Companhias abertas reduzem investimentos no 2º trimestre
Muitas também conseguiram reduzir endividamento, reagindo com cautela ao ambiente macroeconômico desfavorável e às incertezas por causa das eleições
Da Redação
Publicado em 17 de agosto de 2014 às 09h48.
São Paulo - Boa parte das companhias abertas seguiu no segundo trimestre deste ano com a estratégia de redução de custos para manter margens.
O que se viu também foi que muitas dessas empresas conseguiram reduzir endividamento - uma das exceções foi a Petrobras -, reagindo com cautela ao ambiente macroeconômico desfavorável e às incertezas por conta das eleições.
Nesse ambiente, optaram por frear investimentos e preservar fluxo de caixa, segundo analistas consultados pelo Broadcast. Os grandes bancos, por sua vez, conseguiram aumentar o lucro mesmo diante do ritmo menor nas concessões de crédito.
"Ao buscarem reduzir custos e a alavancagem, além de moderar os investimentos, as empresas mostram disciplina para preservar suas margens e manter seu fluxo de caixa", comenta Nataniel Cezimbra, analista do BB Investimentos .
No caso da mineradora Vale , a dívida líquida no segundo trimestre ficou em US$ 23,19 bilhões, queda de 1,8% em relação ao visto um ano antes. Já os investimentos, excluindo pesquisa e desenvolvimento e aquisições, somaram US$ 2,469 bilhões no período, queda de 28,3% em relação ao mesmo intervalo do ano passado.
O presidente da companhia, Murilo Ferreira, ressaltou que o capex abaixo das estimativas ajudou na manutenção de um fluxo de caixa mais positivo. Além disso, analistas consideraram que a mineradora reportou resultados operacionais satisfatórios, apesar da queda do preço do minério de ferro e da desaceleração econômica da China.
No período, a Vale registrou o melhor segundo trimestre de sua história na produção de minério de ferro, com um total de 79,4 milhões de toneladas, 12,6% superior ao do mesmo período de 2013.
A Petrobras também reduziu investimentos - no segundo trimestre, somaram R$ 20,915 bilhões, retração de 14,1% em relação ao mesmo intervalo de 2013. Entretanto, a alavancagem líquida, medida pela relação entre endividamento líquido e patrimônio líquido, chegou a 40% no final de junho, o mais alto já registrado pela estatal.
Apesar de ter aumentado o volume de produção de petróleo e gás no território nacional e ter anotado receita líquida trimestral recorde, de R$ 82,298 bilhões, a estatal continua sendo penalizada pela defasagem entre os preços dos combustíveis vendidos no Brasil e o valor pago no exterior.
No setor de papel e celulose, a alavancagem da Fibria caiu para 2,3 vezes no final do segundo trimestre de 2014. O indicador é 0,1 ponto porcentual inferior ao de 2,4 vezes do primeiro trimestre de 2014. Em dólares, a alavancagem se manteve em 2,4 vezes como no trimestre passado. A dívida líquida fechou o trimestre em R$ 6,681 bilhões, abaixo dos R$ 6,970 bilhões reportados ao final do primeiro trimestre do ano.
Em relatório, o analista Victor Penna, do BB Investimentos, afirma que a Fibria conseguiu aumentar suas vendas, mesmo com o alto nível dos estoques nos produtores mundiais, preço reduzido e câmbio depreciado. O profissional destaca a nova contração do nível de alavancagem. "A Fibria mostrou que está aproveitando-se de oportunidades mesmo diante de um mercado de celulose mais instável."
"As empresas com dívida em dólar foram beneficiadas pela queda da moeda norte-americana ante o real no segundo trimestre", ressalta Roberto Indech, analista da Rico. No período, na comparação com o primeiro trimestre, o dólar ptax recuou 2,67% ante o real.
O câmbio favoreceu a Gol, por exemplo. No segundo trimestre, a companhia aérea amortizou R$ 52 milhões de dívidas e captou R$ 168 milhões. O total de empréstimos e financiamentos totalizou R$ 5,407 bilhões (incluindo leasing financeiro), queda de 3,4% na comparação anual e de 1% na comparação trimestral.
Mesmo no setor siderúrgico, que reportou resultados fracos diante da queda da demanda por aço, houve redução do nível de endividamento. A Gerdau viu sua alavancagem cair de 3,1 vezes, visto no segundo trimestre do ano passado, para 2,4 vezes no intervalo de abril a junho deste ano. No primeiro trimestre, esse índice estava em 2,5 vezes.
Os investimentos em ativo imobilizado da siderúrgica gaúcha atingiram R$ 478,7 milhões, queda de 24,6% em relação ao segundo trimestre de 2013. Além disso, a companhia reduziu seu programa de investimentos para este ano de R$ 2,9 bilhões para R$ 2,4 bilhões.
"Daremos continuidade ao trabalho de aumento de eficiência operacional nos negócios da empresa, de otimização do capital de giro frente aos níveis de demanda e de revisão dos investimentos em ativo imobilizado", afirmou o diretor-presidente da Gerdau, André Gerdau Johannpeter, em nota divulgada no dia do balanço.
Indech, da Rico, destaca que, como a Gerdau, outras empresas reduziram suas expectativas de investimento para 2014. "As empresas estão mais cautelosas, também por se tratar de um ano eleitoral, que traz incertezas."
Bancos
O grande destaque positivo do segundo trimestre foram os balanços dos grandes bancos , segundo analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
"O setor bancário vem reportando resultados bastante sólidos nos últimos três trimestres, principalmente o Itaú", comenta Fábio Galdino, analista da Guide Investimentos.
De acordo com o profissional, números de inadimplência melhores, com políticas austeras na concessão de crédito, e a manutenção ou aumento de margens são alguns dos fatores que mostram a resiliência do setor bancário diante do cenário macroeconômico desafiador.
Juntos, os três maiores bancos privados do País - Itaú Unibanco, Bradesco e Santander - tiveram lucro contábil 30,8% maior de abril a junho ante um ano, de R$ 9,205 bilhões. Já o público Banco do Brasil registrou lucro líquido ajustado, livre dos efeitos de itens extraordinários, de R$ 3,002 bilhões no período, cifra 14% maior que a vista em um ano, de R$ 2,634 bilhões.