Energia: em 2014, as distribuidoras de energia tiveram que arcar com fortes custos de energia no curto prazo, relacionados à descontratação e geração termelétrica (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 9 de dezembro de 2014 às 08h49.
São Paulo - O ano de 2015 será de desafios para as distribuidoras de energia elétrica do Brasil, diante de gastos bilionários que ainda terão que arcar com eletricidade no mercado de curto prazo, mas a perspectiva é de menores gastos em relação a 2014, quando o setor teve de recorrer a empréstimos bancários para fechar suas contas.
Em 2014, as distribuidoras de energia tiveram que arcar com fortes custos de energia no curto prazo, relacionados à descontratação e geração termelétrica, e o governo federal intermediou dois empréstimos -- de 11,2 bilhões e 6,6 bilhões de reais -- com bancos para evitar inadimplência dessas companhias.
Para o ano que vem, os gastos com descontratação tendem a ser reduzidos -- já que a exposição ao mercado de curto prazo é menor e as bandeiras tarifárias ajudarão a aliviar o fluxo de caixa das distribuidoras, com o repasse imediato ao consumidor dos custos com energia mais cara das térmicas.
A redução em 50 por cento no patamar máximo do Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), que serve de base para os cálculos de custo de energia de curto prazo, também diminui a perspectiva de gastos.
Além disso, o segmento está na expectativa de que o quarto ciclo de revisão tarifária, que começa a se aplicado a partir do ano que vem, possa ser mais favorável às distribuidoras.
Nas revisões tarifárias, que ocorrem a cada 4 anos, há uma atualização nos valores de receita necessária para cobertura de custos operacionais eficientes e remuneração adequada dos investimentos realizados pelas companhias. As primeiras companhias a passarem pelo quarto ciclo de revisão tarifária são a Coelce (CE), em 22 de abril, e a Eletropaulo, em 4 de julho.
"(Será) um ano ainda difícil na gestão financeira de curto prazo, mas com expectativas de melhoria, em especial com a consolidação da audiência pública que trata das metodologias de revisão tarifária das distribuidoras", disse o diretor da associação que representa o setor, Abradee, Marco Delgado, à Reuters.
"Essas metodologias e seus resultados poderão criar um ciclo virtuoso para alavancar mais investimentos no segmento com foco da expansão e melhoria acelerada da qualidade dos serviços prestados pela distribuidoras." Mais de 4 gigawatts (GW) médios em contratos de energia das distribuidoras terminam ao final desse ano, indicando um volume grande de energia que essas empresas teriam que recontratar para o ano que vem, em um momento de menor oferta e maior preço de energia.
A contratação de 622 MW médios no leilão A-1 realizado na semana passada, embora pareça ser pouca diante dessa necessidade inicial, ajuda a aliviar a situação já que as companhias também receberão energia das cotas das concessões renovadas, à medida que os contratos antigos vão vencendo no ano vem.
"Estamos em processo de apuração com maior precisão, mas a ordem de grandeza (da descontratação) é entre 2 GW a 2,5 GW médios no primeiro semestre e condições equilibradas no segundo semestre", disse Delgado.
R$3 bilhões
No segundo semestre, algumas distribuidoras podem até ter sobrecontratação ou leve descontratação, mas em patamares dentro da normalidade, segundo Delgado. Ele acrescentou que um estudo com estimativa atualizada de gastos das distribuidoras por descontratação no ano que vem, considerando o resultado do leilão, ainda está sendo finalizado.
A Abradee aguarda definição sobre as cotas de recolhimento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) em 2015, conta que reúne recursos que têm sido repassados para suprir alguns gastos das distribuidoras.
Apesar disso, já é possível prever que as distribuidoras vão ter gastos de pelo menos 3 bilhões de reais com exposição ao mercado de curto prazo e despacho térmico em janeiro e fevereiro, relacionados à liquidação das operações financeiras no mercado de curto prazo de novembro e dezembro deste ano.
Ao longo de 2014, os empréstimos com bancos ajudaram a cobrir esses gastos, mas esses recursos financiados terminam na contabilização do mês de outubro que ocorre agora em dezembro.
"Há expectativa de posicionamento do governo, pois há risco de inadimplência intrassetorial", disse Delgado ao ser questionado se havia perspectiva de nova ajuda pelo governo federal ainda neste ano para ajudar a cobrir os gastos das concessionárias de distribuição.
Situação menos apertada
O resultado do leilão A-1 foi positivo, na avaliação do diretor da consultoria Thymos Energia, Ricardo Savoia, já que aliviou a necessidade de contratação em um leilão de ajuste esperado para o início do ano que vem. Segundo ele, a distribuição das cotas de energia mais barata das concessões a vencer também colabora para reduzir o aumento na conta de energia no ano que vem.
"Se não considerássemos as cotas para o mercado regulado, o impacto de aumento (da conta de energia) seria de 25 a 35 por cento. Já quando se aloca as cotas, o reajuste fica entre de 15 a 25 por cento", disse.
Analistas do BTG Pactual escreveram em relatório que apesar das dificuldades de capital que o setor de distribuição ainda enfrenta, a preferência por investimento no setor elétrico é por companhias que atuam fortemente nesse segmento, no caso, Equatorial Energia, Energias do Brasil e Eletropaulo.
"A hidrologia é, de fato, uma preocupação, mas, na nossa visão, e considerando seus contratos de concessão, elas estão muito mais protegidas que as geradoras (as quais temos evitado)."
As geradoras de energia também enfrentam gastos bilionários relacionados ao déficit da geração hidrelétrica diante do baixo nível dos reservatórios das usinas, mas não contam com ajuda por parte do governo federal para arcar com esses custos e ainda não há qualquer sinal de que isso possa mudar no ano que vem.