Economia

Chuva abaixo do esperado aumenta preços no mercado de energia

Perspectivas começaram promissoras para os reservatórios em dezembro, mas recuaram fortemente a partir da metade do mês

Chuva: preços no mercado livre de eletricidade dispararam nos últimos dias (Issei Kato/Reuters)

Chuva: preços no mercado livre de eletricidade dispararam nos últimos dias (Issei Kato/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 3 de janeiro de 2019 às 20h37.

São Paulo - Os preços no mercado livre de eletricidade dispararam nos últimos dias, em meio a uma frustração de expectativas com os volumes de chuva na região das hidrelétricas no país, segundo especialistas.

As perspectivas começaram promissoras para os reservatórios em dezembro, mas recuaram fortemente a partir da metade do mês e tiveram um mau início em janeiro, disseram eles.

A geração hídrica é a principal fonte de energia do Brasil, o que faz a hidrologia influenciar fortemente nos preços, principalmente no mercado livre, onde grandes consumidores, como indústrias, negociam contratos de suprimento diretamente com os fornecedores.

Assim, a confirmação de um cenário hidrológico mais pessimista poderia pressionar ainda mais custos no mercado livre ou até aumentar as chances de sobretaxas para os consumidores residenciais, ao acionar a cobrança das chamadas bandeiras tarifárias na conta de luz, embora riscos de suprimento sejam descartados por ora.

"A gente acha que acendeu um sinal amarelo, mas do ponto de vista de preço, não de suprimento, que está bem tranquilo. Vimos uma escalada de preços forte agora... um contrato para o primeiro trimestre, que (em meados dezembro) era negociado abaixo de 100 reais (por megawatt-hora), hoje está perto de 180 reais", disse o diretor da comercializadora de energia True, Gustavo Arfux.

"Dezembro não foi bom como se esperava, havia uma expectativa muito positiva. Janeiro também não está bom... mas ainda pode mudar esse quadro, ainda não está condenado o 'período úmido", acrescentou ele, em referência à época em que as usinas hídricas recebem mais água no Brasil, entre novembro e março.

"O que chove nesse período impacta o ano todo... em cada mês desses chove o triplo do que chove em um mês como agosto ou setembro, e nosso sistema é muito hidrelétrico", afirmou o diretor da comercializadora FDR Energia, Erick Azevedo.

Chance de mudança?

Ele alertou, no entanto, que variações positivas na previsão de chuvas para janeiro e fevereiro ainda podem levar a uma nova reversão de expectativas. Um fator que poderia ajudar, por exemplo, seria a tendência de haver um El Niño moderado, o que favoreceria chuvas na região Sul.

O CEO da consultoria Pontoon-E, Marcos Severine, também avalia que há tempo para novas mudanças e que o cenário deve ficar mais claro a partir do próximo mês --ele vê chances de alguma melhoria nas precipitações no final de janeiro, embora ressalte que seria difícil os preços devolverem todo o salto visto nos últimos dias.

"Para voltar ao patamar anterior, teria que chover acima da média... mas se fevereiro chegar muito ruim, aí o mercado faz apostas mais pesadas", disse.

Os preços spot da energia, de curto prazo, também foram fortemente afetados pelas chuvas abaixo do esperado, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que calcula essas cotações, conhecidas no mercado como Preço de Liquidação das Diferenças (PLD).

"Uma expectativa menos otimista do cenário hidrológico impactou diretamente no PLD médio projetado para 2019, saindo dos 89 reais por MWh projetados anteriormente para 142/MWh no submercado Sudeste/Centro-Oeste", disse a CCEE em nota nesta quinta-feira.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) chegou a prever em novembro que as hidrelétricas do Sudeste receberiam chuvas em 121 por cento da média histórica em dezembro, contra 94 por cento verificados de fato ao final do mês. A região concentra os maiores reservatórios.

Em janeiro, as projeções iniciais do ONS são de chuvas em 82 por cento da média nas usinas do Sudeste.

Além da incerteza sobre as chuvas, o otimismo de empresários e consumidores com o novo governo do presidente Bolsonaro também poderia pressionar o mercado de energia, ao aumentar o consumo em caso de retomada da economia, escreveram analistas da corretora Brasil Plural em nota a clientes nesta quinta-feira.

Esse cenário, se aliado à continuidade de chuvas ruins, impactaria empresas que operam hidrelétricas, que já têm enfrentado déficit de geração nos últimos anos devido ao baixo nível dos reservatórios, uma vez que levaria a um uso maior de termelétricas.

"O negócio de geração, apesar de ter bons fundamentos de longo prazo, está em uma fase de incerteza, pois o nível dos reservatórios permanece baixo. Se associado a uma nova mudança na previsão de chuvas combinadas e a um crescimento maior do que o esperado na economia... o déficit hidrológico e preços spot de energia estariam pressionados", apontaram os analistas.

Acompanhe tudo sobre:ChuvasContasEnergia

Mais de Economia

China e Brasil: Destaques da cooperação econômica que transformam mercados

'Não vamos destruir valor, vamos manter o foco em petróleo e gás', diz presidente da Petrobras

Governo estima R$ 820 milhões de investimentos em energia para áreas isoladas no Norte

Desemprego cai para 6,4% no 3º tri, menor taxa desde 2012, com queda em seis estados