Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (Alan Santos/PR/Flickr)
Estadão Conteúdo
Publicado em 4 de outubro de 2021 às 13h47.
Última atualização em 4 de outubro de 2021 às 13h57.
Em meio aos reconhecidos ruídos sobre a ampliação do Bolsa Família, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, destacou nesta segunda-feira que a política fiscal também é parte importante do combate à inflação, já que a redução da curva longa de juros traz mais efeito para a economia para um mesmo movimento da taxa Selic.
"A credibilidade é o que faz a comunicação da política monetária. Credibilidade é super importante. Eu sempre dizia que o BC não era piloto, que o piloto era o fiscal. Mas o que eu queria dizer é que o fiscal é muito importante nesse momento para a gente ganhar credibilidade, para poder aumentar a transmissão de política monetária", comentou o presidente do BC, em evento na Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
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Campos Neto também observou que a sucessão de choques observados atualmente sobre a inflação não tem paralelo com a história recente e que também havia pouco conhecimento sobre o efeito do processo de reabertura em um período atípico como o da pandemia de covid-19.
"Fizemos política de aumentar os juros. Entendemos que é importante passar mensagem de credibilidade", disse ele, citando que a inflação é crescente em outros países que têm movimento de ajuste atrasado em relação ao Brasil.
O presidente do Banco Central afirmou ainda que a migração do consumo de bens para o de serviços com a reabertura da economia não está sendo tão rápida como o inicialmente esperado. "Velocidade de ajustes está muito lenta. O consumo de bens demanda mais energia e vemos gargalos na oferta", afirmou.
Na palestra proferida na Associação Comercial de São Paulo, ele ressaltou que há uma inflação de energia em diversos países, mas diferente da que acontece no Brasil.
Ele ressaltou ainda que há uma inflação contratada nos Estados Unidos pela questão imobiliária. "Tem também uma questão de frete. Quase todos os países estão sofrendo algum tipo de gargalo para entrega de produtos", completou.
Confiança
O presidente do Banco Central afirmou também que o Banco Central tem acompanhado a evolução dos índices de confiança dos agentes econômicos, que têm caído na ponta, mas ainda em níveis não muito aquém de antes da pandemia de covid-19.
Campos Neto destacou, porém, que a confiança do consumidor não se recuperou e apresenta uma diferenciação entre as classes de renda, com os grupos de alta renda acima da pandemia, mas as classes mais baixas em nível muito parecido com pior momento da pandemia. "Lembrando que, no pré-pandemia, isso não era tão visível."
Atividade
O presidente do BC repetiu que a atividade econômica já voltou ao nível pré-covid e que os indicadores do mercado de trabalho estão convergindo lentamente. Segundo Campos Neto, na visão do BC, o Caged mostra um cenário mais parecido com a realidade do que a Pnad.
Ainda em relação ao cenário fiscal, o presidente do BC repetiu que as perspectivas para a dívida são parecidas com o pré-pandemia, mesmo com todo o gasto. Campos Neto reafirmou que há influência da inflação, mas que há também outros efeitos estruturais na alta da receita.