Guedes: "Os bancos centrais devem mostrar determinação inabalável na luta contra a inflação", diz Guedes, em carta ao Fundo Monetário Internacional (Washington Costa/ASCOM/ME/Flickr)
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de outubro de 2022 às 16h49.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, reforçou nesta terça-feira o coro para que bancos centrais atuem de forma decisiva na luta contra a escalada da inflação. Após atrasos, conforme ele, a política monetária está sendo apertada de forma mais rápida nos países desenvolvidos, o que deve causar uma desaceleração econômica à frente e eleva os riscos de recessão global.
"Os bancos centrais devem mostrar determinação inabalável na luta contra a inflação", diz Guedes, em carta ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
De acordo com ele, a economia global está começando a sentir o impacto de condições financeiras mais apertadas, com as projeções de crescimento sendo revisadas para baixo na maioria das regiões. Mais cedo, o próprio FMI anunciou corte em sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) global em 2023 e passou a prever recessão na Alemanha e na Itália no próximo ano.
Ele alerta para um "aumento significativo" dos riscos de dificuldades financeiras nos mercados de crédito doméstico e internacional no cenário atual. Do outro lado, afirma, a pandemia e a guerra na Ucrânia geraram gargalos de abastecimento afetando o setor real, com impacto, principalmente, por meio de aumentos de preços de alimentos e energia.
Nesse cenário, os bancos centrais devem continuar a normalizar a política monetária e manter os juros acima das taxas neutras por um período prolongado, conforme o ministro. "O aperto monetário antecipado pode ser necessário para alinhar as expectativas e quebrar a inércia, especialmente nas economias onde as expectativas de salários e preços são mais retrógradas", sugere.
O ministro brasileiro se diz ainda cético quanto à visão de que as margens de lucro possam absorver grande parte das pressões sobre salários. Para ele, a política fiscal deve ser consistente com o aperto monetário, sem deixar de lado o apoio aos mais vulneráveis.
"Desequilíbrios fiscais persistentes podem alimentar as pressões inflacionárias e dificultar ainda mais o trabalho dos bancos centrais", afirma o ministro brasileiro.
Guedes também reforçou outro alerta de organismos mundiais, que têm apontado para os maiores riscos de instabilidade financeira diante da desaceleração econômica e de condições financeiras mais apertadas. Além disso, vê riscos maiores de recessão global embora não seja esse o cenário do FMI.
Veja também:
Economista-chefe do BCE fala em novos aumentos de juros para controle de inflação
FMI aumenta para 3,5% a previsão de crescimento da América Latina em 2022