Economia

Belo Horizonte

A aposta nos cérebros

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h03.

O que uma cidade deve fazer quando se esgotam as áreas capazes de abrigar novos empreendimentos de grande porte? Apostar no saber. Essa é a receita de Belo Horizonte, que enfrenta o problema da escassez de terrenos há cerca de cinco anos. Desde então, parte importante do crescimento econômico da capital mineira vem sendo obtida da transformação das idéias nascidas nas universidades locais em produtos e serviços de alta tecnologia. Estima-se que a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) responda por 5% dos novos conhecimentos gerados no país. Informática, eletrônica e a área de metalurgia se destacam até em nível internacional. Mas o forte da UFMG é mesmo a biotecnologia.

Ainda que com um minúsculo orçamento, o laboratório de virologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), onde trabalham 160 de 1,2 mil doutores da UFMG, já patenteou nos Estados Unidos, na Austrália e na Europa um teste para diagnóstico da anemia eqüina. "O mercado para esse produto é potencialmente muito grande, pois eqüinos existem em toda parte", diz Paulo César Peregrino, diretor do laboratório. Em breve, outro produto desenvolvido ali deverá receber patente internacional. É o Interferon Beta, um antiviral que bloqueia o crescimento de tumores cancerígenos. O mercado mundial desse produto é de 1 bilhão de dólares anuais. "A UFMG aguarda a aprovação de 57 pedidos de patentes no Brasil e de nove no exterior. Cerca de 30 são da área de biotecnologia", diz Paulo Sérgio Beirão, pró-reitor de pesquisas da UFMG.

Por isso a UFMG tende a ver reforçado o seu papel de principal centro de referência dos laboratórios farmacêuticos brasileiros. Em troca de royalties, a universidade pretende licenciar aqueles com capacidade para levar os produtos da fase piloto para a escala industrial. Na verdade, dificilmente eles terão alternativa melhor do que se instalar em Belo Horizonte. Além da Fundação Biominas, mantenedora da única incubadora de empresas do país especializada na área, a cidade já abriga o maior cluster de biotecnologia da América Latina. "A filosofia de um cluster é que as empresas, sem deixar de competir, cooperem entre si", diz Patrícia Mascarenhas, presidente da Biominas. Em Belo Horizonte e região, já são mais de 60 empresas que, nascidas ao redor da infra-estrutura da UFMG, faturaram cerca de 400 milhões de reais no ano 2000.

Elas contribuíram para elevar ainda mais o potencial de consumo da cidade - 8,3 bilhões de dólares, o terceiro maior do país. Atualmente com 2,2 milhões de habitantes, Belo Horizonte mantém-se na posição de 6a melhor cidade brasileira para negócios. Nos últimos tempos, a cidade perdeu os ares provincianos e ganhou problemas muito parecidos com os dos grandes centros. A frota, de 660 mil veículos, e outros fatores são um obstáculo à mobilidade. Embora o trânsito local ainda não tenha engarrafamentos iguais aos de São Paulo, eles já são habituais e quilométricos, afetando a vida das pessoas e atrapalhando os negócios.

"Só vamos resolver essa questão com o anel rodoviário", diz Nyssio Ferreira Luz, presidente do Instituto Brasileiro de Logística (Ibralog). O custo do anel está estimado em 600 milhões de dólares, o que tem assustado os políticos da capital. A falta do anel, que ligará Betim à região de Confins e desafogará Belo Horizonte, talvez já tenha conseqüências: a inibição de novos empreendimentos. No ano passado, Belo Horizonte recebeu 340 milhões de dólares de investimentos. No primeiro semestre de 2001, o ritmo caiu vertiginosamente: foram anunciados somente 44 milhões de dólares. Sem o anel rodoviário, que bem planejado será um agente de desenvolvimento, não haverá como ordenar o crescimento futuro da região metropolitana.

Isso significa falta de planejamento, que acaba prejudicando a população da cidade e as empresas. "Desaprovo a maneira como o crescimento de Belo Horizonte está se dando", diz a urbanista Jurema Rugani, diretora de cidades do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), seção Minas Gerais. "Espigões em bairros como o Belvedere são um absurdo. Se são bons para os negócios, são também uma ameaça às reservas de água da cidade." Sinai Waisberg, dono da Ersiwa, empresa que atua como gerente do Belvedere, um projeto do grupo BMG, não concorda: "Os mil apartamentos do Belvedere formam o melhor bairro de BH". Waisberg quer tornar a região ainda mais atrativa e assim criar condições para que os últimos lotes disponíveis recebam cerca de 500 novos apartamentos.

Como a cidade já não tem áreas livres para empreendimentos desse tamanho, as cidades vizinhas estão começando a ser mais valorizadas. O próprio grupo BMG lançou o bairro Cabral, de mais de mil lotes, na divisa de Contagem com Belo Horizonte. A cerca de 35 quilômetros dali está localizado o Aeroporto de Confins, transformado em aeroporto industrial. A idéia é, com incentivos fiscais e tratamento alfandegário diferenciado, atrair indústrias para a enorme área ociosa do aeroporto, também subutilizado no transporte de passageiros.

Mas Nova Lima, uma vizinha do Belvedere, parece ser a bola da vez. Ali, a Minerações Brasileiras Reunidas é proprietária da mina de ferro de Águas Claras. Já a Mineração Morro Velho é dona da Mina Grande, de exploração de ouro. Uma e outra estão se esgotando. Induzidas pela prefeitura de Nova Lima, as mineradoras lançarão condomínios empresariais nas áreas das minas a ser desativadas. É investimento para mais de 300 milhões de dólares. "Será a nossa segunda safra do ouro", diz Waldir Salvador, consultor da prefeitura de Nova Lima. Ao todo, até 2010 Nova Lima espera receber 2 bilhões de reais em investimentos.

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