Sede do Banco Central do Brasil, em Brasília (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Alessandra Azevedo
Publicado em 27 de outubro de 2021 às 18h38.
Última atualização em 27 de outubro de 2021 às 18h44.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira, 27, um aumento mais agressivo na taxa básica de juros. A Selic passa de 6,25% ao ano para 7,75% ao ano, alta de 1,5 ponto percentual, e atinge o maior patamar em quatro anos.
O mercado já previa alta, mas ainda havia dúvidas sobre o patamar que seria estipulado, diante dos riscos fiscais e do aumento insistente da inflação. Em geral, as estimativas variavam entre alta de 1 ponto percentual, sinalizada na última ata do Copom, e alta de 1,5 p.p.. Desde 2002, o BC não elevava os juros no patamar de 1,5 ponto percentual.
"Neste momento, o cenário básico e o balanço de riscos do Copom indicam ser apropriado que o ciclo de aperto monetário avance ainda mais no território contracionista", diz comunicado do Copom. Para a próxima reunião, "o comitê antevê outro ajuste da mesma magnitude".
O aumento de 1,5 p.p. acontece em meio a um cenário fiscal conturbado, com expectativa de que o teto de gastos seja furado para acomodar o novo Auxílio Brasil. A possibilidade de que o governo desrespeite a regra fiscal que limita o aumento de gastos à inflação do ano anterior tem sido repetida pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
O risco fez com que economistas revisassem as estimativas para alta acima de 1 ponto percentual nos últimos dias. De acordo com o último boletim Focus, a previsão do mercado é de que a Selic termine o ano em 8,75% e chegue a 9,25% até o fim de 2022. No começo do governo Bolsonaro, a taxa de juros estava a 6,5% ao ano.
Além disso, a inflação continua subindo. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nesta terça-feira, 26, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de outubro, com alta de 1,2% na comparação com setembro deste ano. Foi a maior variação para o mês desde 1995 (1,34%) e a maior variação mensal desde fevereiro de 2016 (1,42%).
"Apesar do desempenho mais positivo das contas públicas, o Comitê avalia que recentes questionamentos em relação ao arcabouço fiscal elevaram o risco de desancoragem das expectativas de inflação, aumentando a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário básico", diz o comunicado.
De acordo com o boletim Focus mais recente, a inflação deve chegar a 8,96% neste ano e a 4,40% no ano que vem. A meta de inflação em 2021 é de 3,75%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais (5,25%) e para menos (2,25%), mas o Banco Central já admite, desde setembro, que a probabilidade de estouro da meta é de praticamente 100%.
No comunicado, o Copom afirma que "a inflação ao consumidor continua elevada. A alta dos preços veio acima do esperado, liderada pelos componentes mais voláteis".