Economia

Dilma adota posição arriscada ao enfrentar a corrupção

Ao intervir pessoalmente na crise, Dilma também enfrenta risco de que o relacionamento já azedo com seus parceiros na base governista possa piorar

Bolo com os bonecos da presidenta Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer durante a última reunião da base aliada no primeiro semestre (Agência Brasil)

Bolo com os bonecos da presidenta Dilma Rousseff e do vice-presidente Michel Temer durante a última reunião da base aliada no primeiro semestre (Agência Brasil)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de julho de 2011 às 16h55.

São Paulo- A recente onda de denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes deu à presidente Dilma Rousseff uma oportunidade de ouro de assumir uma posição firme contra o tipo de desvio de recursos públicos que corrói o governo e há anos vem afugentando muitos investidores estrangeiros.

No entanto, ao intervir pessoalmente na crise e demitir vários funcionários do ministério, Dilma também enfrenta o sério risco de que um relacionamento já azedo com seus parceiros na base governista possa piorar ainda mais, deixando-a isolada politicamente e incapaz de obter a aprovação de projetos no Congresso.

A legenda que controla o Ministério dos Transportes, o Partido da República (PR), está agora quase em revolta declarada. Quase todos os dias surge a informação de que Dilma - ou o novo ministro que ela nomeou no começo do mês para limpar a pasta - ordenou o afastamento de um outro grupo de funcionários egressos do partido.

"O que está se entendendo é que todo mundo é do PR e ninguém presta", disse à Reuters o líder do partido na Câmara dos Deputados, Lincoln Portela (MG).

Se Dilma puder limpar o ministério sem que o PR deixe sua coalizão de 17 partidos, os ganhos potenciais serão enormes. Ela poderá enviar uma mensagem aos políticos brasileiros e à sociedade de modo geral de que é menos tolerante com a corrupção do que seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quase foi alvo de impeachment em 2005, depois do escândalo do mensalão.

"Ela poderá ter um grande ganho com isto, um sinal de que a política mudou em relação aos anos anteriores, o que ampliaria seu apoio popular, especialmente entre a classe média", disse o cientista político Ricardo Ismael.

Há também claras implicações econômicas. Por causa da corrupção no Ministério dos Transportes e em outros órgãos, algumas empresas estrangeiras têm sido reticentes quanto a investir em infraestrutura no país.

Isso, apesar do imenso atrativo representado por mais de 1 trilhão de dólares em projetos planejados para o Brasil na próxima década, como parte dos preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.


Algumas companhias dos Estados Unidos, em especial, se mantêm afastadas de projetos rodoviários no Brasil por causa das leis norte-americanas que as proíbem de pagar propinas no exterior. Os executivos dizem, confidencialmente, que essa medida os deixa sem condições de competir nas licitações públicas com empresas brasileiras e algumas europeias.

"A corrupção disseminada em parte da economia afasta as empresas norte-americanas de algumas áreas", disse o diretor do grupo de trabalho sobre infraestrutura no Conselho de Negócios Brasil-EUA, Reeve Wolford. A entidade tem sede em Washington.

Wolford afirmou duvidar que as ações de Dilma representem uma "virada geracional" na questão da corrupção, mas disse que a simples limpeza de alguns ministérios-chave poderá fazer uma grande diferença.

"Minha impressão, baseada em um grande número de conversas... é que (o Ministério dos Transportes) está entre os piores, se não for o pior", declarou. "Um melhor gerenciamento ali seria muito significativo."

Para Ismael, antes de colher algum resultado, Dilma terá provavelmente de superar uma "turbulência no curto prazo" e manter unida uma base que está sob enorme tensão praticamente desde o momento em que ela assumiu o poder, em 1o de janeiro.

O PR tem cerca de 40 deputados, de um total de 513 na Câmara, e seis senadores, num total de 81. Portanto, sua saída da coalizão seria um importante golpe.

Dilma também já irritou o maior partido da base aliada, o PMDB, ao se recusar ao indicar seus líderes para cargos-chave no governo, segundo assessores dela, essa atitude era um esforço para manter políticos corruptos distantes de áreas cruciais da administração.

A ira do PMDB quase paralisou o Congresso e obscureceu as perspectivas para reformas econômicas que iriam aperfeiçoar o sistema tributário do Brasil, por exemplo.

Em seis meses na Presidência, Dilma mostrou talento para o gerenciamento da economia e um interesse especial por projetos de infraestrutura. Mas a presidente, que fez carreira como tecnocrata, tem enfrentado frequentes dificuldades no campo político de seu trabalho, e tratado os aliados de forma áspera e com indiferença.

Membros do Palácio dizem que Dilma está ciente do equilibro necessário para seguir adiante.

"Algumas tensões dentro da base é algo normal", disse um membro do governo à Reuters, que pediu para não ser identificado. "Mas ela está fazendo o que tem de fazer com a corrupção. Ela está fazendo o que acha que é o certo.

Acompanhe tudo sobre:Governo DilmaOposição políticaPartidos políticosPolítica no BrasilPT – Partido dos Trabalhadores

Mais de Economia

Economia argentina cai 0,3% em setembro, quarto mês seguido de retração

Governo anuncia bloqueio orçamentário de R$ 6 bilhões para cumprir meta fiscal

Black Friday: é melhor comprar pessoalmente ou online?

Taxa de desemprego recua em 7 estados no terceiro trimestre, diz IBGE