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Corte de produção da Vale bagunça setores da siderurgia aos transportes

Alta do preço do minério reduz rentabilidade das usinas siderúrgicas; gravidade das consequências depende se Vale conseguirá compensar as toneladas perdidas

Um mineiro segura um pedaço de minério de ferro em uma mina localizada na região de Pilbara, na Austrália OcidentalREUTERS/David Gray/File Photo (David Gray/Reuters)

João Pedro Caleiro

Publicado em 30 de janeiro de 2019 às 16h41.

Última atualização em 30 de janeiro de 2019 às 17h24.

O mercado global de minério de ferro está em turbulência depois que a Vale , a maior produtora do mundo, detalhou planos para reduzir a produção após o rompimento da barragem em Brumadinho, impulsionando as ações das concorrentes enquanto os investidores avaliavam o impacto da interrupção. Os preços subiram e os futuros avançaram mais de 9 por cento.

A Vale desativará algumas barragens de rejeitos, reduzindo a produção em 40 milhões de toneladas por ano, disse o presidente da empresa, Fábio Schvartsman, em entrevista coletiva. O impacto será parcialmente compensado pelo aumento da produção em outros sistemas, informou a Vale. A empresa havia planejado produzir 400 milhões de toneladas neste ano.

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A gravidade das consequências dependerá da capacidade da Vale, e também dos esforços das outras mineradoras, de compensar as toneladas que serão perdidas. A queda acentuada da oferta, se concretizada, pressionará o mercado transoceânico global, ajudando a Rio Tinto, a BHP e a Anglo American e ao mesmo tempo elevando os custos para as siderúrgicas em todo o mundo.

Uma das barragens da Vale se rompeu na sexta-feira passada, castigando o preço das ações da empresa e gerando especulações de que, embora a operação afetada fosse pequena, as repercussões afetariam uma parcela maior da produção.

“A Vale certamente tem a capacidade de substituir 40 milhões de toneladas de produção e, de fato, inicialmente teria 50 milhões de toneladas de produção flexível”, disse Vivek Dhar, analista do Commonwealth Bank of Australia. “Mas a questão fundamental é a rapidez com que conseguirão compensar essa produção tendo em mente as pressões sociais e políticas e o fato de as investigações ainda estarem em andamento.”

Na Singapore Exchange, os futuros de referência chegaram a subir 9,6 por cento, para US$ 86,20 a tonelada, maior patamar desde março de 2017. Os futuros em Dalian fecharam em alta de 4,7 por cento. O minério de referência para entrega imediata saltou 4,6 por cento nesta quarta-feira, para US$ 83,95 a tonelada, segundo o Mysteel.com. O minério de alta qualidade subiu para US$ 100,30 a tonelada, maior nível desde setembro de 2017.

As mineradoras australianas avançaram. A Rio Tinto fechou em alta de 4,5 por cento, a 87,30 dólares australianos, maior nível desde 2011, a BHP subiu 2,6 por cento e a Fortescue Metals Group, 7,8 por cento.

Outros sistemas

“O impacto estimado da interrupção da produção é de cerca de 40 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, incluindo a produção de 11 milhões toneladas de pelotas, um impacto que será parcialmente compensado pelo aumento da produção em outros sistemas”, informou a Vale.

O mercado transoceânico global totaliza cerca de 1,6 bilhão de toneladas, segundo o governo australiano. Quarenta milhões de toneladas equivalem a 2,5 por cento desse valor.

O Goldman Sachs ampliou a projeção para o minério de ferro após o comunicado da Vale, elevando suas projeções para três, seis e 12 meses a US$ 80, US$ 70 e US$ 65 a tonelada, contra metas anteriores de US$ 70, US$ 60 e US$ 60.

O banco estimou que a produção da Vale seria reduzida em 10 milhões a 15 milhões de toneladas neste ano porque a mineradora seria capaz de compensar parte da perda, mas não toda, segundo uma nota.

O acidente ocorreu em um momento em que o mercado transoceânico “já estava apertado”, afirmou o Goldman, alertando que os preços provavelmente subirão “significativamente”. A oferta pode sofrer novos impactos porque “o incidente pode levar as autoridades a reforçar as fiscalizações ambientais e afetar a produção de outras empresas”, afirmou.

Siderúrgicas chinesas

“Trata-se de uma má notícia para as siderúrgicas”, disse Sarah Zhao, analista da Huatai Futures, pelo Wechat. O aumento dos preços do minério de ferro reduziria a rentabilidade das usinas e as siderúrgicas podem optar por usar mais sucata em vez de minério de ferro na produção do aço, disse.

Embora possa haver algum alívio nos estoques das usinas, o incidente se dá em um momento em que a China caminha para a temporada de construção. “Para a sorte das usinas, elas se reabasteceram antes de os preços subirem”, disse Tomas Gutierrez, analista da Kallanish Commodities. “Infelizmente para elas, parece agora que o aumento se sustentará durante a época de pico da demanda, quando normalmente elas conseguem as melhores margens.”

Impacto marítimo

A decisão da Vale também pode gerar grandes consequências para o setor de transporte marítimo global ao reduzir o volume de cargas transportadas do Brasil para a China, a maior usuária, e para os portos europeus.

“É um duro golpe para os navios Capesize”, disse Rahul Kapoor, analista sênior da Bloomberg Intelligence. “A perda de volumes significativos de minério de ferro da Vale vai exacerbar o excesso de oferta de embarcações em um momento em que o setor já enfrentava a fraca sazonalidade e a desaceleração chinesa.”

Alta dos preços de minério de ferro após a Vale anunciar corte da produção (Gráfico/Bloomberg)

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