Economia

Economia aplicada ao cotidiano é tema de <I>Freakonomics</I>

Economista Steven Levitt e jornalista Stephen Dubner apontam desde os riscos maiores de uma criança morrer afogada numa piscina do que alvejada por uma arma de fogo até a relação entre legalização do aborto e queda da criminalidade.

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h39.

Leia trechos do livro que ocupa o segundo lugar da lista dos mais vendidos do The New York Times:

O que mata mais crianças: piscinas ou armas de fogo?

Separar os fatos das crendices é um trabalho duro, especialmente para um pai ocupado. E o ruído feito pelos especialistas infantis é tão perturbador, que os pais mal conseguem pensar por si próprios.

Considere os pais de uma menina de oito anos chamada Molly. Os melhores amigos dela, Amy e Imani, moram perto. Sabendo que os pais de Molly têm uma arma em casa, os pais de Molly proibiram-na de brincar lá. Então, Molly passa um bom tempo na casa de Imani, que tem uma piscina no quintal. Os pais de Molly se sentem satisfeitos por terem tomado uma sábia decisão em proteger a filha.

Mas de acordo com os dados disponíveis, tal decisão não tem nada de sábia. A cada ano, uma criança morre afogada para cada 11 000 piscinas americanas. Num país com seis milhões de piscinas, isso significa cerca de 550 crianças com menos de dez anos de idade afogadas por ano. Enquanto isso, a cada ano, uma criança é morta vítima de uma arma de fogo para cada milhão de armas de fogo. Num país com cerca de 200 milhões de armas de fogo, isso significa que 175 crianças com menos de dez anos morrem vítimas de armas a cada ano. A probabilidade de morte numa piscina (1 em 11 000) versus a de morte por arma de fogo (1 em mais de um milhão) é muito distante: Molly tem cerca de cem chances a mais de morrer vítima da natação na casa de Imani do que vítima de uma arma na casa de Amy.

Onde foram parar todos os criminosos?

No começo dos anos 90, justamente quando a primeira leva de crianças nascidas após a legalização do aborto nos Estados Unidos entrava na adolescência nos anos em que os jovens costumam cometer seus primeiros crimes a criminalidade começou a cair. E ela continuou a cair à medida em que toda essa geração se tornou adulta, sem a companhia daqueles cujas mães fizeram aborto.

Talvez seja mais confortante acreditar no que os jornais dizem, que a queda no crime se deveu ao policiamento eficiente, controle de armas e à expansão econômica.

Uma maneira de testar o efeito do aborto sobre a criminalidade seria comparar as estatísticas dos cinco estados em que o aborto já era legal antes da decisão da Suprema Corte que em 1973 o estendeu para o resto do país com a realidade nacional.

Em Nova York, Califórnia, Washington, Alasca e Havaí, uma mulher poderia ter um aborto legal pelo menos dois anos antes da decisão da Suprema Corte. E, de fato, tais estados começaram a ver a queda na criminalidade acontecer antes dos demais 45 estados e do Distrito de Columbia. Entre 1988 e 1994, o crime violento naqueles cinco estados caiu 13% em comparação aos demais estados; entre 1994 e 1997, suas taxas de assassinato caíram 23% a mais do que nos demais estados.

Na maioria dos casos, a mulheres que praticavam aborto eram adolescentes, solteiras e pobres. Em outras palavras, os mesmos fatores que levaram milhões de mulheres americanas a fazerem aborto, também pareciam predizer que os seus filhos, se tivessem nascido, teriam tido uma vida infeliz e possivelmente criminosa.

Incentivos:

As ciências econômicas são, na raiz, o estudo dos incentivos: como as pessoas conseguem aquilo que querem, ou necessitam, especialmente quando outras pessoas querem ou necessitam as mesmas coisas. Os economistas amam os incentivos. Eles adoram brincar e sonhar com eles, representá-los e estudá-los. Um típico economista acredita que o mundo ainda não inventou um problema que ele não seja capaz de resolver, uma vez que ele tenha a liberdade de criar o programa certo de incentivos. Sua solução pode até não ser sempre bonita ela pode envolver a coerção, multas exorbitantes ou a violação das liberdades civis mas o problema inicial, esteja certo, será resolvido. O incentivo é uma bala, uma alavanca ou uma chave: quase sempre um objeto minúsculo com um poder assombroso de mudar uma situação.

Através de uma complicada e acidental teia de incentivos econômicos, sociais e morais, a sociedade moderna faz o melhor que pode para lutar contra o crime.

Homicídios (por 100 mil pessoas)
 
Inglaterra
Alemanha e Suíça
Itália
Séculos XIII e XIV
23
37
56
Século XV
Não disponível
16
73
Século XVI
7
11
47
Século XVII
5
7
32
Século XVIII
1,5
7,5
10,5
Século XIX
1,7
2,8
12,6
1900-1949
0,8
1,7
3,2
1950-1994
0,9
1
1,5
Fonte: Freakonomics e Manuel Eisner

Experts:

Armados de informação, os experts podem exercer uma pressão gigantesca: medo. O medo de que os seus filhos te encontrem morto no chão do banheiro se você não se submeter a uma angioplastia. Medo de que um caixão barato venha a amaldiçoar a sua avó debaixo da terra. Medo de que um carro de 25 000 dólares se despedace feito um brinquedo, enquanto um carro de 50 000 dólares envolverá sua família num impenetrável casulo de aço. O medo criado por experts em comércio segue o mesmo princípio daquele criado por terroristas como a Ku Klux Klan.

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