Economia

Copom corta juros para 6,75% e aponta fim do afrouxamento

De acordo com comunicado, Comitê vê "como mais adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária" se o cenário básico se confirmar

Foi o décimo-primeiro corte seguido da Selic (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Foi o décimo-primeiro corte seguido da Selic (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 18h21.

Última atualização em 20 de junho de 2018 às 15h20.

São Paulo - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira (07) um corte de 0,25 ponto percentual na Selic.

A taxa básica de juros da economia foi de 7% para 6,75% em decisão unânime e já esperada pelo mercado, de acordo com as últimas pesquisas do Boletim Focus e do Projeções Broadcast.

Foi o décimo-primeiro corte seguido da Selic, que chegou ao menor patamar desde sua criação em 1996.

A Selic era mais de duas vezes maior (14,25%) quando o ciclo de corte começou há pouco mais de um ano, em outubro de 2016.

A dúvida agora é se há espaço para mais uma redução da taxa na próxima reunião, marcada para os dias 20 e 21 de março.

O comunicado diz que "caso o cenário básico evolua conforme esperado, o Comitê vê, neste momento, como mais adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária".

Quando o Copom aumenta os juros, encarece o crédito e estimula a poupança, o que faz com que a demanda seja contida e faça menos pressão sobre a atividade e os preços. Cortar os juros causa o efeito contrário.

De acordo com o o comunicado, o BC vê "recuperação consistente da economia brasileira" com inflação e cenário externo favoráveis "apesar da volatilidade recente das condições financeiras nas economias avançadas".

A expectativa do mercado financeiro é que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) termine 2018 em 3,95%.

Este patamar ainda estaria abaixo do centro da meta do governo (4,5%), mas já representaria uma aceleração em relação ao ano anterior. A inflação fechou 2017 em 2,95%, abaixo do piso da meta de 3%.

Isso obrigou o presidente do BC, Ilan Goldfajn, a escrever uma carta aberta explicando os motivos do descumprimento e as medidas tomadas para que a inflação voltasse ao centro da meta.

Apesar dos cortes, o Brasil tem o quinto maior juro real (juros nominais menos a inflação projetada para os próximos 12 meses) do planeta.

Veja o comunicado completo divulgado hoje pelo Copom:

"O Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 6,75% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

O conjunto dos indicadores de atividade econômica divulgados desde a última reunião do Copom mostra recuperação consistente da economia brasileira;

O cenário externo tem se mostrado favorável, na medida em que a atividade econômica cresce globalmente.  Isso tem contribuído até o momento para manter o apetite ao risco em relação a economias emergentes, apesar da volatilidade recente das condições financeiras nas economias avançadas;

O Comitê julga que o cenário básico para a inflação tem evoluído, em boa medida, conforme o esperado. O comportamento da inflação permanece favorável, com diversas medidas de inflação subjacente em níveis confortáveis ou baixos, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;

As expectativas de inflação para 2018 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,9%. As projeções para 2019 e 2020 mantiveram-se em torno de 4,25% e 4,0%, respectivamente; e

No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 4,2% para 2018 e 2019. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2018 em 6,75% e 2019 em 8,0%.

O Comitê ressalta que seu cenário básico para a inflação envolve fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, a combinação de (i) possíveis efeitos secundários do choque favorável nos preços de alimentos e da inflação de bens industriais em níveis correntes baixos e da (ii) possível propagação, por mecanismos inerciais, do nível baixo de inflação pode produzir trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (iii) uma frustração das expectativas sobre a continuidade das reformas e ajustes necessários na economia brasileira pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária.  Esse risco se intensifica no caso de (iv) reversão do corrente cenário externo favorável para economias emergentes.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 6,75% a.a. O Comitê entende que esse movimento é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui os anos-calendário de 2018 e, com peso menor e gradualmente crescente, de 2019.

O Copom entende que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

O Comitê enfatiza que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira contribui para a queda da sua taxa de juros estrutural.  As estimativas dessa taxa serão continuamente reavaliadas pelo Comitê.

A evolução do cenário básico, em linha com o esperado, e o estágio do ciclo de flexibilização tornaram adequada a redução da taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual nesta reunião. Para a próxima reunião, caso o cenário básico evolua conforme esperado, o Comitê vê, neste momento, como mais adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária. Essa visão para a próxima reunião pode se alterar e levar a uma flexibilização monetária moderada adicional, caso haja mudanças na evolução do cenário básico e do balanço de riscos. O Copom ressalta que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, de possíveis reavaliações da estimativa da extensão do ciclo e das projeções e expectativas de inflação.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Ilan Goldfajn (Presidente), Carlos Viana de Carvalho, Isaac Sidney Menezes Ferreira, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza, Reinaldo Le Grazie, Sidnei Corrêa Marques e Tiago Couto Berriel."

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