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Crise na indústria de aço faz China interromper expansão de usinas siderúrgicas

Pequim suspende sistema de aprovação para novas usinas siderúrgicas em busca de alternativas para lidar com a queda na demanda e o excesso de oferta

China mudou sistema de aprovação para novas usinas e vai desenvolver um novo programa para troca de capacidade. (Costfoto/NurPhoto/Getty Images)
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 23 de agosto de 2024 às 08h24.

Última atualização em 23 de agosto de 2024 às 09h42.

O governo chinês anunciou a suspensão imediata de seu sistema de aprovação para novas usinas siderúrgicas, em um esforço para conter a crise que assola o setor. A medida foi tomada após uma queda significativa na demanda interna, que comprometeu os lucros das indústrias siderúrgicas e gerou um aumento nas exportações, à medida que os produtores tentam escoar o excesso de produção, de acordo com a Bloomberg.

Desde a última sexta-feira, 16, as regras que permitiam a construção de novas usinas, mediante a retirada de capacidade produtiva obsoleta, foram abolidas. O Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação da China informou que está em desenvolvimento um novo programa para substituir o sistema de "troca de capacidade", que já não atende mais às exigências da indústria.

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A demanda por aço na China caiu mais de 10% desde 2020, forçando o governo a reconsiderar suas políticas de desenvolvimento industrial. A superprodução levou a um aumento expressivo nas exportações, com os níveis mais altos registrados desde 2016. Com cerca de 1 bilhão de toneladas de produção anual, as siderúrgicas chinesas estão enfrentando dificuldades para encontrar mercado interno suficiente para seus produtos, agravando ainda mais o cenário de excesso de oferta.

Em comunicado recente, o Ministério da Indústria destacou que a relação entre oferta e demanda no setor siderúrgico enfrenta novos desafios, mencionando problemas como a implementação inadequada de políticas, falhas nos mecanismos de supervisão e uma desconexão com as necessidades atuais da indústria.

A crise no setor siderúrgico chinês tem se intensificado, com líderes da indústria alertando para uma situação mais grave do que as crises anteriores de 2008 e 2015. A China Baowu Steel, a maior produtora mundial de aço, recentemente destacou que o setor está enfrentando desafios sem precedentes, exacerbados pela desaceleração da economia e pela queda da demanda.

Controle de expansão

O sistema de "troca de capacidade" foi inicialmente introduzido para controlar a expansão das indústrias pesadas, incluindo a siderurgia, como parte de uma estratégia do governo para mitigar os impactos ambientais e econômicos da superprodução. As regras mais recentes exigiam que cada tonelada de nova capacidade produtiva nas áreas ambientalmente sensíveis fosse compensada pelo fechamento de 1,5 tonelada de capacidade antiga, ou 1,25 tonelada em outras regiões.

Apesar das restrições, o programa permitiu exceções que incentivaram o desenvolvimento de usinas com fornos a arco elétrico, que utilizam sucata em vez de carvão como matéria-prima, numa tentativa de modernizar a indústria. No entanto, essa abordagem resultou em um crescimento geral da capacidade, contribuindo para o excesso de oferta que agora pressiona a indústria.

A recente decisão de Pequim de suspender a expansão das usinas siderúrgicas sinaliza um esforço para controlar o mercado, com o objetivo de equilibrar a oferta e a demanda, e prevenir um colapso ainda maior nos preços e nos lucros das empresas do setor.

Os efeitos da crise também têm sido sentidos nos mercados globais de commodities. O preço do minério de ferro, essencial para a produção de aço, caiu 10% até agora neste trimestre, atingindo o menor nível desde 2022.No mercado de futuros de Cingapura, o preço caiu 1,2%, sendo negociado a US$ 96,20 por tonelada (aproximadamente R$ 527,18), refletindo a gravidade da situação enfrentada pelos siderúrgicos chineses.

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