Setor siderúrgico brasileiro aceita cotas dos EUA, mas vendas devem cair
O presidente do Instituto Aço Brasil disse que "o acordo não foi de todo ruim", principalmente porque foi apresentado num formato "pegar ou largar"
Estadão Conteúdo
Publicado em 3 de maio de 2018 às 09h36.
Última atualização em 3 de maio de 2018 às 11h09.
São Paulo e Brasília - Cedendo a uma medida unilateral imposta pelos Estados Unidos, o setor siderúrgico concordou em reduzir suas exportações para aquele mercado com a adoção de cotas, informou na última quarta-feira, 02, o presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo Mello Lopes.
Na comparação com 2017, haverá uma redução de 7,4% nas exportações de aço semiacabado, que representam 80% das vendas para aquele mercado. Para os produtos acabados, a queda será de 20% a 60%, dependendo do produto. No ano passado, as exportações de aço para os EUA renderam US$ 2,5 bilhões.
Nos dois casos, a cota será dada pela média das exportações brasileiras para os Estados Unidos no período de 2015 a 2017. No caso dos produtos acabados, será aplicado ainda um redutor de 30% sobre a média. Esse redutor não será aplicado aos semiacabados, que são insumo para a indústria local.
"Exportação continua sendo vital", disse Lopes, ao explicar que a indústria siderúrgica ocupa no momento 68% de sua capacidade e precisa manter a produção. Para o executivo, "o acordo não foi de todo ruim", principalmente porque foi apresentado num formato "pegar ou largar".
Na segunda-feira, 30, os americanos, que vinham dialogando sobre a possibilidade de excluir o Brasil das sobretaxas ao aço e ao alumínio anunciadas em março, deram suas negociações com o Brasil por encerradas e colocaram sobre a mesa duas opções: cota ou sobretaxa de 25% sobre as vendas de aço e de 10% sobre as de alumínio.
Com base nisso, o presidente Donald Trump disse na noite de segunda-feira que havia um acordo "em princípio" com o Brasil e faltariam fechar os detalhes. O governo brasileiro negou.
"Foi uma decisão unilateral, é bom deixar isso muito claro", afirmou ontem o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge. O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, disse ao O Estado de São Paulo que os americanos não deixaram opção.
Acertos
Segundo o presidente do IABr, a proposta das cotas será aceita e a entidade discutirá com seus associados a distribuição dos volumes a serem exportados aos EUA. O sistema de cota é do tipo "duro" - ou seja, volumes acima da cota não poderão ser exportados, nem se pagarem a sobretaxa de 25%.
"Nós estamos pedindo que os EUA mantenham o volume das nossas exportações para o comércio americano", disse Marcos Jorge. Uma hipótese seria alterar o critério de cálculo da cota, usando como base apenas o ano de 2017, já que em 2015 e 2016 as vendas foram menores. Esse foi o pedido apresentado pelo IABr, segundo Lopes. Ele acrescentou que haverá um sistema de monitoramento das exportações e que, dependendo, poderá haver algum tipo de ajuste. "Nossa visão é que faltará aço nos Estados Unidos."
Alumínio
Embora o governo brasileiro tenha colocado numa nota conjunta dos Ministérios da Indústria e das Relações Exteriores que o setor de alumínio optou pela sobretaxa de 10%, a informação foi negada pelo presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Milton Rego.
Ele afirmou ao Estado que essa é uma opção menos ruim do que a cota. Mas, como o governo dos EUA deu um prazo adicional para concluir as negociações, ele prefere esperar.
Para o alumínio, os EUA ofereceram uma cota de 41 mil toneladas, correspondente à média exportada nos últimos cinco anos. No entanto, as exportações do ano passado somaram 55 mil toneladas.
E o ritmo das vendas neste ano aponta para 60 mil toneladas. A cota oferecida pelos americanos não acomoda nem o que já foi contratado de exportações neste ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.