China aproveita crise para investir e ganhar força no Brasil
Entre 2012 e 2016, as empresas chinesas investiram no Brasil mais do que o dobro do investido pelas empresas dos EUA
João Pedro Caleiro
Publicado em 26 de abril de 2018 às 13h49.
Última atualização em 26 de abril de 2018 às 13h57.
A construção de um grande porto no Brasil é o tipo de projeto que dificilmente cairia nas mãos de uma empresa chinesa. Mas isso mudou depois que as maiores empresas construtoras brasileiras desmoronaram por investigações de corrupção da Lava Jato.
Depois de adquirir uma construtora brasileira no ano passado, a China Communications Construction, com sede em Pequim, iniciou em março as obras em um porto no Maranhão que exportará milhões de toneladas de produtos agrícolas por ano, principalmente soja para o mercado chinês.
O investimento de R$ 1,8 bilhão (US$ 520 milhões) está sendo financiado pelo Industrial & Commercial Bank of China, o maior banco do mundo em ativos, que se estabeleceu no Brasil em 2013.
O projeto faz parte de uma nova onda de investimentos realizados na maior economia da América Latina por empresas chinesas que começaram a apostar em logística, serviços, telecomunicações e até em instituições financeiras.
Vulnerável após uma recessão profunda e com o setor da construção em frangalhos, o Brasil está estendendo o tapete vermelho para essas empresas. Para a China, esta é uma oportunidade de garantir o acesso a recursos naturais e também de se fortalecer em uma região que tradicionalmente permaneceu sob a influência comercial dos EUA.
"O Brasil está tentando sair de uma enorme crise fiscal e nossa capacidade de investir está muito comprometida", disse Luiz Augusto de Castro Neves, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), uma organização sem fins lucrativos com sede no Rio de Janeiro e quase 80 empresas afiliadas, brasileiras e chinesas.
"Se dependesse de nós, não nos recuperaríamos tão cedo. Nesse sentido, o investimento chinês pode ser fundamental para acelerar a recuperação econômica do Brasil."
Um Cinturão, Uma Rota
Em 2017, o investimento chinês foi o maior em sete anos, US$ 24,7 bilhões, de acordo com o Ministério do Planejamento do Brasil. Entre 2012 e 2016, as empresas chinesas investiram no Brasil mais do que o dobro do investido pelas empresas dos EUA, em comparação feita com dados do Departamento de Comércio dos EUA.
O apetite pelo Brasil também aumentou porque o presidente Xi Jinping decidiu incluir o País em seu plano "Um Cinturão, Uma Rota" para investir US$ 1 trilhão em infraestrutura global.
Durante anos, as empresas chinesas investiram capital nos setores de recursos e energia do Brasil, mas áreas como serviços e construção civil, fortemente dominadas por nomes locais, eram praticamente inalcançáveis.
Isso mudou depois que as principais construtoras do país foram envolvidas na Operação Lava Jato. Até mesmo a líder Odebrecht, que na terça-feira informou que não honraria o pagamento de uma dívida que vencia na mesma semana, pode se tornar um alvo de aquisição para a China quando se livrar de seus problemas jurídicos, disse Castro Neves.
O que também mudou é a abordagem da China para investir no exterior. Antigamente, Pequim se concentrava principalmente nas commodities necessárias para apoiar o rápido crescimento de seu mercado doméstico, mas agora as empresas chinesas de serviços e tecnologia buscam cada vez mais se expandir nos mercados estrangeiros.
Um exemplo disso foi a compra, pela DiDi Chuxing, do serviço brasileiro de transporte 99 Táxis para competir com a Uber Technologies, com sede em São Francisco.