Copom anuncia corte de 0,5 p.p. na Selic, que vai a 5% ao ano
Essa é a 3ª queda seguida da taxa básica desde o início do ciclo de afrouxamento; segundo BC, ainda há espaço para mais uma
Ligia Tuon
Publicado em 30 de outubro de 2019 às 18h08.
Última atualização em 30 de outubro de 2019 às 19h22.
São Paulo – OComitê de Política Monetária do Banco Central ( Copom )cortou em 0,5 ponto percentual (p.p.) — de 5,5% para 5% ao ano — a Selic (taxa básica da economia) nesta quarta-feira (29). A decisão foi unânime.
Essa é a terceira queda seguida desde o início do ciclo de afrouxamento monetário iniciado pelo BC em julho. Com a redução, em linha com o grosso das expectativas de mercado, a taxa renova seu nível mínimo histórico.
No comunicado, oComitê sinaliza que haverá mais um corte de meio ponto na última reunião do ano, no dia 11 de dezembro, dizendo que "avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude".
"No cenário externo, a provisão de estímulos monetários adicionais nas principais economias, em contexto de desaceleração econômica e de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes. Entretanto, o cenário segue incerto e os riscos associados a uma desaceleração mais intensa da economia global permanecem", diz o comunicado.
Para Marcos Ross, economista da XP Investimento, o BC mostrou cautela em relação a um possível grau de ajuste para as reuniões do ano que vem. "O BC sinaliza que quer testar o patamar de 4,25% no ano que vem, mas começa a entender que o cenário de inflação pode não ser super benigno entre 2020 e 2021", diz.
"Antes trabalhávamos com mais um corte de 50 pontos base fazendo esta chegar a 4,5% em dezembro e depois parando. Agora vemos espaço para mais um corte de 0,25 ponto na reunião de fevereiro de 2020", diz André Perfeito, economista-chefe da Necton.
O determinante agora para o movimento dos juros, segundo Ross, além da inflação continuar bem ancorada é o avanço das reformas do governo. "O fato de ele ter colocado no plural 'os eventuais graus de ajuste' no fim do comunicado remete a isso", diz.
O ciclo de queda na Selic ocorre em meio a uma combinação de desemprego alto, baixo crescimento econômico, inflação controlada e avanço na agenda de reformas.
No último dia 22, o Senado aprovou em segundo turno a reforma da Previdência. Além dessa, a equipe econômica do governo está prestes a anunciar projetos de leis, como a reforma administrativa, que visam dar mais folga ao orçamento público.
O IPCA, índice usado para medir a inflação oficial no país acumula 2,89% em 12 meses. O valor é bem abaixo da meta de 4,25% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional, com com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Já o Produto Interno Bruto (PIB) tem alta de 1% em um ano até o segundo trimestre, semelhante ao resultado dos dois últimos anos. Sobre o desemprego recou para 11,8% em agosto, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O país ainda tem, no entanto, mas de 12 milhões de desempregados.
Veja comunicado na íntegra:
Em sua 226ª reunião, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 5,00% a.a.
A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
Indicadores de atividade econômica divulgados desde a reunião anterior do Copom reforçam a continuidade do processo de recuperação da economia brasileira. O cenário do Copom supõe que essa recuperação ocorrerá em ritmo gradual;
No cenário externo, a provisão de estímulos monetários adicionais nas principais economias, em contexto de desaceleração econômica e de inflação abaixo das metas, tem sido capaz de produzir ambiente relativamente favorável para economias emergentes. Entretanto, o cenário segue incerto e os riscos associados a uma desaceleração mais intensa da economia global permanecem;
O Comitê avalia que diversas medidas de inflação subjacente encontram-se em níveis confortáveis, inclusive os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária;
As expectativas de inflação para 2019, 2020, 2021 e 2022 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,3%, 3,6%, 3,75% e 3,5%, respectivamente;
No cenário com trajetórias para as taxas de juros e câmbio extraídas da pesquisa Focus, as projeções do Copom situam-se em torno de 3,4% para 2019, 3,6% para 2020 e 3,5% para 2021. Esse cenário supõe trajetória de juros que encerra 2019 em 4,50% a.a., permanece nesse patamar ao longo de 2020 e se eleva até 6,38% a.a. em 2021. Também supõe trajetória para a taxa de câmbio que termina 2019 em R$ 4,00/US$, permanece nesse patamar ao longo de 2020 e encerra 2021 a R$3,95/US$; e
No cenário híbrido com taxa de câmbio constante a R$4,05/US$* e trajetória de juros da pesquisa Focus, projeta-se inflação em torno de 3,4% para 2019, 3,7% para 2020 e 3,6% para 2021.
O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Por um lado, a combinação (i) do nível de ociosidade elevado e (ii) da potencial propagação da inflação corrente, por mecanismos inerciais, pode continuar produzindo trajetória prospectiva abaixo do esperado. Por outro lado, (iii) o atual grau de estímulo monetário, que atua com defasagens sobre a economia, aumenta a incerteza sobre os canais de transmissão e pode elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária. O risco (iii) se intensifica no caso de (iv) deterioração do cenário externo para economias emergentes ou (v) eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira.
Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, pela redução da taxa básica de juros para 5,00% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e balanço de riscos para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante para a condução da política monetária, que inclui o ano-calendário de 2020 e, em grau menor, o de 2021.
O Copom reitera que a conjuntura econômica prescreve política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.
O Copom avalia que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira tem avançado, mas enfatiza que perseverar nesse processo é essencial para permitir a consolidação da queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.
Na avaliação do Copom, a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve ajuste no grau de estímulo monetário, com redução da taxa Selic em 0,50 ponto percentual. O Comitê avalia que a consolidação do cenário benigno para a inflação prospectiva deverá permitir um ajuste adicional, de igual magnitude. O Copom entende que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela em eventuais novos ajustes no grau de estímulo. O Comitê reitera que a comunicação dessa avaliação não restringe suas próximas decisões e enfatiza que os próximos passos da política monetária continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (Presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.
*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados na sexta-feira anterior à reunião do Copom.