Bicicleta do Brasil pode quebrar, diz ministro do TCU
Augusto Nardes disse que adiamentos concedidos para processo sobre Dilma foram para evitar questionamento em instâncias superiores
João Pedro Caleiro
Publicado em 31 de agosto de 2015 às 12h55.
São Paulo – Augusto Nardes, ministro do Tribunal de Contas da União ( TCU ), comparou hoje a situação brasileira com a do seu estado, o Rio Grande do Sul, que vive uma crise nas contas públicas.
“Lá não tem como pedalar mais. E se não fizermos alguma coisa no Brasil, a bicicleta também pode quebrar”.
A declaração foi no evento EXAME Fórum , realizado nesta segunda-feira no Hotel Unique, em São Paulo. O vice-presidente Michel Temer, o juiz Sérgio Moro e o ministro da Fazenda Joaquim Levy também participam.
Nardes comentou o processo que corre no TCU para avaliar as contas do governo em 2014. Disse que são 15 pontos em questionamento e que tão ou mais importante do que as chamadas "pedaladas" é a questão do contingenciamento de despesas não ter sido cumprido - porque isso é responsabilidade direta da presidência e não pode ser atribuído a ministros.
Ele preferiu não entrar no mérito do argumento de que as pedaladas são uma prática comum e disse que os adiamentos concedidos para o governo dar mais explicações têm como objetivo evitar questionamentos em instâncias superiores - possibilidade aventada pela Advocacia Geral da União (AGU).
Nardes também respondeu sobre os problemas de imagem do TCU e a crítica de que os ministros são controlados por políticos:
“Se compararmos às demais cortes do país, como o STJ ou o STF, a nossa escolha talvez seja a mais democrática. No nosso caso, acabou aquela história de indicação e de articulação”.
Contas públicas
A palestra de Nardes teve foco nas dificuldades de equilibrar as contas públicas diante de questões como o envelhecimento populacional e a competitividade estagnada.
“Daqui a 15 anos não teremos como pagar essa conta. E se não continuarmos crescendo – como não estamos - não teremos como pagar nem em um curtíssimo espaço”.
Nardes elogiou os últimos protestos contra o governo – “são pessoas que amam este país” – e bateu na tecla de que para a “empresa Brasil” entregar seu “produto” é preciso melhorar a gestão e usar mais o princípio da meritocracia.
Colocou o TCU como “uma das instituições que podem mudar este país” e disse que seu papel é mostrar para onde estão indo os impostos olhando não apenas para a lei mas para o cenário geral:
“Nós não somos governo, nós somos auditores e temos que ter uma visão macro. A legalidade dos atos é importante, mas [precisamos] ter a visão do conjunto e da preservação das empresas e da sociedade como um todo”.
Usando uma imagem de bússola quebrada, Nardes disse que o país corre o risco de ter previsões sem credibilidade. A referência usada foi a Argentina – onde os números de inflação foram objeto de condenação pública do FMI e passaram a ser desconsiderados.
Nesse sentido, disse que vê como positiva a iniciativa do governo, revelada ontem pelo senador Delcídio Amaral, de deixar claro na sua proposta de Orçamento a previsão de um déficit primário em 2016:
“Tem que mostrar a realidade. Nós não podemos continuar pedalando – porque a Grécia teve a Europa que a salvou, e nós não temos uma Europa para salvar o Brasil. Temos todas as condições para resolver a crise, mas temos que radicalizar o diálogo interno e cada instituição tem que fazer a sua parte. A minha é mostrar a realidade das contas”.
São Paulo – Augusto Nardes, ministro do Tribunal de Contas da União ( TCU ), comparou hoje a situação brasileira com a do seu estado, o Rio Grande do Sul, que vive uma crise nas contas públicas.
“Lá não tem como pedalar mais. E se não fizermos alguma coisa no Brasil, a bicicleta também pode quebrar”.
A declaração foi no evento EXAME Fórum , realizado nesta segunda-feira no Hotel Unique, em São Paulo. O vice-presidente Michel Temer, o juiz Sérgio Moro e o ministro da Fazenda Joaquim Levy também participam.
Nardes comentou o processo que corre no TCU para avaliar as contas do governo em 2014. Disse que são 15 pontos em questionamento e que tão ou mais importante do que as chamadas "pedaladas" é a questão do contingenciamento de despesas não ter sido cumprido - porque isso é responsabilidade direta da presidência e não pode ser atribuído a ministros.
Ele preferiu não entrar no mérito do argumento de que as pedaladas são uma prática comum e disse que os adiamentos concedidos para o governo dar mais explicações têm como objetivo evitar questionamentos em instâncias superiores - possibilidade aventada pela Advocacia Geral da União (AGU).
Nardes também respondeu sobre os problemas de imagem do TCU e a crítica de que os ministros são controlados por políticos:
“Se compararmos às demais cortes do país, como o STJ ou o STF, a nossa escolha talvez seja a mais democrática. No nosso caso, acabou aquela história de indicação e de articulação”.
Contas públicas
A palestra de Nardes teve foco nas dificuldades de equilibrar as contas públicas diante de questões como o envelhecimento populacional e a competitividade estagnada.
“Daqui a 15 anos não teremos como pagar essa conta. E se não continuarmos crescendo – como não estamos - não teremos como pagar nem em um curtíssimo espaço”.
Nardes elogiou os últimos protestos contra o governo – “são pessoas que amam este país” – e bateu na tecla de que para a “empresa Brasil” entregar seu “produto” é preciso melhorar a gestão e usar mais o princípio da meritocracia.
Colocou o TCU como “uma das instituições que podem mudar este país” e disse que seu papel é mostrar para onde estão indo os impostos olhando não apenas para a lei mas para o cenário geral:
“Nós não somos governo, nós somos auditores e temos que ter uma visão macro. A legalidade dos atos é importante, mas [precisamos] ter a visão do conjunto e da preservação das empresas e da sociedade como um todo”.
Usando uma imagem de bússola quebrada, Nardes disse que o país corre o risco de ter previsões sem credibilidade. A referência usada foi a Argentina – onde os números de inflação foram objeto de condenação pública do FMI e passaram a ser desconsiderados.
Nesse sentido, disse que vê como positiva a iniciativa do governo, revelada ontem pelo senador Delcídio Amaral, de deixar claro na sua proposta de Orçamento a previsão de um déficit primário em 2016:
“Tem que mostrar a realidade. Nós não podemos continuar pedalando – porque a Grécia teve a Europa que a salvou, e nós não temos uma Europa para salvar o Brasil. Temos todas as condições para resolver a crise, mas temos que radicalizar o diálogo interno e cada instituição tem que fazer a sua parte. A minha é mostrar a realidade das contas”.