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China estuda pedir a EUA que sejam flexíveis com acordo após coronavírus

Segundo fontes, Pequim pode consultar Washington para suavizar metas de compras de produtos americanos previstas na "Fase 1" do pacto

Guerra comercial EUA X China: o pacto selado entre as duas potências em 15 de janeiro deveria entrar em vigor em meados deste mês (MikeMareen/Getty Images)
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Agência O Globo

Publicado em 3 de fevereiro de 2020 às 17h53.

Pequim — Autoridades do governo chinês esperam que os Estados Unidos concordem em flexibilizar algumas promessas  de compras de produtos americanos feitas pelo país asiático no acordo comercial "Fase 1" que encerrou uma guerra comercial entre os dois titãs de quase dois anos. A informação vem de fontes a par da situação em Pequim, enquanto o governo tenta conter a crise gerada pela epidemia de coronavírus , que pode desacelerar o crescimento local e repercutir no mundo inteiro.

O pacto selado em 15 de janeiro deveria entrar em vigor em meados deste mês. Tem uma cláusula que diz que os dois países farão consultas mútuas "caso alguma catástrofe natural ou outro evento imprevisível" cause demora no cumprimento das ações estipuladas. Não se sabe se a China requereu uma consulta formal aos EUA, mas as fontes dizem que isso acontecerá em algum momento.

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Um porta-voz do representante americano para o Comércio, Robert Lighthizer, disse que Washington ainda não recebeu qualquer pedido chinês para discutir mudanças nos compromissos de compra de produtos americanos. O Ministério chinês do Comércio não respondeu imediatamente a um pedido de entrevista.

No primeiro ano do acordo, a China se comprometeu a comprar US$ 76,7 bilhões adicionais em produtos dos EUA, tendo como base as compras feitas em 2017, e mais US$ 123,3 no ano seguinte.

As aquisições de produtos agrícolas são importantes para o sustento dos fazendeiros americanos, que sofreram com a guerra comercial e são parte essencial da base de apoio político ao presidente Donald Trump.

Os preços futuros dos grãos de soja (uma das principais commodities que os chineses concordaram em importar) vêm caindo há nove dias, o que gerou temor sobre a baixa demanda do país asiático. Também houve baixa demanda chinesa por petróleo com a epidemia.

Em meio à turbulência, Pequim avalia se a meta de crescimento econômico para este ano deveria ser reduzida, segundo a Bloomberg.

EUA criam pânico, critica China

Enquanto a flexibilização não ocorre, houve aumento de tensão entre China e EUA.  Autoridades chinesas acusaram os Estados Unidos de criar pânico e reagir de forma inadequada ao surto de coronavírus, principalmente depois das medidas adotadas por Washington no fim de semana exigindo quarentena autoimposta de cidadãos americanos que cheguem de outros locais da China além da província de Hubei — onde fica a cidade de Wuhan, o epicentro da epidemia. (Já os viajantes que tenham estado no epicentro do surto precisarão de quarentena obrigatória.)

Finalmente, o governo Trump decretou que cidadãos estrangeiros que tenham passado recentemente pela China terão a entrada nos EUA barrada.

A chancelaria chinesa reagiu com veemência às medidas americanas. "Washington manipula e espalha o pânico sem cessar", disparou a porta-voz Hua Chunying. "Até a mídia e os especialistas americanos duvidam das decisões do governo e entendem que as restrições impostas pelos Estados Unidos são exatamente o que a OMS [Organização Mundial da Saúde] rejeita”, disse ela  no site do Ministério das Relações Exteriores chinês.

"São exatamente os países desenvolvidos como os EUA, com forte capacidade de prevenção de epidemias, que estão liderando a imposição de restrições excessivas, contrárias às recomendações da OMS", acrescentou Hua em sua crítica.

Ela lembrou que é fundamental que os países devem tomar decisões racionais, baseadas na ciência.

Em Genebra, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, reiterou que proibições de viagens são desnecessárias. "Não há razão para medidas que interfiram desnecessariamente nas viagens e no comércio internacional", disse Ghebreyesus.

Não houve comentário oficial de Washington sobre as críticas, mas o Centro de Controle de Doenças dos EUA afirmou que o país está negociando com a China uma oferta para enviar especialistas americanos a Pequim.

Problema é chinês, diz Kudlow

Mas, no front econômico, os EUA consideram o coronavírus essencialmente um problema chinês.

— Este é principalmente um problema de saúde pública, e a pandemia é na China, não nos EUA — afirmou o conselheiro econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, em entrevista na semana passada. — Até agora, na economia [americana], não vemos impacto material.

Perguntado se o problema dará mais vantagem aos Estados Unidos nas discussões da Fase 2 do acordo comercial, Kudlow disse que o surto "é totalmente separado do comércio, empregos e todo o resto".

— É o caso de ajudarmos os chineses se pudermos, oferecendo ajuda, trabalhando com eles, num esforço humanitário de nossa parte. Não tem nada a ver com rivalidades econômicas — afirmou.

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