Bolsonaro diz que nova CPMF derrubou Cintra; Guedes defendia o imposto
Secretário da Receita teria sido afastado por defender um imposto sobre transações financeiras que o ministro da Economia também vem defendendo publicamente
João Pedro Caleiro
Publicado em 11 de setembro de 2019 às 18h24.
Última atualização em 11 de setembro de 2019 às 20h14.
São Paulo - O presidente Jair Bolsonaro publicou nesta quarta-feira (11) em sua conta no Twitter que o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, caiu por causa da "tentativa de recriar CPMF " e divergências na reforma tributária.
No Facebook, ele disse ainda que "a PEC (sem CPMF) só deveria ter sido divulgada após o aval do presidente da República e do ministro da Economia".
Cintra, que fez parte da equipe de transição e, antes disso, já colaborava com Paulo Guedes na elaboração do programa de governo de Bolsonaro, defende a ideia de um imposto único sobre transações financeiras há pelo menos três décadas.
A sua saída vem um dia após seu adjunto, Marcelo Silva, ter detalhado em evento público em Brasília as alíquotas que o governo estaria pretendendo propor para o tributo e também a estratégia para encaminhar a reforma no Congresso.
No entanto, eles não eram os únicos membro do governo que apoiavam publicamente um novo imposto nos moldes da antiga CPMF.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, vinha dizendo que o imposto é "horroroso", mas ainda assim melhor do que os encargos trabalhistas que poderia substituir.
"O Imposto sobre Transações Financeiras (ITF) é feio, é chato, mas arrecadou bem e por isso durou 13 anos", disse o ministro em entrevista para o Valor Econômico publicada na segunda-feira (09).
Em evento de EXAME no final de agosto, Guedes falou nos mesmos três pilares da reforma tributária que vinham sendo expostos por Cintra, sempre destacando que a escolha final era do Congresso.
Sobre o imposto de transações financeiras, reconheceu que a ideia é controversa, que iria “ter um barulhinho” e que ele está acontecendo desde a campanha.
Em 19 de setembro de 2018, a Folha de São Paulo divulgou que Guedes, então coordenador econômico da campanha de Bolsonaro, havia mencionado a ideia em uma reunião privada com investidores em São Paulo.
O presidente negou a possibilidade de forma veemente na época e em várias ocasiões até o início deste mês, quando mudou o tom em entrevista para a Folha de São Paulo no último dia 03:
"Já falei para o Guedes: para ter nova CPMF, tem que ter uma compensação para as pessoas. Se não, ele vai tomar porrada até de mim", disse Bolsonaro.