Agricultura: a Ceagro Agrícola alegou “prejuízos significativos” devido às condições econômicas adversas (Arquivo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 27 de maio de 2015 às 17h59.
Ninguém previu a chegada desse calote. Antes de a Ceagro Agrícola Ltda., uma trader de commodities brasileira, dizer aos detentores de bonds no dia 22 de maio que não realizaria um pagamento de juros neste mês, as notas da empresa da emissão de US$ 100 milhões eram negociadas a cerca de 95 centavos de dólar.
Elas caíram rapidamente para uma baixa recorde de 20,6 centavos naquele dia. O calote -- o sexto deste ano no Brasil -- ressalta os perigos cada vez maiores enfrentados pelos credores das empresas expostas aos declínios dos preços das matérias-primas e do real.
A Ceagro Agrícola, que mencionou “prejuízos significativos” devido às condições econômicas adversas, seguiu o exemplo de duas produtoras de açúcar e de uma empresa de serviços petrolíferos e interrompeu os pagamentos de suas dívidas.
Diferentemente dessas outras empresas, o calote de agora foi um choque.
“Ninguém esperava isso”, disse Carlos Gribel, chefe de renda fixa da Andbanc Brokerage LLC em Miami. “Quase todas as commodities estão com problemas. É possível que vejamos mais alguns calotes”.
Tarcísio Borges, diretor de relações com investidores da Ceagro Agrícola, disse que a empresa sofreu uma “séria crise de liquidez”.
Ele disse que a empresa contratou a assessoria da KPMG LLP, que tem sede em Londres, e está procurando os serviços de um banco e de um escritório de advocacia estrangeiros para a ajudarem na reestruturação de US$ 100 milhões em bonds e de US$ 170 milhões em empréstimos bancários.
Em seu comunicado do dia 22 de maio, a Ceagro Agrícola, que tem sede em Campinas, São Paulo, disse que estava suspendendo todos os pagamentos de dívidas até concluir uma reestruturação.
Os problemas da Ceagro Agrícola pioraram porque os preços do milho e da soja que a empresa negocia caíram, enquanto o custo do fertilizante e dos pesticidas importados que ela fornece aos produtores subiu em reais. A moeda caiu 16 por cento neste ano, maior declínio entre os mercados emergentes.
“Temos visto muitas empresas não se protegerem como deveriam e isso as coloca sob um risco significativo”, disse Anderson Galvão, diretor da consultoria do agronegócio Celeres, de Uberlândia, Minas Gerais.
“Esta é uma operação que funciona bem se a commodity está subindo, mas quando cai, como ocorreu em 2014, ela literalmente desmorona”.
Antes do calote da Ceagro Agrícola, a Tonon Bioenergia já havia dado default no pagamento de uma dívida no início do mês, tornando-se a terceira produtora de açúcar e etanol a fazê-lo desde março de 2014.
Além das seis empresas com bonds denominados em dólares que decretaram calote neste ano, pelo menos mais duas interromperam pagamentos de dívidas locais na esteira de uma investigação de corrupção na estatal Petrobras.
Para David Tawil, fundador do fundo hedge Maglan Capital, é provável que ocorram mais calotes. Sete empresas estão sendo negociadas a níveis considerados como distressed, das quais cinco ainda estão em dia com o pagamento de dividas, segundo dados de índice compilados pelo Bank of America Corp.
“Além da Petrobras, pode haver outros elementos influenciando”, disse Tawil, por e-mail, de Nova York. “Haverá mais estresse”.