Superaquecimento da economia exije freio mais forte do Banco Central (.)
Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.
São Paulo - A economia brasileira já navega a uma velocidade superior à registrada no período pré-crise. Levantamento da MB Associados mostra que no terceiro trimestre de 2008, o PIB chegou a crescer 7,1% na comparação com o mesmo período de 2007. Agora, a expansão estimada para o primeiro trimestre deste ano é de 8%. Dados da Serasa Experian divulgados nesta segunda-feira (24) ratificam essa tendência de superaquecimento.
"O ritmo de crescimento dessa vez poderá ser mais difícil de ser desacelerado, prevê Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, em relatório de conjuntura enviado ao site Exame.com.
Há dois pontos que distinguem o atual período daquele vivido no pré-crise. O primeiro é a taxa de juros, que em 2008 já subia desde abril quando o PIB alcançou aquele patamar. Agora, a Selic começou a subir depois de o PIB ter atingido o ritmo de 8%. "Se considerarmos que o PIB potencial era semelhante nesses dois períodos, pode-se argumentar sobre um certo atraso da política monetária", diz Sergio Vale.
O segundo ponto é a política fiscal, que em 2008 não era tão expansionista como agora. Segundo a MB Associados, o superávit primário acumulado em 12 meses até setembro de 2008 era de 4% do PIB e agora está em 1,95% até março. "Ou seja, tanto a política fiscal quanto a monetária estão em ritmo conjunto para estimular a economia em 2010", afirma Sérgio Vale.
Diante deste cenário, a MB Associados alterou a projeção de alta da Selic na reunião do Copom em junho de 0,75 ponto para um ponto percentual, com os juros básicos encerrando o ano em 13% ( um aperto total de 4,25 pontos percentuais em relação aos 8,75% de março).
"Essa revisão é fruto de um crescimento que também está acima do que se imaginava. Tanto que nossas projeções para o IPCA apontam crescimento de 6% este ano e de 8,5% para o IGP-M, números que podem ser revisados para cima", explica Sergio Vale. O crescimento previsto para o PIB passou de 6% para 6,6%, com destaque para a indústria, do lado da oferta, e para os investimentos e o consumo das famílias, do lado da demanda.
Em 2008, a política monetária teve de dar uma guinada de 180 graus por causa crise. A dúvida é se o agravamento do quadro econômico na Europa não pode gerar o mesmo efeito nos próximos meses. "Não acreditamos neste cenário. No máximo, a crise europeia poderá trazer, como já vem trazendo, volatilidade para a taxa de câmbio", avalia Sergio Vale.
Do lado fiscal, a MB Associados defende o compromisso por parte do futuro presidente de buscar um superávit primário mais forte, "ainda mais depois das sinalizações nada sensatas do Congresso ao aprovar medidas francamente expansionistas".
E segue o relatório: "como cereja do bolo, uma eleição presidencial que coloca incerteza sobre o que o candidato eleito efetivamente fará. Essa incerteza deve perdurar até 2011, pois ainda não se terá claro se as melhores opções de política econômica serão escolhidas".
Por fim, a MB Associados prevê que o crescimento de 4,5% esperado para o PIB em 2011 tende a se tornar teto, ou seja, a economia brasileira pode ter uma expansão inferior a 4% no ano que vem se a crise europeia derrubar as nossas exportações e estreitar o canal do crédito.
"Para os clientes, vale o alerta de que ajustes mais fortes devem levar as empresas a se preparar para tempos de crescimento mais fraco. Não é o momento para excessos de endividamento e alavancagem, o que permitirá passar por 2011 sem grandes percalços", conclui o relatório.
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