Economia

Derrota de Renzi na Itália coloca em xeque decisão do BCE

Resultado do referendo tem potencial para causar turbulência no mercado e afetar os planos de estímulo do BCE

Renzi: tarefa do BCE teria sido mais fácil se a Itália conseguisse se recuperar sozinha (Alessandro Bianchi/Reuters)

Renzi: tarefa do BCE teria sido mais fácil se a Itália conseguisse se recuperar sozinha (Alessandro Bianchi/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 5 de dezembro de 2016 às 13h58.

Matteo Renzi talvez não seja o único que viu seus planos irem por água abaixo por decisão do eleitorado italiano.

Seu compatriota Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, agora precisará levar em conta a magnitude da derrota de Renzi no referendo constitucional do domingo – e seu pedido de demissão do cargo de primeiro-ministro – na avaliação sobre o programa de estímulo quantitativo (QE) da instituição.

O resultado tem potencial para causar turbulência no mercado, ampliar os spreads da renda fixa e piorar a perspectiva de crescimento econômico. E assim colocar uma pedra na engrenagem de um mecanismo monetário delicadamente calibrado.

O Conselho Geral do BCE estuda ajustar ou estender o programa de estímulo no mercado de títulos enquanto for necessário para atingir o objetivo de elevar a inflação. A decisão será tomada na quinta-feira.

A tarefa de sustentar a recuperação teria sido mais fácil se a terceira maior economia da zona do euro conseguisse ajudar a si própria ao promover um programa acelerado de reformas. Agora, talvez o BCE precise voltar a atuar como bombeiro nos mercados financeiros.

“A Itália perdeu uma oportunidade esplêndida de reformar seu sistema político e simplificar sua administração pública”, disse Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank, em Londres. “O aumento da incerteza fortalece a justificativa para o BCE anunciar nesta quinta-feira uma extensão de seu programa pleno de compra de ativos de 80 bilhões de euros por mês para além de março de 2017.”

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Um porta-voz do BCE se recusou a comentar.

Os títulos do governo italiano se depreciaram e o rendimento do papel com prazo de 10 anos subia 8 pontos-base para 1,986 por cento às 9:36 em Roma.

Os títulos haviam avançado nos últimos dias da campanha. O euro chegou a perder 1,5 por cento, mas o recuo diminuiu para 0,1 por cento e era negociado por US$ 1,0651.

Na visão da autoridade monetária, ajustes estruturais para impulsionar o potencial de crescimento da região são contrapartida vital do suporte monetário e a Itália — com a produtividade estagnada e um setor bancário atolado em créditos de recebimento duvidoso — é grande candidata a reformas.

Agora, o BCE pode se ver obrigado a dar mais apoio à economia ou dar apoio por mais tempo.

De acordo com pesquisa realizada pela Bloomberg com economistas antes da votação, Draghi vai anunciar a extensão das compras de ativos na quinta-feira, mantendo o ritmo atual.

A maioria dos entrevistados entende que o quadro de inflação em leve aceleração e recuperação moderada, porém constante, dará a ele espaço para iniciar a retirada gradual dos estímulos no final de 2017.

O tamanho da derrota de Renzi pode ameaçar esse cenário. A votação ocorreu no fim de um ano de reviravolta política na União Europeia, incluindo a decisão do eleitorado britânico de sair do bloco, seis meses atrás.

É provável que representantes do BCE adotem a mesma postura tomada após o Brexit, enfatizando sua capacidade de administrar episódios de escassez de liquidez no sistema financeiro do bloco e minimizando a necessidade de grandes intervenções, como uma reprise da expansão do primeiro programa de títulos públicos, em 2011, para conter a disparada das taxas dos títulos da Itália.

“O referendo na Itália ontem pode ser interpretado como outra fonte de incerteza”, afirmou FrançoisVilleroy de Galhau, integrante do Conselho Geral do BCE, em discurso em Tóquio nesta segunda-feira. “No entanto, não pode ser comparado ao referendo britânico: o povo italiano foi chamado às urnas para votar sobre uma questão constitucional interna e não sobre a participação de longa data na UE. Assim mesmo, olharemos de perto suas consequências.”

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