Sala VIP do Safra no Terminal 3 em Guarulhos inaugura hoje (Germano Lüders/Exame)
Editor de Macroeconomia
Publicado em 6 de dezembro de 2023 às 14h19.
O final de ano se aproxima e, com ele, o planejamento de viagens de muitos brasileiros — e por todo o mundo. E a primeira pergunta que vem à mente é: o preço das passagens aéreas seguirá tão alto? Um relatório da Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), divulgado nesta quarta-feira, 6, mostra que — infelizmente — a tendência é que as tarifas aéreas sigam nos mesmos patamares desse ano.
No relatório, a associação destacou que os consumidores podem esperar que as tarifas aéreas continuem a acompanhar os custos crescentes, especialmente os do petróleo. "No entanto, os dados da IATA mostram que a concorrência continua a proporcionar benefícios de preço para os consumidores. A média real das tarifas aéreas de retorno em 2023 é esperada ser de $254, o que representa uma redução de 20% em relação à tarifa média de $315 em 2019 (medida em dólares constantes de 2018)", diz trecho do documento.
Segundo o diretor-geral da IATA, Willie Walsh, a rentabilidade do transporte aéreo segue fraca na comparação com outros setores, com um lucro médio por passageiro de apenas 5,45 dólares (26 reais). E os custos seguirão inflacionados pelos preços dos combustíveis: em 2024, a conta de querosene no setor deve ser de 281 bilhões de dólares (1,39 trilhão de reais), o que representa 31% das despesas operacionais. A IATA considera um preço do barril de petróleo a 113,8 dólares em 2024 (559 reais) — em 2019, era de 79,7 dólares (321 dólares na cotação da época).
Walsh avalia que, embora a recuperação do setor aéreo seja "impressionante" desde a pandemia, a margem de lucro líquido, de 2,7%, está muito abaixo do que os investidores em praticamente qualquer outra indústria aceitariam.
"Claro, muitas companhias aéreas estão se saindo melhor que essa média, e muitas estão enfrentando dificuldades. Mas há algo a ser aprendido do fato de que, em média, as companhias aéreas retêm apenas $5,45 para cada passageiro transportado. Isso é mais ou menos suficiente para comprar um 'grande latte' básico em um Starbucks de Londres. No entanto, é muito pouco para construir um futuro resiliente a choques para uma indústria global crítica na qual 3,5% do PIB depende e da qual 3,05 milhões de pessoas ganham sua subsistência diretamente", disse Walsh. "As companhias aéreas sempre competirão ferozmente por seus clientes, mas ainda estão sobrecarregadas por regulamentações onerosas, fragmentação, altos custos de infraestrutura e uma cadeia de abastecimento povoada por oligopólios."
Depois de alguns anos afetadas pela pandemia, as companhias aéreas esperam transportar em 2024 um "recorde histórico" de 4,7 bilhões de passageiros no mundo, superando os 4,54 bilhões de 2019, antes da crise de saúde.
A partir de 2023, as companhias aéreas superaram os efeitos da covid-19 em suas contas e saíram do vermelho, com ganhos líquidos acumulados em 23,3 bilhões de dólares (115 bilhões de reais), segundo a IATA. Em 2024, devem "estabilizar" em cerca de 25,7 bilhões de dólares (127 bilhões de reais).
Em relação ao faturamento, o setor deve alcançar no próximo ano um nível sem precedentes de 964 bilhões de dólares (4,73 trilhões de reais), acima dos 896 bilhões (4,43 trilhões de reais) estimados para 2023 e os 838 bilhões (3,37 trilhões de reais na época) registrados em 2019.
Mas o panorama é diferente de acordo com a região: os lucros das companhias dos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio ficarão estáveis em 2024. Em déficit em 2023, as companhias da Ásia-Pacífico também sairão do vermelho em 2024.
Segundo a IATA, as empresas africanas e sul-americanas continuarão em déficit por mais um ano.
As companhias áreas estão entre os setores econômicos mais afetados pela crise sanitária, devido ao fechamento de fronteiras e restrições de mobilidade. Entre 2020 e 2022 acumularam perdas de cerca de 183 bilhões de dólares (906 bilhões de reais). "Dadas as perdas massivas dos últimos anos", os lucros esperados em 2024 "ilustram a resistência do setor aéreo", afirmou, que celebrou "o ritmo extraordinário da recuperação", de acordo com a IATA.
No entanto, "parece que a pandemia custou ao setor quatro anos de crescimento", apontou Walsh à imprensa na sede da organização em Genebra, na Suíça.
"A partir de 2024, as previsões mostram que podemos esperar trajetórias de crescimento mais normais, tanto em relação aos passageiros quanto às cargas", diz o diretor-geral.
O transporte de mercadorias perdeu rentabilidade. Seu faturamento deve alcançar 111 bilhões de dólares (549 bilhões de reais) em 2024, contra 210 bilhões em 2021 (1,17 trilhão de dólares na cotação da época), ainda acima dos 101 bilhões em 2019 (407 bilhões de reais na cotação da época).
Em transporte de passageiros, a forte recuperação de 2023 levou a uma alta dos preços das passagens, já que a demanda por viagens foi superior à capacidade das companhias, afetadas por entregas atrasadas de aeronaves e outras dificuldades operacionais.
A tendência deve perder força em 2024, mas sem chegar a se inverter, afirma a IATA. As taxas de ocupação dos aviões já voltaram aos níveis pré-pandemia. Porém, Walsh destacou que a rentabilidade do transporte aéreo é fraca em comparação a outros setores, com um lucro médio por passageiro de apenas 5,45 dólares (26 reais).
Segundo estas previsões, reveladas em plena cúpula climática da COP28, as companhias aéreas devem consumir 374 bilhões de litros de combustível em 2024, o que emitirá 939 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera. O transporte aéreo representa menos de 3% das emissões globais de CO2, mas é frequentemente destacado porque só é utilizado por uma minoria da população mundial.
O setor se comprometeu a chegar a "zero emissões líquidas" de CO2 até 2050.
Com a rentabilidade em xeque, trata-se de mais um obstáculo ao setor de transporte aéreo. Enquanto isso, o jeito é se planejar para comprar as — ainda — caras passagens aéreas.