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Com preços baixos, trigo de alta qualidade vira opção para ração

Brasil deverá registrar uma grande safra de trigo, após ter sido prejudicado por chuvas que afetaram volumes e qualidade dos grãos em 2015

Trigo: grande safra e preços baixos tem chamado a atenção de criadores de aves e suínos (AFP/Elise Menand)
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Reuters

Publicado em 4 de novembro de 2016 às 10h56.

São Paulo - Indústrias de aves e suínos estão encontrando no trigo , mesmo nos grãos de alta qualidade que geralmente vão para a fabricação de farinha, um substituto mais barato para o milho, em um momento de inversão histórica de preços com potencial de agitar os mercados e resultar em mais importações do cereal pelo Brasil.

O país está em meio à colheita de uma grande safra de trigo, após ter sido prejudicado por chuvas que afetaram volumes e qualidade dos grãos em 2015. Ao mesmo tempo, o Brasil enfrenta ainda reflexos da escassez de milho --principal insumo da ração animal--, após quebras de safra e fortes exportações.

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No Rio Grande do Sul, por exemplo, uma tonelada de trigo da nova safra é negociada com produtores do município de Carazinho a 580 reais, ante 733 reais da cotação do milho, segundo a consultoria Safras & Mercado. Um ano atrás, a situação era praticamente inversa: 700 reais pela tonelada do trigo e 580 reais pelo milho.

"A gente nunca teve uma situação como essa, em que o trigo está mais barato que o milho nas regiões produtoras", destacou o analista da Safras Élcio Bento.

O uso do cereal na composição da ração, em função da inversão de preços, já havia sido verificado mais cedo neste ano, com grãos da safra de 2015, quando as cotações do milho atingiram níveis recordes. Isso depois fez moinhos terem de recorrer, de forma surpreendente, a maiores volumes do produto dos Estados Unidos.

Negócios de compra antecipada de trigo para ração já ocorreram em setembro e novas aquisições estão sendo avaliadas pelas granjas, o que reduz a disponibilidade do cereal para os moinhos, potencialmente elevando no futuro novamente a necessidade de importação pelo Brasil, um dos maiores compradores globais da matéria-prima da farinha.

Por questões técnicas, o trigo passa a ser considerado um substituto viável quando seu preço fica abaixo de 90 por cento do custo do milho.

Em geral, devido aos preços normalmente mais elevados, o trigo é ofertado para indústrias de ração apenas quando tem qualidade imprópria para o consumo humano. Atualmente, contudo, indústrias de aves e suínos estão de olho na possibilidade de comprar inclusive trigo com qualidade para panificação.

"Se o departamento de nutrição liberar, e a relação for positiva nos cálculos de ração, não tem por que não comprar", disse um executivo de compras de uma grande indústria brasileira, dizendo que tem encontrado oportunidades de negócio com trigo para abastecer granjas em toda a região Sul.

O Brasil produziu cerca de 5,5 milhões de toneladas de trigo em 2015, segundo dados oficiais.

A consultoria Trigo & Farinhas estima que 200 mil toneladas daquela safra (120 mil no Paraná e 80 mil no Rio Grande do Sul) foram destinadas para ração, majoritariamente grãos com qualidade abaixo do recomendado para pães, biscoitos ou massas.

Por outro lado, a nova safra do Paraná está sendo finalizada com grãos de ótima qualidade e a previsão é que indústrias de ração comprem 120 mil toneladas de trigo paranaense, e mais 180 mil toneladas no Rio Grande do Sul, totalizando 300 mil toneladas.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima a colheita brasileira em um recorde de 6,3 milhões de toneladas em 2016. A grande safra nacional e na Argentina está pressionando os preços do cereal.

Indústrias adaptadas

"Isso (maior uso de trigo na ração) ocorre por causa do preço. As fábricas já adaptaram as suas fórmulas para o trigo", disse o diretor da Trigo & Farinhas, Luiz Carlos Pacheco.

Na opinião do diretor da corretora VD Agro, Vitor Dutra, que atua na aquisição de milho para indústrias e granjas do Rio Grande do Sul, a oportunidade de aquisição de trigo para ração deverá ser utilizada neste momento principalmente por pequenas empresas, que costumam operar com estoques curtos.

"No segundo trimestre, principalmente em maio e junho, a indústria passou pela pior crise de abastecimento de milho da última década. Ela se obrigou a buscar alternativas de abastecimentos, como milho do Paraguai e Argentina. O trigo que precisavam, compraram antes, pagaram até um pouco mais caro", disse o corretor, destacando que a maior parte dos estoques de grandes indústrias está garantido.

"No momento, o mercado está praticamente travado", disse.

Além da produção nacional, o Brasil costuma buscar quase metade de seu consumo de trigo no exterior, principalmente de parceiros do Mercosul, como a Argentina.

Na atual temporada, a previsão da Conab é que país compre no exterior 5,3 milhões de toneladas. Não há estimativas ou previsões para eventuais importações de trigo para ração.

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