Economia

Com peso em baixa, vinícolas da Argentina superam recessão

O número de turistas estrangeiros em Mendoza subiu 58% em fevereiro em relação ao ano anterior, bem acima do aumento de 19% para todo o país

Colheita e produção de vinhos na Bodega Santa Julia Vineyard, Mendoza, Argentina. 23 de março de, 2017. Foto: Sarah Pabst/Bloomberg (Sarah Pabst/Bloomberg)

Colheita e produção de vinhos na Bodega Santa Julia Vineyard, Mendoza, Argentina. 23 de março de, 2017. Foto: Sarah Pabst/Bloomberg (Sarah Pabst/Bloomberg)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 20 de abril de 2019 às 08h00.

Última atualização em 20 de abril de 2019 às 08h00.

O setor vinícola da Argentina tem conseguido enfrentar a recessão do país com o aumento do turismo e das exportações, em parte devido à desvalorização da moeda, que deixa os produtos de classe mundial do país mais baratos.

O número de turistas estrangeiros em Mendoza, polo de vinhos da Argentina, subiu 58% em fevereiro em relação ao ano anterior, bem acima do aumento de 19% para todo o país, segundo dados do governo divulgados na semana passada. As exportações de vinho aumentaram 8% este ano, contrastando com um declínio geral nas exportações argentinas durante o mesmo período.

A Argentina tem sido afetada por uma combinação de inflação acelerada e a segunda recessão em três anos. Políticas equivocadas no ano passado minaram a confiança dos investidores, levando o peso a perder metade do valor em relação ao dólar americano e forçando autoridades a buscarem bilhões do Fundo Monetário Internacional. Embora o setor de vinho não esteja de modo algum imune à desaceleração, há sinais de que tem conseguido superar o momento adverso.

"Nosso restaurante está cheio todos os dias", disse Labid Ameri, presidente da vinícola Domaine Bousquet, em Tupungato, uma cidade na província de Mendoza. "A desvalorização do peso tem a ver em parte com o aumento do turismo."

O número de visitantes do vinhedo de Ameri, que produz vinhos orgânicos, aumentou 55% de novembro a março, que é a temporada de pico, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Ameri disse que as vendas cresceram em ritmo semelhante, e que o movimento de visitantes é tão intenso que decidiu construir uma pousada na vinícola, com previsão de abertura em agosto. Ameri exporta a maioria da produção.

O maior turismo em Mendoza em fevereiro segue desempenho semelhante em janeiro e dezembro. O número de turistas brasileiros quase dobrou no quarto trimestre do ano passado, enquanto os norte-americanos chegaram em maior número e dobraram seus gastos por dia.

Para Alejandro Vigil, que divide o controle de um dos vinhedos mais famosos da Argentina, o Catena Zapata, o negócio está em plena expansão. As visitas às vinhas da empresa subiram 53% este ano, e as vendas tiveram aumento de 40%. O vinho "Gran Enemigo" produzido pela empresa custa cerca de US$ 60-70 nos Estados Unidos, mas apenas 1,5 mil pesos (US$ 36) na Argentina.

De qualquer forma, os problemas da Argentina ainda reverberam entre os produtores de vinho. O país tem a maior taxa de juros do mundo, de 66%, o que dificulta os esforços para obter empréstimos e obter lucro. A produção de vinho requer investimentos antecipados em bens, como tanques e equipamentos para a colheita.

A desvalorização do peso encareceu peças importadas, como rolhas e caixas, e há sinais de enfraquecimento do consumo por parte de argentinos com dificuldades financeiras. Como resultado, os vinhedos com foco no mercado doméstico estão sob pressão, segundo Ameri.

"Vejo muitas vinícolas que dependem do mercado interno e que estão com problemas", disse. "Ninguém no mundo pode aguentar uma taxa de 60%."

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