Recorde da dívida pública representa o impacto brutal da pandemia de coronavírus na economia (Anthony Devlin/Reuters)
AFP
Publicado em 21 de agosto de 2020 às 07h40.
Última atualização em 21 de agosto de 2020 às 07h43.
A dívida pública do Reino Unido ultrapassou, no final de julho, 2 trilhões de libras, um recorde que simboliza o impacto brutal da pandemia de coronavírus em uma economia que tenta se recuperar neste verão boreal.
As finanças públicas britânicas se deterioram em alta velocidade devido ao custo das medidas de apoio à atividade implantadas nos últimos meses para fazer frente às consequências da crise de saúde, em particular dezenas de bilhões de libras para apoiar o emprego com um sistema de desemprego parcial.
A dívida alcançou precisamente 2.004 bilhões de libras no mês passado, 227,6 bilhões a mais do que no ano anterior, anunciou o Escritório Nacional de Estatísticas (ONS).
Em julho, representava mais de 100% do Produto Interno Bruto (100,5%), pela primeira vez desde 1961.
Ao mesmo tempo, a brutal recessão, consecutiva à paralisação da atividade durante semanas, reduziu consideravelmente as receitas fiscais, sem contar os cortes temporários de impostos concedidos a setores frágeis como hotéis e restaurantes.
Consequentemente, o déficit público atinge níveis inéditos, alcançando 150,5 bilhões de libras entre abril e julho. Economistas esperam que exceda 300 bilhões no ano fiscal de 2020-2021 (concluído no final de março).
"A crise colocou uma enorme pressão sobre as finanças públicas, uma vez que a nossa economia é afetada e tomamos medidas para apoiar milhões de empregos e negócios. Sem esta ajuda, as coisas teriam sido muito piores", comentou o ministro das Finanças, Rishi Sunak, em comunicado divulgado nesta sexta-feira.
Ele alertou que, para colocar as finanças públicas nos trilhos, serão necessárias "decisões difíceis", sem maiores detalhes.
O governo pode não ter escolha a longo prazo a não ser aumentar os impostos ou reduzir alguns gastos públicos.
Os economistas acreditam que o déficit público deve aumentar ainda mais em agosto, com os últimos pagamentos do sistema de desemprego parcial para trabalhadores autônomos e o financiamento do programa de alimentação 'Eat Out to Help Out'.
As finanças públicas devem ganhar fôlego com a retirada, no final de outubro, do sistema de desemprego parcial, com o risco, porém, de uma nova onda de demissões.
"Isso poderia dar pouca margem de manobra neste outono (boreal)", quando Rishi Sunak deve revelar um orçamento muito aguardado, segundo Michael Hewson, analista da CMC Markets.
A economia britânica provavelmente já passou pelo pior momento e a atividade começou uma forte recuperação desde maio, com a reabertura gradual de lojas e fábricas.
O índice PMI "flash" que mede a atividade no setor privado em agosto saltou para 60,3 pontos, seu maior nível desde outubro de 2013, impulsionado pelo setor de serviços, anunciou o gabinete Markit nesta sexta-feira.
O crescimento se beneficiou do desconfinamento, das férias passadas no Reino Unido mais do que no exterior e do dispositivo 'Eat Out to Help Out', embora Markit alerte para uma aceleração nos cortes de empregos no país.
O consumo das famílias também acelerou, conforme mostram os números das vendas no varejo divulgados nesta sexta-feira pelo ONS.
Aumentaram 3,6% em julho, graças a vestuário e combustíveis, ultrapassando seu nível de antes da pandemia.
No entanto, o ritmo de crescimento das vendas desacelerou fortemente em relação aos aumentos registrados em maio e junho após o desconfinamento.
Por outro lado, as vendas online caíram, mas ainda são mais de 50% superiores às de fevereiro, atestando os novos hábitos de consumo nos lares britânicos.
O fechamento de lojas físicas está aumentando, assim como as ondas de demissões no setor do varejo.
Por exemplo, Marks and Spencer acaba de anunciar 7.000 cortes de empregos devido a uma queda no número de clientes em suas lojas e seu desejo de concentrar suas forças nas vendas pela internet.
As lojas de departamentos Debenhams, que entraram com pedido de concordata, podem não reabrir, com 14.000 empregos em risco.