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"Dr. Desastre", Roubini não espera recessão nem crise global

"Não espero uma recessão global ou uma crise financeira", disse em Davos o economista tradicionalmente conhecido pelo pessimismo

Nouriel Roubini, economista turco-americano conhecido como "Dr. Desastre" (Evan Kafka/EXAME.com)

João Pedro Caleiro

Publicado em 22 de janeiro de 2016 às 06h00.

São Paulo - "Não espero que seja 2008 de novo. Não espero uma recessão global ou uma crise financeira".

Acredite se quiser, estão palavras são de Nouriel Roubini , economista americano nascido na Turquia e professor da NYU (New York University).

Um dos poucos a prever a crise de 2008, Roubini se tornou conhecido como "Dr. Desastre" (Dr. Doom em inglês) por geralmente estar do lado dos pessimistas.

Em junho, ele estava preocupado com bolhas. Agora, não vê crises já formadas, como deixou claro em entrevista para Henry Blodget, do Business Insider, durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.

Ele acredita que a volatilidade dos mercados neste início de ano é baseada em grande parte no medo que a China desacelere demais e perca o controle sobre sua moeda e seu mercado de ações.

"Minha visão é que a China terá um pouso atribulado e não forçado, com crescimento neste ano de 6% indo para 5%. Aqueles que dizem que é 4% indo para zero, acho que estão errando. Não percebem que o setor de serviços está crescendo numa velocidade muito mais rápida do que o setor de manufatura".

Outros riscos significativos que Roubini cita são o crescimento fraco nos Estados Unidos, a queda dos preços de petróleo e a confusão no Oriente Médio com o conflito entre Arábia Saudita e Irã.

Isso sem falar em tudo que pode dar errado em uma Europa que enfrenta terrorismo, crise de refugiados, a possibilidade de saída do Reino Unido da União Europeia e a ressaca generalizada com processos sucessivos de austeridade e resgate.

"Então de repente o mercado está ficando nervoso e faz uma correção. Se essa correção vai virar mesmo um mercado "bear" [com queda de preços] depende se estes choques são mais ou menos persistentes, primeiro, e segundo da resposta das políticas".

Roubini gostaria de ver uma política monetária mais relaxada nos bancos centrais da Europa, Japão e China, além de uma sinalização clara pelo Federal Reserve de que vai esperar mais para aumentar os juros novamente.

Nem todos os participantes de Davos compartilham dessa visão. O megainvestidor George Soros, por exemplo, está menos otimista com a China, como disse em entrevista para a Bloomberg:

"Um pouso forçado é praticamente inevitável. Não é algo que eu esteja esperando, é algo que eu estou observando".

Outros participantes se mostraram preocupados com o aperto na liquidez e com falta de arsenal dos bancos centrais para responder aos desafios de forma adequada.

São Paulo - A China revelou hoje os seus aguardados números de crescimento em 2015. A taxa final ficou em 6,9%: a menor em 25 anos, mas dentro do que esperavam os analistas - e de forma um tanto suspeita, exatamente na meta do governo. Como os chineses só andavam dando más notícias desde que o ano começou, o mercado reagiu com modesto otimismo, até porque há uma perspectiva de que o governo responda com mais estímulos econômicos. A China ganhou uma importância gigantesca nas últimas décadas. É a maior economia do mundo em paridade de poder de compra e a segunda em valores nominais, além do maior ator comercial e consumidor de commodities do planeta.  Veja o que está acontecendo com a economia chinesa e porque isso importa para o mundo:
  • 2. Crescimento do investimento em ativos fixos

    2 /5(Escritório Nacional de Estatísticas da China)

  • Veja também

    Os dados de investimento tem duas facetas. Por um lado, é clara a queda do patamar de crescimento (de 15% em 2014 para 10% em 2015) e isso empurra toda a economia para baixo. Na China, o investimento tem um peso forte e totalmente fora do padrão mundial: mais de 40% do PIB, quando na maioria dos emergentes é de cerca da metade disso. Por outro lado, todo mundo concorda que a China não quer e nem poderia continuar dependente de investimento pesado para crescer, até porque os retornos tendem a ser decrescentes.
  • 3. Produção de cimento

    3 /5(Escritório Nacional de Estatísticas da China)

  • De acordo com um relatório recente do banco Credit Suisse, "há uma popularidade crescente da 'economia de oferta' entre os fazedores de decisão em Beijing. Apesar disso ser positivo no longo prazo, é negativo para o crescimento no curto prazo". As consequências do foco em eliminar o excesso de capacidade industrial são "redução do inventário imobiliário e desalavancagem financeira. Isso está acontecendo e plantas de aço, fábricas de cimento e minas de carvão estão sendo fechadas". É o que ilustra a imagem.
  • 4. Produção industrial de grandes empresas

    4 /5(Escritório Nacional de Estatísticas da China)

    O crescimento anualizado da produção industrial chinesa caiu dois pontos percentuais em dezembro de 2015 em relação ao balanço de 2014, uma desaceleração. Isso já vinha sendo apontado pelos Índices de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) e é uma das preocupações dos mercados globais, já que a China responde por um terço da produção industrial do mundo (contra 5% em 1990). A esperança é que outros setores ocupem o espaço que a indústria está deixando: o chamado "rebalanceamento", que emite sinais contraditórios. A renda per capita disponível dos chineses cresceu 7,4% no ano e o setor terciário cresceu mais de dois pontos percentuais e passou dos 50% do PIB. Já as vendas do varejo cresceram 10,7% - um numero respeitável, porém menor do que os 12% de 2014.
  • 5. Produção de aço

    5 /5(Escritório Nacional de Estatísticas da China)

    Um estudo da OCDE de fevereiro de 2015 já notava que a indústria do aço estava produzindo em um nível de apenas 77% da sua capacidade. Com os números de hoje, tudo indica que a questão deve ter piorado ainda mais. De acordo com o Credit Suisse, 2016 pode marcar o início de fechamentos e demissões no setor: "praticamente todas as plantas de aço estão operando com perdas com os preços atuais, e um corte voluntário da produção para segurar as exportações parece improvável".
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