Economia

Dólar 'Coldplay', 'Luxo' e 'Qatar' aumentam lista do câmbio na Argentina

Criado para a Copa do Mundo, o "dólar Qatar" será aplicado ao consumo em dólares com cartões de crédito e débito, pacotes turísticos e passagens acima de US$ 300

Rachel de Sá, economista-chefe da Rico, avalia que as diferentes taxas de câmbio na Argentina refletem os problemas da economia local, e que essas medidas só funcionam no curtíssimo prazo (LUIS ROBAYO/Getty Images)

Rachel de Sá, economista-chefe da Rico, avalia que as diferentes taxas de câmbio na Argentina refletem os problemas da economia local, e que essas medidas só funcionam no curtíssimo prazo (LUIS ROBAYO/Getty Images)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de outubro de 2022 às 10h19.

Em uma nova tentativa de evitar a fuga de dólares, a Argentina criou mais três cotações para a conversão de pesos argentinos para a moeda americana, chamadas "dólar Coldplay", "dólar Qatar" e "dólar Luxo". Ao todo, hoje são pelo menos 14 cotações diferentes para o dólar no país. Uma recente reportagem da agência EFE, no entanto, apontava que o número pode ser ainda maior, contando opções quase nunca usadas. O total poderia chegar a 30 variedades diferentes de "dólar".

Criado para a Copa do Mundo, o "dólar Qatar" será aplicado ao consumo em dólares com cartões de crédito e débito, pacotes turísticos e passagens acima de US$ 300, a uma taxa de câmbio de 300 pesos argentinos por unidade. Já o "dólar Coldplay" vale cerca de 204 pesos, taxa de câmbio mais cara do que a aplicada no pagamento de importação de serviços. O "dólar Luxo", usado para compra de artigos de luxo importados, terá a mesma cotação do "dólar Qatar".

Segundo Alexandre Jorge Chaia, professor do Insper, as diferentes cotações do dólar na Argentina são uma forma de o governo criar impostos sem chamá-los de impostos. "Para não criar impostos, o governo da Argentina cria preços diferentes para o dólar para impedir a saída massiva de dólar para o que considera supérfluo", explica o especialista.

Chaia frisa que isso afeta o crescimento da economia argentina, por causa de restrições e regras que abrem espaço para subornos e preferências, dificultando a comercialização de produtos e serviços. "Todo esse cenário estimula a troca pelo dólar blue (câmbio paralelo) ou faz com que os argentinos viajem ao Uruguai para sacar dólar", diz.

Chaia afirma ainda que essa forma para segurar o dólar no país não é eficaz. "Essas medidas são muito mais exóticas do que práticas. É como tentar segurar a água com as mãos. O mundo é global e as pessoas vão encontrar saídas."

Rachel de Sá, economista-chefe da Rico, avalia que as diferentes taxas de câmbio na Argentina refletem os problemas da economia local, e que essas medidas só funcionam no curtíssimo prazo e ainda podem levar turistas a buscar o câmbio paralelo.

"O dólar blue é olhado pelo brasileiro porque o real vale mais (em comparação ao peso). O paralelo reflete o valor real da moeda mais uma taxa. Esse valor é muito mais baixo do que o valor oficial, o que leva as pessoas a esse mercado para fazer troca", diz.

Por conta disso, brasileiros que vão à Argentina a lazer ou se mudam para lá para serem nômades digitais passam a ter dias de riqueza no país por causa da melhor cotação do real perante o dólar.

"Por exemplo, em 13 de outubro um dólar equivalia a 157,25 (pesos) na cotação oficial, já no mercado paralelo um dólar equivalia a 291, uma diferença de 85%", afirma Celso Pereira, diretor de investimentos da startup de contas internacionais Nomad.

Porém, por não ter uma fiscalização, há uma maior volatilidade e riscos associados ao dólar blue. O brasileiro deve optar por obter pesos argentinos em estabelecimentos com boa reputação para evitar envolvimento com notas falsas entregues em troca de dólares, aleta Pereira.

Acompanhe tudo sobre:ArgentinaCopa do MundoDólar

Mais de Economia

Presidente do Banco Central: fim da jornada 6x1 prejudica trabalhador e aumenta informalidade

Ministro do Trabalho defende fim da jornada 6x1 e diz que governo 'tem simpatia' pela proposta

Queda estrutural de juros depende de ‘choques positivos’ na política fiscal, afirma Campos Neto

Redução da jornada de trabalho para 4x3 pode custar R$ 115 bilhões ao ano à indústria, diz estudo