Economia

Brasil recebeu US$ 3,4 bilhões desde o início da crise política

O resultado leva em conta o fluxo cambial registrado nas áreas financeira e comercial do dia 18 de maio até a última sexta-feira, 2 de junho

Michel Temer: números indicam que pressão política sobre governo Temer não provocou fuga generalizada de recursos (Ueslei Marcelino/Reuters)

Michel Temer: números indicam que pressão política sobre governo Temer não provocou fuga generalizada de recursos (Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 7 de junho de 2017 às 17h31.

Brasília - O estouro da crise política não interrompeu o bom momento do setor externo brasileiro.

Desde que surgiram as principais denúncias de executivos da JBS contra o presidente Michel Temer, o Brasil recebeu recursos líquidos da ordem de US$ 3,423 bilhões, conforme os dados mais recentes do Banco Central.

O resultado leva em conta o fluxo cambial registrado nas áreas financeira e comercial do dia 18 de maio até a última sexta-feira, 2 de junho.

Os números indicam que a pressão política sobre o governo Temer - que fez, inclusive, o dólar saltar ante o real no período - não provocou fuga generalizada de recursos.

Na área financeira, US$ 1,308 bilhão líquidos saíram do País no período. Esta conta reúne os investimentos produtivos por parte de estrangeiros e também os aportes feitos em ativos, como ações e títulos.

Inclui ainda as remessas de lucros e os pagamentos de juros.

Apesar do resultado negativo, o fluxo financeiro desde o estouro da crise esteve longe de indicar uma debandada dos estrangeiros do Brasil.

"A crise é preocupante para a área financeira, mas não houve - e antes também não havia - um sinal de fuga expressiva de capitais", avaliou o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria Integrada.

"Na verdade, o movimento financeiro tem sido predominantemente negativo ao longo dos últimos meses, mas não é desordenado. Não houve corrida após a crise."

O economista Bruno Lavieri, da 4E Consultoria, faz avaliação semelhante.

"O fluxo financeiro já vinha sendo negativo antes da crise política. Depois, ele se manteve numa dinâmica ruim", afirmou.

Lavieri chamou atenção ainda para o fato de o próprio dólar, apesar de ter chegado perto de R$ 3,40 logo após as denúncias contra o governo, acabou se acomodando em patamares menores nos dias seguintes, perto dos R$ 3,25.

"A impressão é de que o mercado continua muito leniente com a situação política do País. O risco, na nossa avaliação, é muito maior do que está sendo colocado no preço pelos agentes."

Pelo lado comercial, a crise contribuiu em um primeiro momento, mesmo que indiretamente, para a entrada de dólares no País.

Em 18 de maio, primeiro dia de reação do mercado brasileiro às denúncias, o fluxo comercial foi positivo em US$ 1,266 bilhão.

Naquele dia, exportadores aproveitaram o dólar mais elevado, perto dos R$ 3,40, para fechar operações de venda de moeda, o que inflou o fluxo. De 18 a 2 de junho, o País recebeu pela área comercial US$ 4,731 bilhões líquidos.

Os dados consolidados de maio, divulgados nesta quarta-feira, 7, pelo Banco Central, mostram que o País recebeu US$ 744 milhões líquidos no mês passado.

A cifra é resultado de entradas pela área comercial de US$ 5,965 bilhões e saídas pela via financeira de US$ 5,222 bilhões.

Para Campos Neto, da Tendências, a crise política tende a dificultar uma melhora do fluxo na área financeira nos próximos meses, justamente porque o risco político é grande.

"Por hora, não há perspectiva de uma entrada muito forte de recursos, diante das incertezas que cresceram nas últimas semanas. Mas uma piora exacerbada do fluxo dependeria de algum fato novo que coloque em risco a agenda econômica do governo", acrescentou.

Acompanhe tudo sobre:Delação premiadaeconomia-brasileiraGoverno TemerJBSJoesley BatistaMichel Temer

Mais de Economia

Boletim Focus: mercado eleva estimativa de inflação para 2024 e 2025

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega