Economia

Com dificuldade de pagar contas, empresas podem começar quebradeira

Passado o fundo do poço para a atividade, companhias ainda lutam para sobreviver, mas muitas delas não vão conseguir, dizem especialistas

Comércio fechado no Rio de Janeiro: isolamento social foi decretado por conta do coronavírus. 24 de março de 2020. (Buda Mendes/Getty Images)

Comércio fechado no Rio de Janeiro: isolamento social foi decretado por conta do coronavírus. 24 de março de 2020. (Buda Mendes/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 31 de julho de 2020 às 16h45.

Última atualização em 31 de julho de 2020 às 17h54.

Passado o fundo do poço para a atividade, muitas empresas que conseguiram se manter até agora podem estar com o combustível perto do fim.

Na segunda quinzena de junho, mais da metade dos negócios em funcionamento (52,9%) ainda tinham dificuldades para pagar as contas do dia a dia, segundo pesquisa do IBGE.

No total, o instituto considera um universo de 2,8 milhões de empresas, das quais 62,4% informaram que a pandemia ainda afeta negativamente suas atividades.

Na primeira quinzena de junho, quando a pesquisa Pulso Empresa começou a ser feita, o número de empresas abertas, mesmo que parcialmente, era de 4 milhões.

"Quem chegou até aqui estava mais preparado de algum jeito, mas infelizmente o cenário para os próximo meses não é bom", diz David Kallás, professor e coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper.

O quadro é mais grave entre os micro e pequenos empresários, que sofreram mais durante a crise e que terão mais dificuldade de se reerguer, segundo o professor: "Não é possível reverter três ou quatro meses de queda abrupta do faturamento de uma hora para outra", diz.

O IBGE mostra que, para metade das empresas em atividade (50,7%), houve redução nas vendas na segunda metade de junho. Esse contingente é formado majoritariamente de empresas de pequeno porte. Entre os grandes, o impacto foi pequeno ou inexistente no período para 41,2%.

As empresas grandes estão mais preparadas para esse tipo de situação e também têm muito mais facilidade para tomar crédito, explica Kallás: "O fato de as empresas menores não serem tão bem estruturadas e de terem poucas garantias para oferecer em troca de empréstimos prejudicou muito o setor", diz Kallás. 

Crescer consome caixa

`Com o caixa das empresas prejudicado, o especialista prevê ondas de quebradeiras pela frente: "Crescer consome caixa. Empresas tiveram, de repente, de parar, mas não com as contas. Para voltar a crescer, será preciso refazer estoques, o que geralmente é pago a vista, depois tem que esperar o cliente aparecer... Em muitos casos, a receita não aguenta", diz.

A partir de agora, segundo o especialista, começa um processo longo e difícil de retomada para quem sobreviveu independentemente de a vacina contra a covid-19 ser anunciada: "Se a vacina sair na semana que vem, mesmo assim não vai ter retomada fácil, vamos ver uma massa de gente desempregada, descapitalizada, então nós vamos pagar essa conta aqui por um tempinho".

O risco de uma quebradeira entre as empresas menores deve ser monitorado sobretudo durante o terceiro trimestre, segundo Arthur Mota, economista da Exame Research: "O governo tem feito de tudo para segurar um número menos volumoso de quebradeira, mas não consegue salvar todos", diz

O mais importante agora, segundo o economista, é acompanhar os índices de confiança dos empresários e os que medem a atividade de indústria, comércio e serviços, que vem apresentando retomada, ainda lenta.

As pequenas empresas são responsáveis por mais da metade de todos os empregos com carteira assinada do país e têm participação de quase 30% no Produto Interno Bruto (PIB), por estarem, na maioria das vezes, ligadas ao setor de serviços.

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