Construção civil perde fôlego e deve crescer apenas 2% em 2022
A projeção foi divulgada na quinta-feira, 13, em parceria entre a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o Sindicato da Indústria da Construção de São Paulo (Sinduscon-SP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de janeiro de 2022 às 21h33.
Última atualização em 21 de janeiro de 2022 às 17h13.
Um dos motores da recuperação da economia brasileira no ano passado, a construção civil está perdendo fôlego. O Produto Interno Bruto (PIB) da Construção em 2022 deve crescer 2% em 2022, o que representa uma desaceleração perante 2021, quando subiu 8%.
A projeção foi divulgada na quinta-feira, 13, em parceria entre a Fundação Getulio Vargas (FGV) e o Sindicato da Indústria da Construção de São Paulo (Sinduscon-SP) e vai na mesma linha da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que também espera alta de 2% para o PIB setorial neste ano.
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As duas entidades trabalham com previsão de abertura de 110 mil vagas de emprego no ramo em 2022, contra 246 mil em 2021 e 98 mil em 2020.
Após recordes de vendas e lançamentos de imóveis residenciais nos últimos dois anos, o setor está passando por uma virada de mesa. Os juros e a inflação subiram de modo expressivo e agora inibem novos negócios.
Cerca de um ano atrás, era possível contratar um financiamento de R$ 200 mil para compra da casa própria com juros de 6,25% ao ano. Isso exigia das famílias renda mínima de R$ 5,2 mil e gerava uma parcela de R$ 1,5 mil. Hoje, o mesmo empréstimo tem taxa de 9% ao ano, o que demanda renda de R$ 6,6 mil (27% maior) e parcela de R$ 2 mil (33% maior), segundo cálculos do Sinduscon/FGV.
"A decisão de se comprar um imóvel está relacionada ao poder de compra e à percepção de riscos e incertezas", apontou a coordenadora de estudos da construção da FGV Ana Maria Castelo. "E o aumento das taxas de juros certamente vai ter um impacto nas contratações."
Segundo a pesquisadora, houve queda da oferta e da demanda de materiais no fim do ano. As famílias vinham procurando materiais para reformas e pequenas obras domésticas, mas a inflação generalizada passou a inibir o consumo.
Também pesam para o setor as perspectivas de fraqueza da economia brasileira como um todo, e a maior percepção de riscos. O vice-presidente de Economia do Sinduscon-SP, Eduardo Zaidan, disse que o "quadro não é bom". "A inflação será menor neste ano que no ano passado, mas não quer dizer que estejamos livres de uma inflação desajustada", ponderou.
Ele citou ainda que as eleições presidenciais vão gerar um período de incertezas, principalmente com o cenário tão polarizado quanto o de hoje. "E ainda temos a preocupação fiscal que é o pano de fundo dos problemas brasileiros", emendou.
Posição semelhante é compartilhada pelo analista de construção do Inter Research, Gustavo Caetano. “Com os últimos números observados, acreditamos que a retomada da atividade da construção está diretamente associada a um cenário macroeconômico mais favorável, mas que ainda permanece volátil diante das incertezas fiscais vigentes e com a aproximação do debate eleitoral”, afirmou, em relatório.
Pelo lado bom
O que vai sustentar o PIB da construção este ano será a abertura de novos canteiros de obras residenciais no lugar dos estandes de vendas. Cidades como São Paulo, por exemplo, tiveram recorde de lançamentos em 2021 e 2020. Geralmente, as obras começam cerca de seis a nove meses depois.
A partir daí vêm as compras de materiais e equipamentos, contratação de pessoal e serviços, que engrossam o PIB setorial. "O nível de atividade que vemos hoje vai se manter enquanto as obras durarem", disse Zaidan. Também há perspectivas melhores para as obras de infraestrutura, que foram preteridas desde o começo da pandemia.
Covid de fora
Os cálculos para o PIB da construção ainda não consideram os efeitos da nova onda de covid. Por enquanto, os construtores não perceberam impactos relevantes, mas esse é um ponto de atenção.
"Tem afastamento (de trabalhadores), mas não é uma coisa que podemos comparar com março ou abril de 2020, quando se tinha até 30% do efetivo afastado", comentou Zaidan. Ele ponderou que o afastamento naquela época durava 14 dias, enquanto hoje vai de 7 a 10 dias. "Mas é um fato a mais para atrapalhar a produtividade das obras", alertou.