Bolsonaro em conferência dos Brics nesta semana: Guedes segue fazendo críticas de que há bloqueio nas agendas de privatização (Marcos Corrêa/PR/Flickr)
Bloomberg
Publicado em 20 de novembro de 2020 às 13h42.
Última atualização em 20 de novembro de 2020 às 18h19.
A equipe econômica quer evitar que o presidente Jair Bolsonaro ceda a tentações de abandonar a agenda de ajuste fiscal e abrace a visão de que é preciso continuar gastando no pós-pandemia. O presidente tem recebido documentos que mostram a importância de apoiar propostas como a PEC do Pacto Federativo e alertam para os riscos de o governo não retomar as reformas.
Há um temor de que, passada a disputa eleitoral nos estados, vozes como a do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, ganhem mais influência junto ao presidente. O fraco desempenho dos candidatos apoiados por Bolsonaro tenderia a reforçar a visão de que é preciso fazer mais investimentos nos estados, uma bandeira de Marinho, afirma uma fonte da área econômica. Marinho, no entanto, não seria um nome viável para comandar a Economia porque Paulo Guedes já conseguiu colar nele o rótulo de fura-teto.
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, por sua vez, é tão favorável à flexibilidade fiscal quanto Marinho, afirma esse interlocutor. Mas faz isso de forma sutil e não entra em rota de colisão com Guedes. Verdade seja dita, no caso de Freitas, essa tarefa é bem mais fácil. Os projetos que estão sob o comando de Freitas não dependem apenas do Orçamento da União. Há mecanismos que permitem que a renovação antecipada de concessões de ferrovias, por exemplo, esteja atrelada a investimentos cruzados em outras obras -- o que significa que o setor privado faz uma parte do trabalho.
Líderes governistas chegaram a estudar a possibilidade de propor ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, uma prorrogação do decreto de calamidade por seis meses, permitindo assim a extensão do auxílio emergencial em 2021, disse uma fonte que acompanhou as negociações com o Congresso. Essa seria a moeda de troca para apoiar Maia numa eventual reeleição para o comando da Câmara no ano que vem. O problema é que, além de Maia ter que pagar pelo acordo antecipadamente e esperar que o governo cumpra sua palavra, Bolsonaro, cada vez mais refém do centrão, continua focado na ideia de apoiar o nome de Arthur Lira.
Depois de fazer as pazes com o presidente da Câmara, Guedes não deu mais nome aos bois, mas continua dizendo publicamente que há rumores de um acordo de centro-esquerda para bloquear a agenda de privatizações no país. Nos bastidores, a equipe econômica afirma que Maia teria feito um acordo com os partidos da esquerda para conseguir apoio à ideia de uma reeleição para o comando da Câmara no início de 2021.
O Ministério da Economia tenta cada vez mais descolar o seu nome da proposta de criar um programa social para substituir o auxílio emergencial pago aos trabalhadores informais durante a pandemia.
Embora a ideia de que a direita precisava de um programa social para chamar de seu e fazer frente ao Bolsa Família tenha partido de Guedes, a falta de condições para cria-lo fora do teto de gastos se tornou um problema quase insolúvel. Assim, a bomba passou para o colo do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, que agora tem como principal plano apenas reforçar o Bolsa Família e turbinar o microcrédito para trabalhadores informais.
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