Economia

Bancos centrais exageram e alimentam desigualdade, diz Citi

O dinheiro injetado na economia pela compra de títulos "acaba nas mãos daqueles com menor propensão a gastar", diz nota do banco. Entenda o porquê


	Ilustração mostra o presidente do BCE, Mario Draghi, entrando pelo cano em uma alusão ao jogo Super Mario
 (Beatriz Blanco/EXAME.com)

Ilustração mostra o presidente do BCE, Mario Draghi, entrando pelo cano em uma alusão ao jogo Super Mario (Beatriz Blanco/EXAME.com)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 8 de setembro de 2016 às 19h40.

São Paulo - "Por favor não compre tantos títulos, senhor banqueiro central".

Esse é o resumo de uma nota recente do Citi assinada pelo estrategista Hans Lorenzen e enviada para investidores.

Desde a crise financeira de 2008, os bancos centrais tem expandido seus balanços e com isso injetaram trilhões de dólares na economia global.

A parte boa é que isso conseguiu diminuir as taxas de juros, conter a incerteza e causar um efeito riqueza nos níveis de consumo e nos preços dos ativos.

O que Lorenzen argumenta é que tudo que é bom estraga quando é feito em excesso - e que o custo marginal dessa política está ficando alto demais.

O crescimento continua medíocre, a inflação muito baixa no mundo desenvolvido, e os incentivos de mercado e a alocação de recursos têm sido distorcidos.

As ações das empresas perderam a relação histórica que tinham com rendimentos e agora dependem muito mais dos fundamentos macroeconômicos (ou do nível de estímulo esperado).

"Cada volta e reviravolta hoje depende das palavras de um banqueiro central", diz Lorenzen. As taxas estão baixíssimas "e os efeitos colaterais estão se acumulando".

Um deles é o estímulo ao endividamento; outro é que os fundos de pensão têm tido dificuldade de rentabilizar as contribuições para o futuro, o que está causando déficits crescentes.

Além disso, o que é injetado no mercado acaba fluindo não para salários e sim para dar retorno a quem já tem dinheiro investido, alimentando a desigualdade.

"O relaxamento quantitativo [programa de compra de ativos] acaba nas mãos daqueles com menor propensão a gastar", diz Lorenzen, e isso reduz a demanda agregada.

O custo da dívida é barato, mas como os preços não sobem, é difícil prever retornos grandes no futuro.

Some a isso muita capacidade ociosa e produtividade estagnada, outro mistério econômico da nossa era, e você entende porque ninguém quer mais investir.

O foco das empresas acaba sendo em cortar custos (o que não estimula a economia) e/ou distribuir dividendos (mais um benefício para os mais ricos).

Enquanto isso, os bancos sofrem com a queda das suas ações nesse cenário, especialmente na Europa. Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, não titubeou hoje ao comentar a manutenção de suas políticas.

"Taxas de juros baixas não devem ser usadas como justificativa para tudo que vai errado com os bancos (...) Precisamos ser pacientes. As taxas precisam ficar baixas para a recuperação econômica se firmar, o que no final terá um efeito positivo também nos balanços dos bancos. As taxas de juros precisam ser baixas hoje para serem altas amanhã."

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