Agência do Banco do Brasil: segundo fontes, banco oferece liquidez diária a seus clientes mais exclusivos (Adriano Machado/Bloomberg News)
Da Redação
Publicado em 4 de novembro de 2014 às 21h58.
Os bancos do governo federal estão arrebatando clientes ricos dos principais gestores de fortunas ao oferecer papéis de baixo risco com retornos imbatíveis.
O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal são os maiores emissores de títulos isentos de impostos que estão vinculados a empréstimos de agronegócios e a hipotecas.
Em 30 de setembro, a emissão aumentou 50 por cento em relação ao ano anterior, totalizando R$ 285,3 bilhões (US$ 114 bilhões), segundo dados compilados pela BM&FBovespa e pela Cetip.
“Uma grande quantidade de dinheiro, bilhões e bilhões de reais, abandonou os investimentos de longo prazo, como as ações, e passou para esses papéis isentos de impostos”, disse Paulo Bilyk, diretor de investimentos da Rio Bravo Investimentos, que administra R$ 10 bilhões, em entrevista, em São Paulo.
“É lá que o dinheiro está estacionado. É um estacionamento fácil com as altas taxas de juros”.
Os papéis oferecem retornos líquidos anuais de até 9,9 por cento, melhores do que qualquer outro título local com renda fixa e do que 34 dos 35 fundos analisados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) para os 12 meses até 30 de setembro.
Apenas um fundo multimercado apresentou um retorno comparável aos papéis, embora os investidores desse fundo corram o risco de perder o principal investido, o que só ocorreria com os títulos isentos de impostos se o banco emissor não realizasse o pagamento.
Os títulos, que em sua maioria possuem taxas de juros flutuantes, são chamados de Letras de Crédito do Agronegócio quando estão vinculados a empréstimos desse setor e Letras de Crédito Imobiliário quando são lastreados por crédito a esse setor.
Taxas mais altas
A preocupação de que a economia continue estagnada durante o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, que foi reeleita no mês passado, levou muitos investidores a buscar títulos menos arriscados neste ano.
Os títulos com taxas flutuantes se tornaram mais atraentes, pois as taxas de juros brasileiras subiram neste ano.
No dia 29 de outubro, o Banco Central elevou a taxa de juros de referência em 25 pontos-base, o equivalente a 0,25 ponto porcentual, para 11,25 por cento, a fim de controlar a inflação, que chegou a 6,75 por cento em setembro.
“Estamos diversificando a nossa base de clientes para reduzir o nosso risco de financiamento e para dar à Caixa mais sustentabilidade econômica e financeira”, disse Marcio Percival, diretor financeiro do banco sediado em Brasília, em entrevista por telefone.
Ele disse que as LCIs são uma fonte prática e barata de financiamento, que garante retornos mais altos para o crédito imobiliário do banco. A Caixa é o banco líder em crédito imobiliário no Brasil, com uma participação de 68 por cento do mercado no dia 30 de junho.
Retorno líquido
Clientes com mais de R$ 10 milhões para investir podem receber até 96 por cento da taxa de juros interbancária, o DI, em títulos vendidos por ambos os bancos, de acordo com quatro fontes que solicitaram anonimato porque as operações são confidenciais.
Isso gera um retorno líquido de 9,9 por cento até o dia 30 de setembro. O Banco do Brasil oferece liquidez diária a seus clientes mais exclusivos, disseram três das fontes.
Para os investidores, o principal risco é o crédito do emissor que, no caso do Banco do Brasil e da Caixa é quase equivalente ao do governo federal, pois as companhias são estatais.
A Caixa e o Banco do Brasil têm os mesmos ratings de moeda estrangeira no longo prazo que o governo brasileiro: Baa2 da Moody’s Investors Service e BBB- da Standard Poor’s.
Receita perdida
A isenção de impostos para as LCAs e as LCIs representa por ano R$ 5,8 bilhões em perda de receita para o governo, de acordo com dados compilados pela Bloomberg com base em um retorno de 9 por cento e em 22,5 por cento de imposto de renda.
O crescimento desses títulos como uma fonte de financiamento para os bancos também tem um impacto sobre a base monetária, pois esses papéis não têm depósitos compulsórios.
No Brasil, os papéis tradicionais dos bancos, chamados Certificados de Depósito Bancário (CDBs), têm depósito compulsório de 20 por cento.
O total dos CDBs em circulação caiu 7 por cento, para R$ 557,9 bilhões, nos 12 meses até setembro, de acordo com a BM&FBovespa e a Cetip.
“Esses títulos isentos de impostos são ferramentas muito importantes para financiar programas habitacionais e vão continuar crescendo nos próximos meses e anos”, disse Percival, da Caixa.