Economia

Brasil cresce só 0,1% com gastos públicos

Economia brasileira saiu da recessão técnica no terceiro trimestre com um crescimento mínimo que mostra estagnação


	Economia brasileira: PIB do Brasil cresceu apenas 0,1 por cento no terceiro trimestre de 2014
 (REUTERS/Nacho Doce)

Economia brasileira: PIB do Brasil cresceu apenas 0,1 por cento no terceiro trimestre de 2014 (REUTERS/Nacho Doce)

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Da Redação

Publicado em 28 de novembro de 2014 às 20h46.

Rio de Janeiro/São Paulo - Puxada pelos gastos públicos, a economia brasileira saiu da recessão técnica no terceiro trimestre com um crescimento mínimo que mostra estagnação e dificuldade de recuperação mais consistente da atividade num momento em que o governo já indicou mais austeridade fiscal.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu apenas 0,1 por cento no terceiro trimestre de 2014, na comparação com os três meses anteriores, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.

Mesmo tendo ficado praticamente estagnado, o país saiu da recessão técnica - dois trimestres seguidos de contração - que havia entrado no semestre passado pela primeira vez desde a crise internacional de 2008/09.

Em relação ao terceiro trimestre de 2013, o PIB brasileiro registrou queda de 0,2 por cento.

A mediana de previsões de analistas consultados pela Reuters apontava para crescimento trimestral de 0,3 por cento e contração de 0,1 por cento na comparação anual.

"A questão é o que o Brasil está saindo mancando, e não saltando, da recessão. O crescimento trimestral mostra o tamanho do desafio da nova equipe econômica. Boa parte do crescimento veio de gastos do governo, que não vão continuar", afirmou o economista-chefe de mercados emergentes da Capital Economics, Neal Shearing.

Segundo o IBGE, o consumo do governo cresceu 1,3 por cento no trimestre passado sobre o período imediatamente anterior, o melhor desempenho desde o segundo trimestre de 2013, quando a expansão havia sido de 1,5 por cento.

Sobre o terceiro trimestre do ano passado, avançou 1,9 por cento agora. Esse desempenho, no entanto, parece estar com os dias contados, diante da formação da nova equipe econômica da presidente Dilma Rousseff, com perfil mais ortodoxo e discurso de mais rigor fiscal, com corte de despesas.

Na véspera, foi confirmado que Joaquim Levy assumirá o Ministério da Fazenda, enquanto Nelson Barbosa vai para o comando do Planejamento. Alexandre Tombini, que iniciou mais um ciclo de aperto monetário recentemente, continua à frente do Banco Central.

O Brasil tem convivido com inflação elevada e baixo ritmo de crescimento, o que afetou em cheio a confiança dos agentes econômicos.

Investimentos

No trimestre passado, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) --medida de investimento-- cresceu 1,3 por cento, interrompendo sequência de quatro trimestres seguidos de queda.

Mas ainda continua fortemente no vermelho na comparação anual, com queda de 8,5 por cento. Segundo o IBGE, houve queda na produção interna e importação de bens de capital.

A taxa de investimento do país foi a 17,4 por cento do PIB no último trimestre, a pior para esse período desde 2002 (17,2 por cento).

A indústria, por sua vez, teve expansão de 1,7 por cento entre julho e setembro, sobre o segundo trimestre, após ficar no vermelho por quatro períodos consecutivos.

A economista do IBGE, Rebeca Palis, lembra que, no segundo trimestre, houve menos dias úteis por conta da Copa do Mundo, o que ajuda na recuperação agora.

Segundo o IBGE, todos os subsetores da indústria apresentaram variação positiva, com destaque para extrativa mineral (2,2 por cento) e construção civil (1,3 por cento).

Mas, apesar da melhora na comparação trimestral, a indústria ainda mostrou contração de 1,5 por cento sobre um ano antes. Para o quarto trimestre, já aparecem alguns sinais de um pouco mais de recuperação da indústria.

A confiança do setor, medida pela Fundação Getulio Vargas (FGV), cresceu em outubro e em novembro, primeiros resultados positivos neste ano.

Por outro lado, a confiança do consumidor não mostrou ímpeto neste período, recuando 1,5 por cento no mês passado ao menor nível desde 2009.

Segundo o IBGE, o consumo das famílias recuou no trimestre passado 0,3 por cento, marcando três períodos seguidos sem crescer e o pior desempenho desde o quatro trimestre de 2008 (-2 por cento).

Na comparação anual houve expansão de apenas 0,1 por cento. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que está deixando o cargo, a economia brasileira está em processo de retomada "em ritmo ainda modesto".

Em nota, Mantega disse que o crédito "começa a dar sinais de melhora", mas reclamou que "ainda está aquém do necessário para levar a taxa de crescimento do consumo das famílias para uma situação de normalidade".

"Tecnicamente saímos da recessão. Mas na realidade, é uma estagnação. A expectativa é crescer um pouco mais que zero este ano, mas a questão é que isso é bem menos do que é razoável para nosso país", afirmou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.

A projeção na pesquisa Focus do Banco Central, que ouve semanalmente economistas de instituições financeiras, é de que o PIB crescerá neste ano apenas 0,20 por cento. Se confirmado, será o pior desempenho desde a contração de 0,33 por cento vista em 2009.

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