreiras que existiam para novos proponentes [produtores], tornamos a lei mais atraente para os patrocinadores."
Em 27 anos, o governo federal investiu R$ 16,5 bilhões apoiando cerca de 51 mil projetos culturais. Para Sérgio Sá, a lei é vista como mecanismo de ajuda a artistas. "Ela funciona exatamente como a Zona Franca de Manaus ou incentivos fiscais para o agronegócio, para a indústria automobilística. É um incentivo fiscal para a indústria criativa".
Agenda
Sérgio Sá visitou Lisboa para cumprir uma agenda para promover a cultura brasileira e estabelecer cooperação com Portugal em diversas áreas. Em Cascais, ele participou do Horasis Global Meeting, um encontro com lideranças empresariais e chefes de Estado de todo o mundo para debater o futuro sustentável. Ele se reuniu com o ministro da Cultura de Portugal, Luis Filipe Castro Mendes, para debater iniciativas culturais que englobam os países de língua portuguesa.
Portugal e Brasil fizeram parcerias, como o Prêmio Camões, o maior de língua portuguesa para literatura. A premiação será entregue em setembro, no Rio de Janeiro. Haverá ainda a abertura de uma exposição sobre Dom João VI, que integra a programação do bicentenário da independência do Brasil - em 2022, mas a temporada de celebração começa este ano.
Sérgio Sá citou as celebrações do bicentenário: uma sobre os estadistas do Império, que ocorrerá na Biblioteca Nacional, e outra sobre a rainha Dona Maria II, no Museu Imperial.
Cooperação
Nas negociações de cooperação, estão o programa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) Audiovisual, que reúne nove países na produção de documentários para televisão, como forma de estímulo à circulação de conteúdos. Integram a CPLP: Angola, Brasil, Cabo Verde, Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Timor-Leste.
"Vamos, em maio, investir R$ 5 milhões [no programa CPLP Audiovisual]. Portugal já investiu 1 milhão e 200 mil euros e, com isso, vamos realizar nova edição do programa DOC TV. É uma chamada pública que envolve todos os países, mas o grosso do dinheiro é de Brasil e Portugal", afirmou o ministro.
"Também acordamos sobre um festival de arte de países de língua portuguesa, que será realizado alternadamente, um ano no Brasil e outro em Portugal. Eu apresentei a proposta, desenvolvida por nós, e foi bem recebida e acatada pelo governo português. Agora a gente vai dar os passos práticos. Será majoritariamente bancado pelos dois países [Brasil e Portugal], mas aberto à participação de todos da CPLP e engloba música, artes cênicas, artes visuais, cinema e literatura. A ideia é que esse festival possa ser uma plataforma de promoção e difusão da produção artística e cultural dos países de língua portuguesa".