Economia

Calma dos mercados enerva banqueiros centrais do mundo

Segundo banqueiros, calma traz o risco de criar instabilidade a futuro e complicações para a política monetária


	William Dudley, presidente do Fed de Nova York: economista admitiu que a queda na volatilidade dos mercados “me deixa um pouco nervoso”
 (Scott Eells/Bloomberg)

William Dudley, presidente do Fed de Nova York: economista admitiu que a queda na volatilidade dos mercados “me deixa um pouco nervoso” (Scott Eells/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2014 às 23h36.

Londres - Os banqueiros centrais globais soaram o alerta pela calma nos mercados financeiros, dizendo que trazia o risco de criar instabilidade a futuro e complicações para a política monetária.

Vinte e quatro horas de advertências foram lideradas pelo reconhecimento do presidente do Banco da Reserva Federal de Nova York, William Dudley, de que a queda na volatilidade dos mercados “me deixa um pouco nervoso”.

O vice-presidente do Banco da Inglaterra, Charlie Bean, disse que as condições “evocavam sinistramente” a era prévia à crise, e o membro do conselho do Bundesbank Andreas Dombret disse que “nós vemos riscos sim apesar do fato de os mercados estarem calmos”.

A preocupação dos responsáveis pelas decisões políticas é que seu dinheiro barato esteja tornando os investidores complacentes, levando-os a buscar riscos e deixando os mercados propensos a uma reversão súbita similar à iniciada em 2007.

Refletindo a calma, o Índice de Riscos de Mercado do Bank of America Corp. atingiu seu menor valor em sete anos na semana passada.

“Talvez seja uma tentativa de abranger todos os mercados”, disse Peter Dixon, economista de ações globais do Commerzbank AG em Londres. “É uma tentativa de advertir que os mercados podem cair, bem como subir, o que será motivo de preocupação quando os banqueiros centrais começarem a subir as taxas”.

A complicação para os banqueiros centrais é que eles ainda precisam manter os estímulos pelo bem das suas economias, disse Lena Komileva, diretora de gestão da G Plus Economics em Londres.

O Banco Central Europeu está pronto para reduzir as taxas de juros logo no próximo mês no intuito de combater a baixa inflação, e o Fed continua comprando ativos mensalmente mesmo enquanto reduz o ritmo.

Funcionários do Banco da Inglaterra e do Fed também estão sinalizando que não planejam aumentar o custo de tomar empréstimos antes do ano que vem – e que então só o farão lentamente.

Demais

“As políticas estão trabalhando demais na economia financeira e menos na real”, disse Komileva. “Prolongar políticas generosas enquanto as recuperações estão em andamento poderia sair errado ao incentivar uma tomada de riscos excessiva”.

A dívida soberana de países como a Espanha e a Irlanda está pagando os menores rendimentos já registrados, ao passo que mercados imobiliários estão em alta do Reino Unido à Noruega.

As flutuações no mercado de moedas, de US$ 5,3 trilhões por dia, também estão perto do nível mais baixo desde 2007, segundo a JPMorgan Chase Co., e o índice MSCI de ações mundiais quebrou um recorde neste mês.

O Índice de Riscos de Mercado do Bank of America, que utiliza opções para prognosticar flutuações em ações, moedas, commodities e títulos, caiu para -1,22 em 14 de maio, o menor nível desde junho de 2007, dois meses antes que o BCE começasse a reagir às tensões no mercado monetário no começo da crise financeira.

Dudley, principal homem do Fed em Wall Street, disse ontem em Nova York que ele estava preocupado a respeito da volatilidade “excepcionalmente baixa” porque “não é só a renda fixa, é a renda fixa, são as moedas estrangeiras e são as ações”.

‘Sentido de complacência’

Bean, que sairá do cargo no mês que vem após 14 anos no Banco da Inglaterra, refletiu essa preocupação ao dizer que possivelmente haja um “sentido de complacência e uma subestimação do risco de mercado pelos investidores”.

Na zona do euro, Dombret disse em uma entrevista que a volatilidade baixa “leva os agentes do mercado a pensarem que eles não precisam se cobrir” e que novos riscos à estabilidade poderiam surgir à medida que os investidores procurarem retornos maiores.

O ambiente está alimentando a especulação com que o mundo esteja repetindo a “Grande Moderação” vista nas duas décadas prévias a 2007, quando os mercados se encontravam similarmente quietos, mas acabaram sendo turvados por uma série de falências bancárias imprevistas.

Desde que os responsáveis por decisões políticas estejam ajudando suas economias, o mais provável é que a calma do mercado permaneça, segundo estrategistas de moedas da Nomura Holdings Inc. liderados por Jens Nordvig em Nova York.

“As contínuas injeções de liquidez global feitas pelos principais Bancos Centrais podem continuar evitando aumentos na volatilidade por algum tempo”, disse a equipe da Nomura ontem em um relatório.

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