Economia

Do petróleo à soja: o Brasil no embate entre EUA e Irã

O país pode sofrer consequências por seu alinhamento automático aos Estados Unidos após a morte de Qassim Soilemani

Soja: Brasil vendeu mais de 2 bilhões de dólares em produtos ao Irã em 2019, com destaque para milho, soja, carne e açúcar (Diego Giudice/Bloomberg)

Soja: Brasil vendeu mais de 2 bilhões de dólares em produtos ao Irã em 2019, com destaque para milho, soja, carne e açúcar (Diego Giudice/Bloomberg)

DR

Da Redação

Publicado em 7 de janeiro de 2020 às 06h32.

Última atualização em 7 de janeiro de 2020 às 10h05.

São Paulo — Como costuma acontecer na geopolítica internacional, a corda estica primeiro do lado mais fraco. E isso não é uma boa notícia para o Brasil. Enquanto os desdobramentos da morte do general Qassim Soilemani continuam para lá de incertos, o país pode sofrer consequências por seu alinhamento automático aos Estados Unidos, responsáveis pela morte do militar.

O Irã convocou a encarregada de negócios do Brasil em Teerã, Maria Cristina Lopes, segundo confirmou o Itamaraty nesta segunda-feira. O embaixador brasileiro no Irã, Rodrigo Azevedo, está de férias. Um dia após o ataque americano, a chancelaria brasileira divulgou uma nota em que disse apoiar “a luta contra o flagelo do terrorismo”, repetindo discurso dos Estados Unidos.

A convocação traz preocupação para exportadores por mais uma vez colocar o Brasil, de gaiato, nas tensões geopolíticas do Oriente Médio. Ano passado a insistência de Jair Bolsonaro em transferir a embaixada em Israel para Jerusalém provocou reações de países árabes. O Brasil vendeu mais de 2 bilhões de dólares me produtos ao Irã em 2019, com destaque para milho, soja, carne e açúcar.

Outro desdobramento possível para o Brasil é o cancelamento da viagem de Bolsonaro ao fórum econômico de Davos, no fim de janeiro, por questões de “segurança”. Ontem, o presidente afirmou que a tendência é de estabilização no preço dos combustíveis, após alta de 3,5% na sexta-feira após o ataque. Ele reuniu autoridades na segunda-feira para discutir possíveis iniciativas para compensar a alta no preço dos combustíveis.

Uma boa notícia: o preço do petróleo abriu em queda nesta terça-feira, após analistas passarem a considerar pouco provável um ataque iraniano a bases de produção e refino porque isso colocaria ainda mais em xeque a economia do país.

Os desdobramentos da morte de Soilemani continuam em aberto. Os Estados Unidos negaram ontem a possibilidade de retirar suas tropas do Iraque, mesmo após comunicado da coalizão militar instalada no país para combater o Estado Islãmico. O líder supremo do Irã, Ali Khamenei, exigiu que a resposta à morte do general seja conduzida diretamente pelas forças militares, e não por grupos terceirizados, usualmente usados pelo país.

Nesta terça-feira parlamentares iranianos aprovaram uma lei que classifica como terroristas todos os militares americanos. Em meio à troca de ameaças quem pode perder é o Brasil, mesmo estando a 12 mil quilômetros de Teerã.

Acompanhe tudo sobre:economia-brasileiraExame HojeIrã - PaísSoja

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor