Economia

Ata do Copom: riscos fiscais e expectativas de inflação desancoradas podem prolongar alta de juros

Segundo a ata, percepção dos agentes sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal tem impactos sobre preços de ativos e as expectativas

Diretores do Banco Central (BC) reunidos em Brasília para mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ( Raphael Ribeiro/BCB/Flickr)

Diretores do Banco Central (BC) reunidos em Brasília para mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) ( Raphael Ribeiro/BCB/Flickr)

Antonio Temóteo
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 12 de novembro de 2024 às 08h46.

Última atualização em 12 de novembro de 2024 às 08h49.

Tudo sobreCopom
Saiba mais

Os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) afirmaram que uma deterioração adicional das expectativas de inflação pode levar a um prolongamento do ciclo de alta de juros. Na última reunião, o colegiado ele vou a Selic para 11,25% e sinalizou novas altas da taxa. Além disso, os diretores do Banco Central (BC) alertaram que a percepção dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal tem impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas. Os alertas estão presentes na ata do Copom, divulgada nesta terça-feira, 12.

"Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária", informou o BC, na ata.

Para os membros do Copom, a visão de esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade.

"A conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada", informou o BC. Na prática, esses três fatores pressionam a inflação.  

Inflação desafiadora

Os membros do Copom que a que o cenário de curto prazo para a inflação se mostra mais desafiador. Segundo os diretores do BC, os preços dos alimentos estão pressionados por diversos fatores, dentre eles a estiagem observada ao longo do ano.

Além disso, o encarecimento do dólar tem pressionado os preços dos bens industrializados, o que sugere maior aumento no custo desses componentes nos próximos meses.

Por fim, os membros do Copom afirmaram que a inflação de serviços, que tem maior inércia, segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta em contexto de atividade dinâmica.

"De fato, tem-se observado uma interrupção no processo desinflacionário, refletindo a redução de força dos diversos fatores que vinham contribuindo para a desinflação. Novamente, enfatizou-se que o mercado de trabalho, o hiato do produto e as expectativas de inflação assumem papel muito relevante para a dinâmica desinflacionária de médio prazo", informou o BC.

Acompanhe tudo sobre:CopomJurosSelicBanco CentralNovo arcabouço fiscalDívida pública

Mais de Economia

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor

Opinião: nem as SAFs escapam da reforma tributária

Lula diz que governo e Congresso não gostam de cortes, mas que medidas são importantes