CHINA E EUA: na segunda-feira, o governo americano começou a aplicar tarifas de 10% sobre produtos chineses no valor de US$ 200 bilhões por ano (Jason Lee/Reuters)
AFP
Publicado em 25 de setembro de 2018 às 07h24.
A China descartou nesta terça-feira seguir adiante com as negociações comerciais com os Estados Unidos após a imposição de novas tarifas por Washington, ao mesmo tempo que pediu "respeito mútuo".
A guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo se agravou na segunda-feira, quando o governo americano começou a aplicar tarifas de 10% sobre produtos chineses no valor de US$ 200 bilhões por ano.
"Os Estados Unidos acabam de adotar restrições comerciais muito importantes. Com a faca no pescoço desta maneira, como podem acontecer negociações? Não seriam negociações e consultas realizadas em pé de igualdade", declarou em Pequim o vice-ministro chinês do Comércio, Wang Shouwen, em entrevista coletiva.
Pequim prometeu retaliar imediatamente com tarifas de entre 5% e 10% sobre 60 bilhões de dólares em produtos americanos.
Há vários meses, o presidente Donald Trump exige da China o fim de práticas comerciais que considera desleais. Lamenta em particular que as empresa americanas que desejam investir no país asiático sejam obrigadas a compartilhar com companhias locais sua tecnologia, o que o republicano considera "roubo" de propriedade intelectual.
Os países organizaram várias reuniões para tentar solucionar as divergências. A última delas aconteceu em agosto, quando o vice-ministro chinês do Comércio, Wang Shouwen, visitou Washington.
O secretário americano do Tesouro, Steven Mnuchin, entrou em contato com os colegas chineses recentemente para retomar as negociações. Mas as novas tarifas de Trump parecem ter afundado a iniciativa
"As consultas terminaram com vários consensos e até uma declaração comum, mas os Estados Unidos abandonaram isto e adotaram medidas de restrição comercial. Neste contexto, não é possível seguir com as negociações", afirmou Wang Shouwe.
A guerra comercial entre Pequim e Washington foi ampliada nos últimos meses, apesar das advertências das empresas americanas a Trump sobre as consequências para a economia mundial.
As tarifas de importação que entraram em vigor na segunda-feira elevam o valor total das mercadorias chinesas afetadas a 250 bilhões de dólares, uma cifra que representa quase metade das exportações anuais da China para os Estados Unidos.
O gigante asiático respondeu às medidas com tarifas sobre produtos americanos no valor de 110 bilhões de dólares por ano, quase a totalidade das importações americanas a China.
A batalha comercial preocupa os analistas.
A agência de classificação financeira Fitch reduziu as perspectivas de crescimento do PIB chinês e prevê agora um aumento de 6,1% este ano (dois décimos a menos que na previsão de junho) e de 3,1% (um décimo a menos) em 2019.
As tarifas americanas anunciadas na segunda-feira afetam todo tipo de produtos chineses, desde memórias para computadores até fotocopiadoras e caixas eletrônicos.
As medidas de retaliação chinesas afetam 5.200 produtos americanos, incluindo gás natural liquefeito (GNL), componentes eletrônicos e preservativos.
Pequim, no entanto, não descartou completamente retomar as negociações no futuro.
"Do lado chinês estamos abertos à negociação para resolver divergências econômicas e comerciais. Mas se queremos que estas negociações sejam eficazes, temos primeiro que adotar um tratamento com igualdade e com respeito mútuo", disse Wang Shouwen.
"A retomada das consultas depende totalmente da vontade dos Estados Unidos", completou.