Economia

China pode ter dívida oculta de US$ 5,8 trilhões com risco titânico

Os governos regionais podem ter acumulado esse valor, ou até mais, o que indica que haverá mais calotes, segundo a S&P

Com a desaceleração da economia e a cota insuficiente para a emissão de títulos dos governos locais estabelecida por Pequim, autoridades têm recorrido ás instituições de fomento para obter financiamento para infraestrutura (SeanPavonePhoto/Thinkstock)

Com a desaceleração da economia e a cota insuficiente para a emissão de títulos dos governos locais estabelecida por Pequim, autoridades têm recorrido ás instituições de fomento para obter financiamento para infraestrutura (SeanPavonePhoto/Thinkstock)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 16 de outubro de 2018 às 16h31.

São Paulo - Os governos regionais da China podem ter acumulado 40 trilhões de yuans (US$ 5,8 trilhões) em dívidas fora do balanço, ou até mais, o que indica que haverá mais calotes, segundo a S&P Global Ratings.

“O possível tamanho da dívida é um iceberg com riscos de crédito titânicos”, escreveram analistas de crédito da S&P liderados por Gloria Lu em relatório divulgado nesta terça-feira. Boa parte da dívida acumulada está relacionada a veículos de financiamento dos governos locais (LGFVs, na sigla em inglês) que não necessariamente têm respaldo financeiro pleno dos governos locais.

Com a desaceleração da economia nacional e uma cota para a emissão de títulos dos governos locais estabelecida por Pequim que é insuficiente para financiar projetos de infraestrutura para respaldar o crescimento regional, autoridades de todo o país têm recorrido aos LGFVs para obter financiamento, segundo a S&P. Isso deixou os LGFVs “andando na corda bamba” entre a desalavancagem e a transformação de seus negócios em empresas estatais mais típicas, disseram os analistas da S&P.

As crescentes vulnerabilidades entre os LGFVs ocorrem em um cenário de ritmo recorde de calotes neste ano na China, que tem buscado mudar a prática usada há décadas da garantia implícita para dívidas.

Entre os LGFVs mais vulneráveis estão os seguintes, na análise da S&P:

- aqueles ligados a governos mais fracos de prefeituras, cidades ou distritos com pouca supervisão de empresas estatais;

- aqueles focados em atividades comerciais -- tendo assim importância reduzida para os governos locais;

- aqueles com riscos significativos de refinanciamento graças a grandes dívidas de curto prazo ou à dependência de empréstimos do setor bancário paralelo.

O foco no financiamento para sustentar o crescimento no nível regional reflete uma mudança mais ampla no governo central, que no ano passado estava focado na redução da alavancagem no sistema financeiro. Em essência, essa fase acabou, graças em parte à escalada da guerra comercial com os EUA, segundo analistas do Citigroup.

“Os mercados estão certos, na nossa visão, em se preocuparem mais com a sustentabilidade da dívida da China e com os riscos financeiros maiores”, disse Liu Li-Gang, economista-chefe do Citigroup para a China em Hong Kong. Ele também previu uma “pressão renovada” sobre o yuan.

Mesmo com a mudança do governo central em direção aos estímulos, no entanto, a S&P vê Pequim determinada a “disciplinar as práticas de financiamento dos governos regionais e seus LGFVs”. O possível resultado disso, contudo, é que as autoridades regionais não terão capacidade plena de manter os LGFVs adimplentes, e a conclusão é que “o risco de calote dos LGFVs está aumentando.

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaChinaCrise econômicaMercado financeiroTítulos públicos

Mais de Economia

Governo avalia usar saldo de Itaipu para isentar contas de luz de consumidores do Rio Grande do Sul

Efeitos das enchentes no RS na economia serão sentidos no PIB e nos preços, diz secretário

Petrobras: novo modelo de venda a distribuidoras deve reduzir preço do gás em até 10%

Petrobras anuncia redução nos preços do gás natural

Mais na Exame