Economia

Brasil inicia desequilíbrio macroeconômico, diz MB

Consultoria afirma que as políticas monetária e fiscal e as contas do setor externo sinalizam a necessidade de novas medidas de ajuste na economia, e prevê o debate sobre o retorno da CPMF

Mendonça de Barros alerta para os riscos macroeconômicos do Brasil (.)

Mendonça de Barros alerta para os riscos macroeconômicos do Brasil (.)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

São Paulo - A consultoria MB Associados, liderada por José Roberto Mendonça de Barros - que foi secretário de política econômica do Ministério da Fazenda no governo FHC -, avalia que o Brasil começa a entrar em desequilíbrio macroeconômico.

"Ainda é um processo muito incipiente, mas as indicações de políticas monetária e fiscal e as contas do setor externo sinalizam a necessidade de novas medidas de ajuste na economia, que deveriam vir com o próximo presidente. Enfatizamos que esse cenário de desequilíbrio trará conseqüências negativas no longo prazo, enquanto no curto prazo, o crescimento continuará ocorrendo", aponta relatório de conjuntura da consultoria assinado pelo economista-chefe, Sérgio Vale.

O departamento econômico diz que os documentos do Banco Central (BC) têm dificultado o entendimento de algumas decisões embora "a instituição tenha todo o direito de mudar sua posição e ser flexível na suas escolhas sobre a Selic". "O estranho no caso deste banco central é que parece ser um desvio de comportamento em relação ao que se estruturou desde o início das metas de inflação."

Segundo a MB Associados, o BC tem que se ater estritamente ao comportamento das expectativas e como levá-las para o centro da meta. Como estamos em meados de 2010, o ano relevante para o BC atuar é 2011. "Entretanto, a falta de preocupação do BC com a inflação levaria a crer que as expectativas estão cedendo normalmente num horizonte mais longo. Mas isto não é verdade. A média do Top Five do boletim Focus mostra que as expectativas de inflação estão novamente subindo para números acima da meta em 2011 e isso começou a acontecer quando o BC teve suas decisões contestadas ao longo do ano", segundo o relatório.

A consultoria afirma que ainda existem estímulos e espaço para crescimento da economia que justificam "plenamente" a apreensão do mercado com a inflação no ano que vem. "Nossa expectativa ainda é de 4,8%, pois achávamos que o BC teria dificuldade em manter a inflação sob controle mesmo sendo muito ativo. Por conta dessa certa leniência, nossas projeções de 2011 também serão revisadas para cima."

Com base na última ata do Copom, o departamento econômico da MB Associados prevê que os juros sejam elevados em 0,25 ponto percentual na reunião de setembro. "Dessa forma, uma Selic de 11% parece suficiente para o BC neste momento. E outra decisão diferente será mortal para a credibilidade do BC a esta altura. Dará a impressão de que o BC não tem a mínima ideia para onde está indo a inflação."


 

A antecipação do fim do ciclo de aperto monetário, segundo a consultoria, deixará uma inflação longamente acima da meta como herança. "Caberá ao próximo presidente restaurar a credibilidade do BC que se perdeu este ano. Mas até isto não parece ser garantia de que acontecerá."

A volta da CPMF?

A MB Associados diz ainda que a deterioração fiscal tem sido marcante nos últimos dois anos, num quadro ainda pior do que em 2006, último ciclo eleitoral.

"Implicitamente, parece haver uma tendência de um superávit primário pela metade da média ocorrida no governo Lula até 2008. Com crescimento mais fraco em 2011 e necessidade de gastos crescente, principalmente para investimentos, esse cenário de superávit fraco pode se consolidar."

A consultoria diz que "o pior disso é o governo acreditar que os estímulos fiscais podem ajudar no crescimento, como tem sido a tônica do governo nos últimos anos, diferente do governo anterior". A previsão é que esse padrão fiscal expansionista possa continuar ocorrendo no ano que vem apesar do risco de a receita não ser suficiente. "Discussões sobre a volta da CPMF, por exemplo, poderão voltar à tona no início do próximo governo", alerta o economista Sérgio Vale.

Riscos no setor externo

O relatório destaca a deterioração da conta corrente e diz que "há uma certa ilusão em acreditar que a China será suficiente para manter uma balança comercial elevada nos próximos anos e que, por isso, a conta corrente não seria um problema".

A consultoria prevê que as importações continuarão crescendo num ritmo superior ao das exportações. "A conta corrente deverá continuar em déficit nos próximos anos, aumentando o ritmo de piora também por conta de serviços. O envio de lucros e dividendos e os gastos com transportes e viagens deverão piorar em razão do crescimento da economia."

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