Brasileiros não estão satisfeitos com discurso de crescimento
Bancos esperam crescimento acima de 3% em 2018 enquanto metade dos brasileiros acredita que desemprego vai continuar aumentando
João Pedro Caleiro
Publicado em 20 de dezembro de 2017 às 12h29.
Última atualização em 20 de dezembro de 2017 às 15h23.
Membros do governo e um número crescente de analistas afirmam que a maior economia latino-americana está na iminência da retomada da economia. No entanto, os brasileiros estão decididamente menos otimistas.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, prometeu "o melhor Natal dos últimos anos" e a retomada do crescimento , enquanto analistas da UBS, BNP Paribas e BofA Merrill Lynch estão entre os que esperam aumento do PIB de pelo menos 3% em 2018.
Já nas ruas, as coisas não parecem tão positivas. De acordo com pesquisa Datafolha, mais de 50% dos brasileiros acreditam que a economia piorou nos últimos meses e que a inflação e o desemprego vão aumentar no futuro.
Em um shopping de Brasília, vendedores estão pessimistas. "No fim do ano, dá para sentir uma melhora, mas esse ano está diferente", diz Elineusa Amorim, aposentada de 57. "Nem parece Natal".
O sentimento popular na economia é importante já que o Brasil se prepara para as eleições de 2018. Enquanto governantes dizem que o sentimento de melhora é questão de tempo, a falta de expectativas dos cidadãos deve fortalecer os candidatos de extrema esquerda e direita.
"Existe diferença espantosa entre os que vivem no mundo das estatísticas e projeções e os que vivem o dia a dia", disse Carlos Melo, cientista político e professor do Insper, em entrevista.
"É estratégia do ministro da Fazenda pra vender otimismo. Ainda estamos muito longe do ponto em que os brasileiros podem se dizer satisfeitos".
Um membro do governo que pediu anonimato afirma que para que o sentimento positivo prevaleça, é necessário que os preços permaneçam baixos por mais tempo.
"Recuperação econômica está ganhando estabilidade", disse Luciano Rostagno, estrategista chefe do Banco Mizuho. "Obviamente, vai levar tempo para que as famílias resgatem hábitos de compra que tinham antes da crise".