Economia

Diante da crise, já está na hora de o BC reduzir os juros?

EXAME.com ouviu quatro economistas e constatou que não há consenso sobre o tema

Reunião do Copom: a missão dos diretores é não perder o timing certo para agir (Elza Fiúza/Agência Brasil)

Reunião do Copom: a missão dos diretores é não perder o timing certo para agir (Elza Fiúza/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 29 de agosto de 2011 às 09h58.

São Paulo – No início da noite desta quarta-feira, após o fechamento dos mercados, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) vai anunciar se altera ou não a taxa básica de juros, atualmente em 12,50%.

O nebuloso cenário internacional é a grande fonte de incertezas. Haverá recessão nas economias desenvolvidas ou “apenas” desaceleração prolongada? Qual será o impacto na China?

É a partir das respostas a essas perguntas que se torna possível qualquer prognóstico sobre a economia brasileira. De concreto, há dados ainda fortes de inflação e mercado de trabalho. Por outro lado, a oferta de crédito, a produção e o consumo estão em processo de desaquecimento.

Se demorarem a baixar a Selic, os diretores do Copom podem sufocar a economia em um cenário de esfriamento externo. Se a reduzirem antes da hora, a inflação de 2012 pode ficar acima da meta.

Em busca de conclusões, EXAME.com ouviu quatro economistas e constatou ótimos argumentos de todos os lados. Diante da crise, já está na hora de o Banco Central reduzir os juros?

Resposta: Não Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria

"Seria muito prematuro (reduzir os juros) porque não há nenhuma evidência de que o cenário internacional já está contaminando a atividade doméstica brasileira. Os sinais ainda são muito mistos. Há alguma moderação no crédito e no consumo, mas o mercado de trabalho continua muito dinâmico. Do ponto de vista da inflação, há um grande risco por causa dos dissídios nos próximos meses, que envolvem categorias bem organizadas, e do reajuste de mais de 14% do salário mínimo no início do ano que vem. Além disso, observamos que os próprios números de inflação continuam piorando. Não é à toa que a gente (Tendências Consultoria) continua achando que o IPCA vai estourar o teto da meta (6,5%), fechando o ano em 6,6%."


Resposta: Sim Antonio Corrêa de Lacerda, professor doutor do departamento de Economia da PUC-SP e integrante do Conselho Superior de Economia da Fiesp

"Seria importante fazer essa redução – mesmo que simbólica –, pois denotaria a consolidação do que já está sendo refletido no mercado futuro (queda dos juros) e uma preparação do Brasil frente aos novos desafios impostos pelo cenário internacional. Nós estamos num processo de desaceleração da economia mundial e o nosso mercado doméstico, independentemente da crise, já está num processo de desaceleração muito forte. Como existe uma defasagem entre a decisão de mudar os juros e o impacto no nível de atividade, – e nesse interregno nós vamos ter um bônus (alívio para a inflação) com a diminuição nos preços das commodities –, seria bom começar a reduzir os juros agora porque lá na frente nós vamos ter o impacto da queda do nível de atividade mundial num momento em que a nossa economia estará em um nível muito baixo. Sendo assim, não teremos pressão inflacionária adicional e, por outro lado, precisamos manter um certo nível de atividade."

Resposta: Não José Márcio Camargo, economista-chefe da Opus Gestão de Recursos e professor do departamento de Economia da PUC-Rio

“Não faz nenhum sentido o Banco Central começar a reduzir os juros nesta reunião. Eu não vejo sintomas claros de queda de nível de atividade no Brasil. O que a gente está vendo efetivamente é uma situação que já dura muito tempo. Trata-se da valorização cambial que tem gerado estagnação no setor industrial. Além disso, o excesso de liquidez vindo do mundo desenvolvido tem proporcionado enorme aumento do crédito para as pessoas físicas e jurídicas. O crédito farto, combinado com um mercado de trabalho aquecido – os salários reais crescem claramente acima dos ganhos de produtividade –, tem feito com que a demanda por serviços cresça de forma insustentável e que haja um aumento das importações. O Brasil vive uma forte pressão inflacionária, com os preços dos serviços acumulando quase 9% ao ano. A demanda continua crescendo a uma taxa muito alta. O problema é reduzir os juros agora imaginando que haverá um problema parecido com o de 2008 e a previsão não se concretizar. Na minha opinião, seria muito arriscado o Banco Central apostar num cenário bastante catastrófico da economia internacional.”

Resposta: Sim Mauro Rochlin, professor de Economia do Ibmec

"Há espaço para a redução dos juros, mas não é isso que o Banco Central vai fazer. A gente tem atualmente uma taxa de juros real excessivamente elevada. A meu ver, a atuação do Copom sempre se pautou por uma avaliação um tanto draconiana da conjuntura, sempre se utilizando de uma maneira excessiva da taxa de juros. Eu acho que a inflação acumulada em 12 meses em torno de 7% se deu muito por uma questão conjuntural. No início do ano, houve um movimento de alta de commodities e alimentos, mas eu não vejo que isso vá se manter ou colocar em risco uma trajetória descendente da taxa de juros. Quanto à questão do elevado reajuste do salário mínimo em 2012, de fato é um aumento salgado, mas é preciso considerar que, em termos reais (descontada a inflação), o reajuste não chegará a 7%. Nos últimos anos, o salário mínimo tem recebido aumento real e a gente não tem verificado uma pressão maior sobre a inflação – você não vai me dizer que o consumo disparou exatamente por causa disso."

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