Economia

Brasil e EUA voltam a discutir a Alca sem disposição para abrir mão de interesses próprios

Brasil e Estados Unidos, países coordenadores das discussões sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), sentam-se à mesa de negociação, nesta terça e quarta-feiras (27 e 28/05), com aparente indisposição para chegar a um acordo. A delegação americana chega com a expectativa de receber o apoio do governo brasileiro para a efetivação da […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h33.

Brasil e Estados Unidos, países coordenadores das discussões sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), sentam-se à mesa de negociação, nesta terça e quarta-feiras (27 e 28/05), com aparente indisposição para chegar a um acordo. A delegação americana chega com a expectativa de receber o apoio do governo brasileiro para a efetivação da Alca até 2005, obedecendo o prazo da agenda inicial. O Brasil mantém firme sua posição de reerguer o Mercosul antes de amadurecer as conversações com os EUA.

A preferência pelo Mercosul foi destacada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua mensagem ao novo presidente da Argentina, Néstor Kirchner, que tomou posse no domingo (25/05). Lula reafirmou que o Mercosul é o caminho para o desenvolvimento do Brasil. Juntos (Brasil e Argentina), teremos melhores condições de combater as barreiras protecionistas dos países ricos , afirmou o presidente.

Do outro lado da mesa, o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Robert Zoellick, em sua segunda visita ao Brasil neste ano, deverá tentar convencer o governo brasileiro a aceitar a proposta de tarifas apresentada pelo governo americano ao Mercosul - que é a menos favorável entre as apresentadas aos países latinos agrupados em diferentes blocos - e a lista de produtos sensíveis ao acordo comercial, estipulada pelo congresso americano.

As perspectivas não são encorajadoras, na medida em que a oferta inicial americana não acena com reduções de barreiras para produtos como suco de laranja, carnes, calçados e têxteis , afirma o secretário-geral das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães Neto, na semana passada, em palestra no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Na manhã desta segunda-feira, Lula reuniu-se com os ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim; da Casa Civil, José Dirceu; da Fazenda, Antônio Palocci; do Planejamento, Orçamento e Gestão, Guido Mantega; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan; do Meio Ambiente, Marina Silva; da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral; e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, para acertar os detalhes da conversa com Zoellick de amanhã. "Ao Brasil, interessa uma negociação centrada em acesso a mercados e que as barreiras aos nossos produtos industriais e agrícolas sejam removidas. Barreiras tarifárias e não-tarifárias", afirma Amorim.

Alguns produtos manufaturados - especialmente têxteis e calçados - e outros agropecuários exportados pelo Brasil - como suco de laranja, soja e café - se destacam entre os que mais sofrerão, caso predomine a opinião dos Estados Unidos. Em razão disso, Roberto Rodrigues já reiterou que os subsídios agrícolas e as barreiras tarifárias criadas pelos americanos precisam ser discutidos entre os países que formarão a Alca e não na Organização Mundial do Comércio (OMC), como quer o governo Bush.

Para o diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, a reunião servirá para o Brasil realizar mais sondagens sobre os Estados Unidos e vice-versa. O país que pedir um alargamento do prazo (segundo o cronograma, a Alca começaria a valer em 2005) mostrará que se sente politicamente mais fraco que o outro , diz Castro.

O diretor da AEB argumenta que aprimorar as relações comerciais com os Estados Unidos é bastante importante já que o país recebe 25% das exportações brasileiras, sendo boa parte produtos manufaturados . Mas antes de fechar o acordo com os Estados Unidos, argumenta Castro, o Brasil precisa se fortalecer politicamente por meio do Mercosul.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) compartilha da mesma posição. O Mercosul é importante do ponto de vista político e estratégico pois ele é a base natural de lançamento do Brasil nas conversações com os Estados Unidos e com a União Européia , diz Osvaldo Douat, presidente do Conselho de Integração Internacional da CNI.

Douat defende que a discussão não seja interrompida diante dos impasses sobre as barreiras tarifárias e não-tarifárias. Para ele, deve-se manter a negociação abordando assuntos pouco explorados, como uma política de investimentos recíprocos ou o quanto as empresas americanas instaladas no Brasil ganhariam com a Alca.

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