Economia

De carros a bebidas: o novo resultado da indústria no Brasil em 3 gráficos

Os dados da indústria brasileira vieram acima das expectativas para junho. Veja os principais destaques dos novos números divulgados pelo IBGE

 (Leandro Fonseca/Exame)

(Leandro Fonseca/Exame)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 4 de agosto de 2020 às 19h14.

Última atualização em 6 de agosto de 2020 às 14h27.

Após meses no vermelho, a indústria caminha para uma recuperação. Os resultados da indústria brasileira em junho, divulgados na manhã desta terça-feira, 4, mostraram crescimento de 8,9% no mês. Os números são os últimos disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o segundo mês seguido de crescimento, após alta também em maio e quedas bruscas em março e abril diante da pandemia do novo coronavírus.

O crescimento ficou acima da expectativa do mercado, que girava em torno de 7,9%. Assim, desde que voltou a crescer em maio, a indústria acumula uma alta de 18%. Veja abaixo os principais números dos resultados desta terça-feira.

Ainda no negativo

Os números trazem algum otimismo, mas a indústria ainda está longe de voltar aos patamares de antes da crise do coronavírus. O setor tem queda de 13,45% na comparação com o nível de fevereiro, antes da crise. Já no acumulado do ano, isto é, de janeiro até junho, a queda é de 10,9%.

Vale lembrar, a indústria em si já enfrentava desafios muito antes do coronavírus, em meio à demora na recuperação da crise econômica própria do Brasil. "O próprio patamar pré-crise, de fevereiro, já estava baixo. Por isso, apesar desse aumento expressivo em junho, o nível de produção ainda segue bastante baixo", diz o economista Arthur Mota, analista de macroeconomia da EXAME Research, braço de análise de investimentos da EXAME.

Outro fator que contribuiu para uma maior alta foi um ajuste estatístico feito pelo próprio IBGE nos meses anteriores. Dessa forma, o crescimento de maio, de 8,2%, foi ainda revisado para cima nos números divulgados hoje (antes, o cálculo para maio era de 7%).

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Carros e bebidas

Dos 26 setores analisados nos números do IBGE, 24 tiveram crescimento em junho (os únicos que não cresceram foram alimentos e derivados do petróleo). Desses, 16 ainda tiveram alta de dois dígitos, alguns crescendo mais de 20%.

Há algumas explicações para setores com alta recorde, como o de automóveis: a produção havia basicamente parado nos meses de abril e maio em meio à pandemia, assim como a demanda.

A queda nos meses anteriores foi acentuada, inclusive, por fatores como lojas e concessionárias fechadas, além da incerteza causada pela crise. Agora, com a retomada gradual, esses setores passam a ver uma relativa melhora.

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Bens de consumo crescem

A categoria que mais cresceu foi a indústria de bens de consumo duráveis, que faz produtos voltados para o consumidor final, mas que podem ser usados diversas vezes. É o caso de automóveis, móveis, eletroeletrônicos, entre outros.

Para Mota, da EXAME Research, um dos motivos é o impacto do auxílio emergencial de 600 reais do governo federal. "Ficou claro que o auxílio teve grande impacto no consumo e isso se refletiu no resultado de bens duráveis e não-duráveis", diz.

A indústria de bens não-duráveis, que também teve alta, é representada no crescimento por frentes como bebidas e vestuário, faz itens de primeira necessidade e, ocasionalmente, perecíveis. É o caso de alimentos, remédios, roupas, entre outros produtos.

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O IBGE divide ainda os resultados em mais dois segmentos. Um deles é a indústria de bens de capital, a chamada indústria pesada ou de base, inclui transformação de matéria-prima bruta em processada. Já a indústria de bens intermediários produz insumos e equipamentos que serão, depois, usados novamente na indústria de bens de consumo. São produzidos, por exemplo, autopeças, máquinas, tratores, motores para carros, entre outros insumos usados na indústria.

As expectativas para o resto do ano

Também nesta semana, um outro dado do mercado animou o setor industrial, economistas e investidores. O PMI (índice gerente de compras), que mede fatores como pedidos e entregas da indústria, teve valor recorde. O PMI brasileiro em julho ficou 58,2 pontos, subindo mais de seis pontos em relação a junho. É o maior nível do PMI no Brasil desde que o índice começou a ser calculado, em 2006.

"Olhando para frente, esperamos que o setor industrial continue gradualmente em um caminho de recuperação, em linha com o esperado relaxamento dos protocolos de distanciamento social e medidas para limitar o movimento e a atividade", escreveram analistas do banco Goldman Sachs em relatório divulgado nesta terça-feira.

Assim, como o índice aponta em parte para o futuro, o PMI alto em julho pode antecipar cenários positivos para a indústria no segundo semestre.

Para economistas consultados no boletim Focus desta semana, a economia brasileira vai encolher 5,66% neste ano. Enquanto isso, a produção industrial terá retração de 7,92% — o que, se confirmado, mostrará uma recuperação em relação aos patamares atuais, mas não o suficiente para fechar o ano no azul.

"O grande questionamento para o restante do ano será como vamos entrar em 2021, se, sobretudo no último trimestre do ano, vamos manter essa recuperação no consumo", diz Mota.

 

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