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Argentina em moratória: maior recessão e inflação em alta

De acordo com os últimos dados oficiais disponíveis, o produto interno bruto (PIB) argentino se contraiu 0,2% no primeiro trimestre

Quanto maior a duração e o alcance da cessação de pagamentos, maior será a intensidade dos impactos (Agustin Marcarian/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 16 de agosto de 2014 às 15h35.

Buenos Aires - A moratória seletiva surpreendeu a economia argentina sem a força de alguns anos atrás: problemas fiscais, contração na atividade e preços em alta já eram um dor de cabeça, mas, com o 'default', a previsão é que a situação vai piorar ainda mais.

Os indicadores de atividade já mostravam sinais de deterioração antes que o litígio em Nova York com os fundos abutres complicasse a Argentina no pagamento de compromissos a credores da dívida reestruturada.

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De acordo com os últimos dados oficiais disponíveis, o produto interno bruto (PIB) argentino se contraiu 0,2% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2013.

Muito antes desta nova crise de dívida, consultoras privadas previam que nem em sonhos se alcançaria este ano a meta orçamentária de expansão de 6,2% do PIB e que, pelo contrário, o crescimento seria magro e inclusive nulo, mas, com o novo cenário, se projetam quedas de até 3,5%.

'Com o default, vemos um cenário claramente mais complicado. O aumento do risco-país e a maior incerteza limitarão ainda mais o ingresso de financiamento externo enquanto a oferta dos exportadores cairia ainda mais porque se complicará o pré-financiamento', advertiu em um relatório a empresa de consultoria privada Analytica.

Sem possibilidade de retornar aos mercados internacionais, tudo faz prever um mercado cambial submetido a maior pressão, com um Banco Central com poder de fogo mais contido para manter estável a taxa de câmbio e, portanto, um ritmo de desvalorização previsivelmente mais acelerado.

'Além disso, o menor nível de atividade elevaria o déficit fiscal, forçando um maior financiamento com emissão do Banco Central, o que por sua vez exacerbaria as pressões cambiais e inflacionárias', opinou a empresa de consultoria Ecolatina em um recente relatório.

Se este cenário se concretizar, o Banco Central se veria forçado a intensificar o 'cerco cambial' e a subir as taxas de juros para evitar uma corrida cambial.

Ambas medidas, segundo a Ecolatina, impactariam 'negativamente sobre o processo produtivo, afetando a provisão de insumos importados e o acesso ao crédito a taxas de juros razoáveis'.

Em relação à taxa de câmbio oficial, a maior parte dos analistas acredita em uma correção para estimular as exportações e tentar diminuir a brecha de 60% entre o preço da moeda americana em bancos e casas de câmbio e o que se paga no mercado informal.

Com este panorama, a inflação, que tinha estacionado pouco acima de 2% mensal graças a um crescente atraso cambial, 'voltará a acelerar-se, aprofundando a queda dos salários reais e do consumo, que já vinha mostrado claras sinais de esfriamento', advertiu em um relatório o Banco Ciudad.

Assim, a taxa de inflação, que em 2013, de acordo com cálculos de consultoras, foi próxima a 30%, poderia escalar este ano até 40%, segundo projeções privadas.

Os especialistas advertem que quanto maior a duração e o alcance da cessação de pagamentos, maior será a intensidade dos impactos.

'À medida que passam os dias vai crescendo a probabilidade de um palco de prolongamento do default até 2015. Neste caso, se abre uma conjuntura de elevada incerteza para os próximos meses, associada aos possíveis caminhos e derivações que se desprendem do evento de default', comentou o gerente de Desenvolvimento de Negócios da empresa de consultoria de Abeceb, Juan Pablo Ronderos.

Entre as consequências, Ronderos ressaltou que os que estavam esperando ter mais claro o panorama para tomar suas decisões de investimento, produção e emprego serão mais 'conservadores', segurando desembolsos e transformando 'muitas suspensões trabalhistas em demissões'.

'Talvez a boa notícia é que, desta vez, o default encontra o sistema financeiro sólido, tendendo a ser um amortecedor e não um propagador da crise. Os bancos se encontram com liquidez e capital excedente, com uma baixíssima exposição ao setor público e cobertos perante uma possível desvalorização', concluiu o Banco Ciudad.

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