Economia

Campeões em previsões dizem que Tombini não vai cumprir meta

A projeção mediana de todos os economistas ouvidos na pesquisa Focus é de uma alta de 6,5%. A meta de inflação é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais

“A credibilidade do Banco Central já está bastante arranhada”, disse Pedro Castro, economista da SPX Capital e um dos cinco que mais acertam na pesquisa Focus (Álvaro Motta/Veja)

“A credibilidade do Banco Central já está bastante arranhada”, disse Pedro Castro, economista da SPX Capital e um dos cinco que mais acertam na pesquisa Focus (Álvaro Motta/Veja)

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Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2011 às 07h34.

Nova York/Rio de Janeiro - Para os campeões de acertos das estimativas para a economia brasileira, o Banco Central não conseguirá cumprir a meta de inflação pela primeira vez desde 2003.

A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo vai fechar 2011 em 6,55 por cento, ou 0,05 ponto percentual acima do teto da meta, segundo os chamados “top 5”, que são os cinco economistas que mais acertam na sondagem semanal do BC com o mercado. A projeção mediana de todos os economistas ouvidos na pesquisa Focus é de uma alta de 6,5 por cento. A meta de inflação é de 4,5 por cento, com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.

O Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, presidido por Alexandre Tombini, cortou a Selic três vezes desde agosto para proteger a economia da crise de dívida da Europa, mesmo com a inflação superando o teto da meta em todos os meses desde abril.

“A credibilidade do Banco Central já está bastante arranhada”, disse Pedro Castro, economista da SPX Capital e um dos cinco que mais acertam na pesquisa Focus, em entrevista por telefone do Rio de Janeiro. “O Banco Central não vai gostar, mas é bom trazer para o mercado e para a mídia a questão da inflação de novo, uma luta que ainda não foi vencida.”

A taxa implícita de inflação, medida pela diferença entre o rendimento de títulos atrelados a índices de preço e prefixados com vencimento em 2013, subiu 25 pontos-base em relação à mínima de três meses alcançada em 28 de novembro, para 5,72 por cento. No México, a taxa similar estava em 3,46 por cento em 9 de dezembro, a menor em seis meses.

Estímulos monetários

O Brasil está entre os países que têm reagido à desaceleração da economia global com a injeção de estímulo monetário, mesmo com a inflação acima de suas respectivas metas. O Reino Unido está comprando títulos públicos para evitar uma recessão, mesmo com a inflação sendo mais que o dobro da meta de 2 por cento. Metade do Grupo dos 10 países desenvolvidos com regime de metas de inflação não está conseguindo atingir seus objetivos. O Banco Central Europeu já cortou juros duas vezes desde novembro.

No Brasil, o IPCA subiu 7,31 por cento nos 12 meses até setembro, o maior patamar em seis anos. No mês passado, índice desacelerou para 6,64 por cento.


Tombini, de 48 anos, baixou a Selic em 1,5 ponto percentual desde agosto. A economia brasileira se contraiu pela primeira vez em dois anos e meio no terceiro trimestre. De acordo com a negociação dos contratos de Depósito Interfinanceiro, os operadores apostam que Tombini vai reduzir o juro dos atuais 11 por cento para 9,75 por cento até julho, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Em comunicado enviado por e-mail, o BC se recusou a fazer comentários para esta reportagem.

Cortes “moderados”

Na ata da última reunião, no mês passado, o Comitê de Política Monetária disse que cortes “moderados” nos juros se alinham com a estratégia de baixar a inflação para “ao redor” de 4,5 por cento no ano que vem.

Na lista dos “top 5” que mais acertam projeções de curto prazo estão Banco Fibra SA, Banco BBM SA, Máxima Asset Management, SPX e Mauá Investimentos. A estimativa mediana de todos os 100 economistas sondados na pesquisa Focus do BC foi de 6,50 por cento este ano e de 5,42 por cento em 2012. Os economistas esperam que a inflação permaneça acima do centro da meta de 4,5 por cento até 2014.

A persistência de desvio da meta elevará as expectativas de aumentos de preços dos empresários e dos responsáveis por negociações salariais, deixando a inflação mais entrincheirada num país que lutava contra a hiperinflação ainda na década de 1990, segundo Alexandre Schwartsman, que foi diretor do BC.

“As expectativas de inflação vão ficar enraizadas, eventualmente aparecendo nas demandas salariais e por aí vai”, disse Schwartsman, que hoje tem sua própria consultoria, em entrevista por telefone de São Paulo. “Convencer as pessoas de que eles são sérios em relação à meta vai exigir muito mais esforço e juros muito maiores no futuro.”

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