Economia

Como a perda do selo de bom pagador do país afeta seu bolso

Se o Brasil perdeu o título de "bom pagador", as empresas brasileiras perdem essa "janela" para capitar recursos com juros mais atrativos


	Sem dinheiro: segundo economista, o corte de crédito das três agências vai aumentar ainda mais o desemprego
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Sem dinheiro: segundo economista, o corte de crédito das três agências vai aumentar ainda mais o desemprego (Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 29 de fevereiro de 2016 às 21h17.

São Paulo - A agência de classificação de risco Moody's anunciou nesta quarta-feira (24) o rebaixamento da nota de crédito do Brasil. A Moody's era a última agência entre as três maiores que mantinha o país como grau de investimento.

A nota caiu de Baa3, último nível de grau de investimento, para Ba2. Em dezembro, a agência havia sinalizado que poderia cortar a nota do país, ao revistar a perspectiva de "estável" para "negativa".

O anúncio ocorreu exatamente uma semana após a Standard & Poor's cortar pela segunda vez a nota do país nos últimos cinco meses. Em dezembro, a Fitch rebaixou a nota do país e retirou o selo de bom pagador.

Mas, na prática, o que isto significa para todo o país e para os brasileiros?

Basicamente, o grau de investimento é um selo de qualidade que assegura aos investidores um menor risco de calote.

É a partir deste selo que os investidores avaliam se vale a pena investir em ativos do país ou se a possibilidade de ganhos (como os juros) compensa o risco de perder o capital investido com a instabilidade econômica interna.

Isto significa que, enquanto o Brasil tinha contava com o selo das agências, ele tinha credibilidade de um "bom pagador".

Agora, sem este selo das três maiores agências do mundo, o país receberá menos capital de investimentos e o crédito ficará mais caro, explica Luciano D'Agostini, economista da COFECON (Confederação Federal de Economia) e pós-doutorando da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O corte da nota de crédito e a retirada do selo de bom pagador das três maiores agências de classificação de risco tem um primeiro impacto no mercado financeiro.

Isto porque grandes fundos de pensão e investimento internacionais têm que sair do país, pois eles têm cláusulas que proíbem sua permanência em países que não possuem grau de investimento.

"O Brasil está perdendo o chamado 'dinheiro bom', que é aquele que causa menos volatilidade, que não é o especulativo. São investimentos estrangeiros de longo prazo. Agora teremos em maior quantidade o chamado 'dinheiro ruim', que é o especulativo, que fica pouco tempo e causa volatilidade de preços", conta.

Em um segundo efeito, as empresas são afetadas. Se o Brasil perdeu o título de "bom pagador", as empresas brasileiras perdem essa "janela" para capitar recursos com juros mais atrativos.

A lógica é simples: se aumenta o risco de calote, os juros de empréstimos serão mais altos. Além disso, para atrair investidores, o retorno do investimento terá de ser maior.

Se a empresa tem um custo maior para se manter e crescer, ela terá de reduzir a produção e os gastos. Ou seja, diminui a oferta de produtos e serviços -- o que impacta nos preços e pressiona a inflação --, e freia a geração de empregos, já que a firma está produzindo menos.

"Essas demissões não são causadas porque somos ruins, mas porque a gente está fora de um sistema muito simples: rentabilidade do negócio", diz o economista da COFECON. "Não adianta ter a mesma estrutura se menos dinheiro vai entrar."

Segundo D'Agostini, o corte de crédito das três agências vai aumentar ainda mais o desemprego. "Em um ou dois meses já estaremos com uma taxa de desemprego batendo os dois dígitos. E ela vai permanecer nos próximos dois anos, no mínimo."

Além de pressionar a inflação e aumentar o desemprego, o crédito para a pessoa física e para os pequenos negócios vai aumentar.

"Para tornar os títulos públicos e outros investimentos indexados à Selic mais atraentes, o Banco Central deve continuar aumentando a taxa básica de juros". Hoje, a Selic está a 14,25% por ano, uma taxa considerada bem elevada por economistas.

Isto significa que os juros do seu cartão de crédito, empréstimo bancário, financiamento imobiliário, entre outros, vão ficar mais caros.

Por fim, outro conhecido vilão da inflação e de quem pretende viajar pra fora volta a assustar. "O dólar pode chegar a R$ 4,50 ou R$ 5 neste ano, o que certamente vai impactar nos preços dos importados", disse D'Agostini, acrescentando que:

"Como reflexo, o Brasil está ficando mais pobre. Com menos dinheiro circulando e diminuição da produção, aumenta a pobreza, aumenta o desemprego e temos juros astronômicos. Este é um ciclo negativo que só vai ter fim quando tivermos uma mudança no plano econômico."

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