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Com coronavírus, comércio já demite e cortes podem atingir 5 milhões

Empresários já vêm de um longo período de vendas fracas e não têm caixa para manter impostos, aluguel de ponto e salários com os empreendimentos fechados

Coronavírus no Brasil: comerciantes tentam renegociar os contratos de locação, assim como prolongar os pagamentos dos fornecedores (DANIEL TEIXEIRA/Estadão Conteúdo)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 20 de março de 2020 às 12h54.

Última atualização em 20 de março de 2020 às 14h25.

Em meio às ordens para fechamento de shopping centers ao redor do país e após três dias de isolamento voluntário da população, como tentativa de conter a escalada dos casos de coronavírus nas principais cidades, os varejistas refazem as contas, renegociam pagamentos a fornecedores e dizem que, inevitavelmente, começarão a demitir seus funcionários a partir da semana que vem.

Estimativas de entidades patronais, como a Associação Brasileira das Lojas Satélites (Ablos), que reúne as lojas maiores dos shoppings, e a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), falam em até 5 milhões de desempregados no comércio pelo País, até o fim de abril.

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Segundo Paulo Solmucci, da Abrasel, os empresários já vêm de um longo período de vendas fracas e não têm, neste momento, caixa para manter impostos, aluguel de ponto e folha salarial com os empreendimentos fechados. "A situação já estava péssima, agora ficou dramática", diz.

Já Tito Bessa Júnior, da Ablos, afirma que o capital de giro dos comerciantes mal consegue suprir um mês fraco de vendas, o que dirá cinco semanas sem faturamento - a maioria das ordens de fechamento vão da semana que vem até o fim de abril.

"Eu mesmo vou demitir cerca de 40% dos meus funcionários a partir da semana que vem", diz Bessa Júnior, que também é dono da rede TNG com 170 lojas e 1.600 funcionários. "Acabei de encerrar o contrato com a empresa de limpeza, hoje (ontem) já cortei o pessoal que presta serviço para o TI e, na semana que vem, vou ter de dispensar 500 pessoas das operações das lojas."

Férias coletivas

Segundo ele, os shoppings centers empregam direta e indiretamente 4 milhões de pessoas pelo Brasil . Se a situação permanecer como está, a tendência é que a metade seja liberada pelas empresas. "Eu estou há três dias conversando com lojistas e todos dizem que vão cortar 50%, 40%. Alguns vão dar férias coletivas primeiro, mas a partir de abril não tem o que fazer", conta.

O advogado Leonardo Tavano, do escritório Tavano Maier Advogados que atende a grupos como Vivara, Cinemark, Etna e Restoque (dona das marcas Le Lis Blanc, Dudalina, John John), diz que sua equipe trabalha sem parar nas últimas 72 horas preparando demissões e alternativas, como redução de jornada de trabalho de 25%, férias individuais e coletivas.

"O que estou vendo é que as lojas vão fechar unidades, principalmente aquelas que já vinham com baixa performance, e enxugar de 30% a 50% do o quadro de colaboradores."

Além das demissões, os comerciantes tentam renegociar os contratos de locação, assim como prolongar os pagamentos dos fornecedores. "Imposto, aluguel de shopping, essas coisas esquece, não vou pagar. A minha meta é preservar a maior quantidade possível de empregos", conta Angelo Augusto de Campos Neto, da MOB, com 34 lojas.

"Estou tentando conversar com os shoppings para ver se eles paralisam a cobrança de aluguel e condomínios, já que estamos fechados mesmo", conta Andrea Duca, da Gregory, com 62 lojas. Ela vai dar férias coletivas aos funcionários e começar a demitir os vendedores comissionados. "Vamos agora cortar os funcionários que ainda não concluíram o período de experiência, deve dar uns 100", diz.

Para o economista Claudio Felisone de Angelo, coordenador do programa de administração de varejo da FIA, os comerciantes não têm outra alternativa a não ser reduzir o quadro de funcionários. "É uma decisão muito dura, mas é isso ou quebrar."

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