Roberto Campos, do Banco Central: mercado aguarda sinalização sobre taxa de juros (Andre Coelho/Bloomberg)
Carla Aranha
Publicado em 28 de outubro de 2020 às 06h00.
Última atualização em 28 de outubro de 2020 às 09h14.
O Comitê de Política Monetária (Copom), que divulgará nesta quarta, dia 28, o resultado da reunião deste terça sobre a política monetária, deve manter a taxa Selic no patamar atual, de 2%, segundo estimativas do mercado financeiro. Mas, em um cenário de risco fiscal, a decisão não deve aliviar muito a preocupação com o equilíbrio das contas do governo. O câmbio já vem refletindo os sinais de insegurança sobre o teto de gastos.
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O comunicado do Banco Central também poderá sinalizar se há alguma frestra para o aumento de juros no curto e médo prazo. "A Selic deve subir em meados do ano que vem, alimentada pela percepção do aumento do risco fiscal, que já está precificado nos juros de longo prazo, e a deterioção da condição econômica", diz Juliana Damasceno, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A maior preocupação é que o descontrole fiscal possa refletir em uma redução da tomada de crédito, o que afeta dietamente a atividade econômica, e no consumo das famílias. Este ano, os brasileiros com recursos suficientes para conseguir poupar já começaram a economizar.
Em setembro, os consumidores a diferença entre o volume de depósitos e retiradas da caderneta ficou com um saldo positivo de 13,22 bilhões de reais. A captação líquida é 51% maior do que a do mesmo período do ano passado.
"A percepção de risco é sentida pelas pessoas como um todo, não só pelos agentes financeiros", diz Gabriel Barros, economista do BTG Pactual.
Os economistas não estão otimistas em relação ao risco fiscal e a taxa de juros. O último boletim Focus, que é divulgado toda segunda-feira pelo Banco Central, aponta para um aumento da Selic no ano que vem. As projeções mais recentes sinalizam um cenário com a questão fiscal mais deteriorada e uma taxa de juros de 2,75% em 2021. A estimativa anterior era de 2,5%.
"Pode acontecer uma espécie de bola de neve, com mais investidores em busca do dólar, que é uma moeda forte, e uma consequente desvalorização cambial", diz Damasceno. "Com isso, as importações ficariam mais caras, impactando o custo da atividade econômica e inflação".
A postergação de uma decisão sobre o Renda Cidadã, que ainda não tem seu financiamento definido e sua abrangência, vem preocupando o mercado. "O temor é que, caso venha a ser implementado, as regras e valores do novo programa social possam ser decididas no final do ano, de maneira pouco elaborada", diz Barros.
Com a proximidade das eleições municipais, o Congresso está praticamente de recesso, com poucas pautas sendo votadas. A previsão é que até a data do primeiro turno, em 15 de novembro, não deverá haver espaço para que decisões importantes sejam tomadas. E, quanto mais o tempo passa, a precificação do risco fiscal só aumenta, em razão das incertezas.